O trem-bala , um trem de alta velocidade (TAV) ligando Campinas, São Paulo e Rio, transita célere para se tornar uma dessas ideias que nunca saem da prancheta. Contar que seja inaugurado até 2014, para uso na Copa do Mundo, parece uma fantasia. Só quem ignora a complexidade do projeto pode imaginar que tal objetivo seja facilmente realizável.
A ferrovia faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento. Só em abril ficou pronto um novo estudo técnico, pelo menos o sexto desde os anos 1980. Previa de 8 a 10 milhões de passageiros por ano. O governo projetava custo de US$ 11 bilhões.
Agora já se fala em R$ 34,6 bilhões (US$ 21 bilhões). Ainda pode ser um valor subestimado, pois não há segurança sobre gastos contingenciais.
Não faltam imprevistos em empreendimentos como o TAV. A velocidade superior a 250 km/h exige muitos túneis, viadutos e curvas amplas. Nenhum investidor privado assumirá tal risco sem pesado subsídio oficial.
O último TAV a ser inaugurado no mundo, em Taiwan, liga as cidades de Taipei e Kaohsiung, em uma região de topografia desfavorável -como na divisa SP-RJ, com a serra das Araras. Levou sete anos para ser construído e custou US$ 18 bilhões, para 345 km. Transporta hoje um quarto dos 200 mil passageiros por dia previstos no projeto inicial.
Mesmo que o TAV nacional saísse por US$ 21 bilhões, o que especialistas consideram improvável, o valor bastaria para construir 170 km de metrô (quase três vezes a malha da capital paulista). Parece óbvio que é mais urgente completar as redes de metrópoles mal servidas de transporte público como São Paulo e Rio. O público de alto poder aquisitivo para o TAV já é servido pela ponte aérea.
Com tantos obstáculos, é de duvidar que o trem-bala deixe algum dia de ser um trem de papel.
Fonte: editorial do jornal Folha de S. Paulo (18/08/09)
e-mail: editoriais@uol.com.br
A ferrovia faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento. Só em abril ficou pronto um novo estudo técnico, pelo menos o sexto desde os anos 1980. Previa de 8 a 10 milhões de passageiros por ano. O governo projetava custo de US$ 11 bilhões.
Agora já se fala em R$ 34,6 bilhões (US$ 21 bilhões). Ainda pode ser um valor subestimado, pois não há segurança sobre gastos contingenciais.
Não faltam imprevistos em empreendimentos como o TAV. A velocidade superior a 250 km/h exige muitos túneis, viadutos e curvas amplas. Nenhum investidor privado assumirá tal risco sem pesado subsídio oficial.
O último TAV a ser inaugurado no mundo, em Taiwan, liga as cidades de Taipei e Kaohsiung, em uma região de topografia desfavorável -como na divisa SP-RJ, com a serra das Araras. Levou sete anos para ser construído e custou US$ 18 bilhões, para 345 km. Transporta hoje um quarto dos 200 mil passageiros por dia previstos no projeto inicial.
Mesmo que o TAV nacional saísse por US$ 21 bilhões, o que especialistas consideram improvável, o valor bastaria para construir 170 km de metrô (quase três vezes a malha da capital paulista). Parece óbvio que é mais urgente completar as redes de metrópoles mal servidas de transporte público como São Paulo e Rio. O público de alto poder aquisitivo para o TAV já é servido pela ponte aérea.
Com tantos obstáculos, é de duvidar que o trem-bala deixe algum dia de ser um trem de papel.
Fonte: editorial do jornal Folha de S. Paulo (18/08/09)
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