Termo popular não é bem-visto pelo setor, que considera que modelo é híbrido entre helicóptero e avião, só que movido a eletricidade.
Tião Oliveira, do ‘Estadão’, Edgar Rodrigues, da EVE, Jefferson Fragoso, da Abraevtol, Roberta Andreoli, advogada, e Samuel Salomão, da Speedbird (Foto: Marcelo Chello/Estadão) |
Toda tecnologia disruptiva envolve uma série de mudanças e, no caso específico dos pequenos aviões urbanos (para alguns, "carros voadores"), que devem estar pelos céus de São Paulo em 2026, não será diferente. A questão central da segurança, por exemplo, é uma delas, como foi discutido durante o Estadão Summit Indústria Automotiva 2023. Como configurar o controle do tráfego aéreo com 400 dessas pequenas aeronaves em circulação?
O número não é um chute. Segundo os planos da EVE, uma spin-off da Embraer que lidera o desenvolvimento da tecnologia no Brasil - em termos mundiais são também poucos concorrentes -, essa capacidade é perfeitamente factível para o caso paulistano nos próximos anos, se todos os cronogramas forem cumpridos.
De acordo com Jefferson Vieitas Fragoso, conselheiro da Associação Brasileira de eVTOL (Abraevtol), tudo será feito de forma paulatina. "São várias peças de um quebra-cabeça que precisam ser montadas. É toda uma indústria nova que vem pela frente e, como sempre ocorre na questão aérea, a segurança é primordial. As legislações do setor aeronáutico e automobilístico também vão precisar conversar", diz.
O especialista lembra que em São Paulo, por exemplo, a comparação com a regulação dos helicópteros dá uma pista de como pode ser o futuro. Pelo fato de a cidade ter a maior frota desse tipo de aeronave no mundo, corredores de tráfego tiveram de ser desenhados para que não ocorressem acidentes. "Tudo será feito passo a passo", afirma o representante da Abraevtol.
No setor, o termo "carro voador" é visto até com um pouco de desdém. Na verdade, o que está sendo gestado é um modelo híbrido entre o helicóptero, que sobe e desce na vertical, e o avião. Os testes com protótipos que estão sendo feitos no interior de São Paulo - a primeira fábrica da EVE será na cidade de Taubaté - mostram que a aeronave é, de fato, mais semelhante a um pequeno avião, com asas fixas. E diferente dos helicópteros, principalmente na forma de propulsão. Por isso que a sigla eVTOL (veículo elétrico de pouso e decolagem vertical, em inglês) é a que está ganhando o mundo.
Em vez de um único rotor principal, os pequenos aviões urbanos da EVE terão vários. "A capacidade é para cinco pessoas. O piloto e mais quatro", afirma Edgar Mendes Rodrigues, engenheiro de Estratégia de Produto e Inteligência de Mercado da Eve Air Mobility. A expectativa, segundo o técnico, é que um deslocamento entre a região central de São Paulo e o aeroporto de Guarulhos, por exemplo, saia bem mais barato do que um voo de helicóptero e só um pouco mais caro do que o táxi. "Tudo está sendo pensado para dar uma maior mobilidade para as pessoas."
Estações
Detalhes da operação ainda não existem. Mas é possível, por exemplo, que sejam organizadas estações no alto de alguns shoppings ou centros empresariais para que o fluxo dos pequenos aviões urbanos seja constante. "A questão do tempo é importante", lembra Rodrigues.
A velocidade de deslocamento do avião urbano deve ser de 100 km/h aproximadamente e ele voará a uma distância de até 500 metros do solo, faixa muito semelhante à usada pelos helicópteros. "Por ser elétrico, e ter vários motores, a facilidade de operação, e a segurança, também são pontos altos do projeto", afirma o engenheiro da EVE.
Em um segundo estágio de desenvolvimento da tecnologia, os veículos poderão ser sem pilotos, totalmente autônomos, o que vai aumentar a capacidade para até seis pessoas.
Uma das características do projeto é a configuração de subida. Os quatro rotores são responsáveis pela elevação vertical desde o solo, e as asas fixas dão sustentação para todo o voo. Não existem componentes que precisem ser acionados para mudar de posição durante as etapas do percurso. É uma configuração, segundo a empresa, que favorece a segurança, a eficiência, a confiabilidade e a capacidade de certificação, ao mesmo tempo em que reduz o custo de operação e os custos adicionais de manutenção, reparo e revisão geral.
Em paralelo às questões tecnológica e de infraestrutura para os eVTOLs poderem circular - como eles são 100% elétricos, as plataformas de recarregamento são essenciais - o processo regulatório também está em andamento.
Segundo Roberta Andreoli, advogada especialista em direito aeronáutico e regulatório e sócia-fundadora do Leal Andreoli Advogados, o Brasil está muito bem servido nesse caso. "Tanto em termos de certificação dessa novas tecnologias quanto em regulação, o Brasil está bem posicionado em termos mundiais", afirma.
Os primos distantes dos aviões elétricos urbanos, e mais velhos, estão bem mais espalhados pelo mundo. E, no caso do Brasil, eles ganham as mais variadas funções, como explica Samuel Salomão, fundador da Speedbird Aero. "No nosso caso, algumas demandas, inclusive, foram até criadas pelos clientes", explica.
Em grandes operações, como nas usinas hidrelétricas ou de cana-de-açúcar, transportar pequenas peças que precisam de manutenção por caminhão, e por alguns quilômetros por causa da distância do almoxarifado, envolve mais custo e gasto de tempo excessivo. "Para isso, o uso de drones é uma boa saída. Esse é um projeto que já está em andamento", afirma Salomão.
Via Eduardo Geraque (Estadão Conteúdo / Terra)
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