domingo, 9 de agosto de 2009

Viagem sem volta

Responda rápido: o que faz você comprar o produto de uma determinada marca? Qualidade, preço, serviço e outros atributos são cruciais na escolha. Há, contudo, um aspecto que se destaca diante de qualquer outro quesito. Trata-se da confiança, algo que não se conquista repentinamente, da noite para o dia, mas que pode ser perdida num único ato, em um instante. A agência de viagens Tia Augusta, com 35 anos de mercado, encontra-se nesse limiar entre a credibilidade acumulada nas últimas décadas e uma tragédia que culminou na morte da jovem Jacqueline.

Ruas, de apenas 15 anos, na madrugada do dia 2 de agosto. A adolescente fazia parte de um grupo que retornava de uma viagem de 12 dias a Orlando, nos Estados Unidos, e morreu em pleno voo de retorno ao Brasil. A notícia, por si só, já seria aterrorizante de qualquer modo. Mas ela veio de uma forma ainda mais dramática. Em entrevista ao jornal O Globo, Carla Soares de Faria, de 39 anos, mãe da jovem Fernanda, de 16 anos, afirmou que sua filha foi a primeira a sair da área de desembarque. "Ela veio correndo nos meus braços, desesperada, falando que a amiga tinha morrido. Todos os outros pais que estavam no local entraram em pânico", recorda. A história que se seguiu foi - e ainda é - recheada de dúvidas.

Jacqueline Ruas, de apenas 15 anos, foi para a Disney e morreu durante o voo de retorno ao Brasil. A agência de viagens Tia Augusta sobreviverá?

De acordo com a agência de viagens, Jacqueline já não estava bem em Orlando, onde teve sintomas de gripe e mal-estar. Lá, ela foi atendida no Hospital Celebration, dias antes do retorno ao Brasil, e fez exames diante da suspeita de ter contraído a gripe A(H1N1). O resultado teria dado negativo e os médicos liberaram a menina dizendo que era apenas uma pneumonia "leve". Acontece, entretanto, que ela não melhorou e continuou a passar mal. Colegas de quarto de Jacqueline afirmam que ela não tinha força nem para fazer as malas. Mesmo assim embarcou. O avião partiu e fez escala no Panamá. Ao desembarcar, ela disse que estava sentindo tonturas e cansaço. Nesse momento, uma cadeira de rodas foi providenciada, mas Jacqueline não foi avaliada por médico algum. A guia de turismo teria verificado que a menina não estava com febre e seguiu viagem depois que Jacqueline teria dito que estava melhor. No segundo trecho da viagem, pouco antes de pousar no Brasil, aconteceu o pior. Uma amiga que estava do lado da menina tentou acordá-la e percebeu que ela estava muito gelada, a tripulação foi chamada, e dois médicos que estavam a bordo foram acionados para prestar socorro. Em vão. No atestado de óbito, consta que ela morreu de choque séptico e broncopneumonia. Só o laudo necrológico que deve sair dentro de um mês poderá dizer se, de fato, ela estava com gripe suína.

Fatalidades, obviamente, acontecem. A questão por trás da morte de Jacqueline é se a Tia Augusta agiu corretamente. Ela deveria ter embarcado? O atendimento médico foi suficiente? O hospital foi irresponsável? A guia deveria ter procurado um médico no Panamá? A agência de viagens convocou uma coletiva de imprensa e disse que havia tomado todas as medidas possíveis. A família de Jacqueline diz o contrário. A tia da garota, Magda da Paz Santos, afirmou que ninguém foi avisado sobre a situação da menina. "Se soubéssemos disso teríamos entrado em contato com um médico aqui no Brasil para saber como proceder", disse a tia em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo. "Ela até poderia ter morrido, mas teríamos acompanhado todo o processo." Em nota oficial, a Tia Augusta afirmou que, "a agência jamais omitiu quaisquer informações à família sobre a saúde da jovem." O fato é que criou-se uma desconfiança geral sobre os procedimentos adotados pela agência. "Isso é fatal, principalmente para uma empresa que atua na área de serviços", diz Francisco Barone, professor da Fundação Getúlio Vargas. Responda rápido: você deixaria a sua filha nas mãos da Tia Augusta?

Fonte: Carlos Sambrana (IstoÉ Dinheiro) - Imagem: Fabio Braga (Folha Imagem)

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