quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Brasil não tem tradição de terrorismo, mas Olimpíadas têm, diz especialista

Para Peter Tarlow, que atuou nos Jogos de Inverno de Salt Lake City, Rio deve se preparar desde já para evitar ‘desastre’. Alvo seria competição, não o país

O Rio e o Brasil devem estar alertas e se preparar contra uma eventual ameaça terrorista durante as Olimpíadas de 2016 e a Copa do Mundo de 2014, na opinião do especialista norte-americano em Segurança Turística Peter Tarlow.

No Brasil para dar palestras sobre o tema, Tarlow atuou no planejamento das Olimpíadas de Inverno de Salt Lake City, em 2002, e é consultor do governo dos EUA na área de segurança turística e de grandes monumentos – como a Estátua da Liberdade, a ponte Golden Gate – e do sistema de parques nacionais. O iG o entrevistou após apresentação na faculdade de Turismo da UniverCidade, na zona sul do Rio, nesta terça-feira. Pela manhã, ele falara a um grupo de 50 policiais militares e civis.

“O Brasil não tem tradição como alvo de terrorismo, mas os Jogos Olímpicos têm, como ocorreu em 1972 [Munique, quando a delegação de Israel foi alvo de seqüestro na Vila Olímpica, por integrantes de uma organização palestina intitulada ‘Setembro Negro’. Onze membros da delegação foram mortos] e em Atlanta 1996 [uma bomba no Centennial Park matou duas pessoas]. Nesse caso, o Brasil seria apenas o lugar [de um ato terrorista], não o alvo. Não importa o lugar, os Jogos ou um país participante podem ser o alvo”, afirmou.

“Existe a ameaça de terror em todo grande evento, como as Olimpíadas”, afirmou o também consultor de segurança Miguel Yanez, ex-forças especiais da Marinha dos Estados Unidos.

Para tentar impedir eventual problema, Tarlow defende intensa preparação, com antecedência. “Se começar a preparação um ano antes, será um desastre. São necessários ao menos quatro anos. O preferível são seis anos. Estamos em 2010, a Copa do Mundo será em 2014, e os Jogos Olímpicos, em 2016. Já é hora de começar.”

Tarlow diz falar com conhecimento de causa. Em Salt Lake City, onde trabalhou em 2002, as forças de segurança encontraram três bombas, que não foram detonadas. “Se um terrorista tiver interesse em fazer um atentado durante as Olimpíadas, chegará ao Rio seis meses antes, como turista. Vai conhecer a cidade muito bem, estudar, saber onde estão os batalhões, delegacias.”

A segurança deve ser ainda mais reforçada em lugares-símbolos da cidade, como por exemplo o Corcovado, ou a praia de Copacabana. “O alvo do terrorismo costuma ser algo icônico, como um monumento ou uma área sentimentalmente importante. Uma explosão em um lugar desses é mais grave e chama mais a atenção da imprensa que em outros lugares”, explicou.

De acordo com o consultor, porém, a segurança pública regular também não pode ser negligenciada, porque um crime comum também pode manchar a imagem dos Jogos. Ele fez a diferença entre os objetivos de um criminoso comum e de um terrorista.

“O primeiro quer que o turismo tenha sucesso, para aumentar seu mercado potencial. O terrorista é exatamente o oposto: ele quer destruir o turismo. Terrorismo tem mais a ver com destruição econômica do que com assassinato.”

Na opinião de Peter Tarlow, o Brasil deve se esforçar para mudar sua imagem de lugar violento no exterior para atrair mais turistas, inclusive para a Copa e as Olimpíadas. A percepção negativa, segundo ele, afeta fortemente o turismo. Tarlow disse ter recebido quatro e-mails em um dia perguntando se estava bem no Rio.

“O que um turista se pergunta ao escolher um destino é: quais são as chances de eu ir à área turística do Rio, tomando as precauções normais, e nada me acontecer? Infelizmente, a percepção do Rio – que não necessariamente corresponde à verdade –, é a de que é muito perigoso. Um amigo policial questionou se tinha sido uma boa idéia trazer minha mulher ao Brasil e disse para não sair à rua à noite... Não digo que está certo, mas esta é a percepção. A insegurança destrói a indústria do turismo.”

Ele ainda defendeu que o bom salário para policiais se transforma em lucro turístico. “É muito mais barato pagar bem à polícia, treiná-la e exigir que nada aconteça. Se usarmos bem a polícia, como forma de vender a cidade, ela pode trazer lucros à cidade. É importante pagar bem aos policiais, e pagar melhor ainda aos policiais turísticos”, disse.

Fonte: Raphael Gomide (iG)

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