As toxinas presentes no mel como forma de avaliar a poluição faz parte dos esforços de melhorar o ar nos aeroportos
Walter Klumpp cuida das abelhas que monitoram a qualidade do ar no aeroporto de Düsseldorf
Alguns aeroportos da Alemanha adotaram uma abordagem incomum para monitorar a qualidade do ar. O Aeroporto Internacional de Düsseldorf e outros sete aeroportos do país estão usando abelhas como "biodetetives" e testando seu mel regularmente em busca de toxinas.
"A qualidade do ar em torno do aeroporto é excelente", disse Peter Nengelken, representante do aeroporto na comunidade local. O primeiro lote de mel colhido este ano de cerca de 200 mil abelhas foi testado no início de junho, ele disse, e indica que as toxinas estão muito abaixo dos limites oficiais e consistentes com os resultados medidos desde 2006, quando o aeroporto começou a trabalhar com abelhas.
Apicultores do clube de bairro da região mantêm as abelhas. O mel, batizado de "Düsseldorf Natural", é engarrafado e dado de presente.
O biomonitoramento, ou o uso de organismos vivos para testar a saúde ambiental, não substitui a vigilância tradicional, disse Martin Bunkowski, engenheiro ambiental da Associação dos Aeroportos Alemães. Mas "é uma mensagem muito clara para o público porque é fácil de entender", acrescentou.
Volker Liebig, químico do laboratório Orga que analisa amostras de mel duas vezes ao ano para Düsseldorf e outros seis aeroportos alemães, disse que os resultados mostraram a ausência de substâncias que o laboratório procura nos testes, como certos hidrocarbonetos e metais pesados e "é comparável ao mel produzido em áreas sem qualquer atividade industrial". Uma amostragem muito maior colhida ao longo de mais tempo é necessária para uma conclusão definitiva, ele disse, mas os resultados preliminares são promissores.
Será que as abelhas poderiam ser sentinelas modernas como os canários, que antes eram utilizados como sinais de alerta precoce de gases tóxicos em minas de carvão?
Avaliar a saúde ambiental utilizando abelhas como "bioindicadores terrestres" é uma medida relativamente nova, disse Jamie Ellis, professor adjunto de entomologia no Laboratório de Pesquisa e Extensão Honey Bee, da Universidade da Flórida, em Gainesville. "Nós todos acreditamos que isso pode ser feito, mas traduzir os resultados para soluções ou respostas para o mundo real pode demorar um pouco mais". Ainda assim, trabalhos similares com insetos para medir a qualidade da água têm sido bem sucedidos.
Aeroportos fazendo a lição de casa
Muitos especialistas dizem que as aeronaves não são as únicas, ou mesmo a principal, fonte de poluição nos aeroportos. Carros, táxis, ônibus e atividades em terra, bem como a indústria local são muitas vezes grandes poluidores.
Nancy Young, vice-presidente de assuntos ambientais da Air Transport Association of America (Associação de Transporte Aéreo da América, em tradução livre), um grupo comercial da indústria aeronáutica, defendeu a qualidade do ar nos aeroportos. "Os aeroportos não contribuem de forma significativa" para a poluição do ar local, ela disse, acrescentando que as emissões da aviação representam "menos de 1% do total do país e, normalmente, apenas alguns pontos percentuais em qualquer área metropolitana com um grande aeroporto". Ela disse ainda que os Estados Unidos melhoraram a qualidade do ar nos seus aeroportos através de normas mais rigorosas e técnicas de monitoramento mais avançadas.
Internacionalmente, tem havido melhorias semelhantes, disse Steven Lott, porta-voz da Associação Internacional de Transportes Aéreos. Desde 1960 o monóxido de carbono, hidrocarbonetos não queimados, fumaça e emissões de óxido de nitrogênio foram substancialmente reduzidos, disse Lott. Os padrões para a maioria deles são estabelecidos pela Organização Internacional de Aviação Civil, um organismo das Nações Unidas.
"É um desafio para uma indústria que continua crescendo", afirmou Lott. Mas a indústria tem investido no desenvolvimento de motores mais limpos para as aeronaves e equipamentos de apoio no solo, bem como em melhorias na forma como o equipamento é operado. Iniciativas como suas Equipes Verdes, por exemplo, permitem que os consultores da indústria visitem as companhias aéreas para identificar e compartilhar formas de reduzir o consumo de combustível e suas emissões. Mais de 105 companhias aéreas têm participado, ele disse.
Ainda assim, alguns setores da comunidade não estão convencidos de que a qualidade do ar nos aeroportos melhorou.
"É muito pior do que as pessoas pensam", disse Debi Wagner, membro do grupo Citizens Aviation Watch USA (Cidadãos Observadores da Aviação Estados Unidos, em tradução livre), que vive em Seattle. Algumas emissões não são adequadamente mensuradas e analisadas, disse Wagner, e outras potencialmente perigosas não são sequer monitoradas. Ela disse estar preocupada principalmente com a saúde das pessoas que vivem a um raio de três milhas dos aeroportos comerciais.
Pequenos aeroportos são os mais críticos
Dois estudos recentes também questionam a qualidade do ar nos aeroportos. Ambos se concentram em pequenos aeroportos de aviação geral, como o de Santa Monica, Califórnia, que foi estudado em duas pesquisas.
"Os poluentes tradicionais não parecem ser um problema local", disse Philip Fine, gerente de medições atmosféricas para o Gerenciamento da Qualidade do Ar do Distrito da Costa Sul, uma agência reguladora da qualidade do ar para a maior parte do Sul da Califórnia. "No entanto, houve problemas com partículas ultrafinas e chumbo".
Fine, que supervisiona uma rede de mais de 35 estações de monitoramento do ar, liderou um estudo financiado pela Agência de Proteção Ambiental que deve ser lançado nas próximas semanas.
Os níveis de chumbo das emissões de aviões que não são jatos não excedeu os limites federais, mas estavam significativamente elevados, disse Fine. Níveis elevados de partículas ultrafinas, principalmente emitidas por aviões a jato, também foram motivo de preocupação. As partículas têm curta duração, mas por causa de sua alta concentração no vento durante a decolagem, elas são particularmente preocupantes para as pessoas que vivem perto de aeroportos pequenos ou que estão repetidamente expostas, disse Fine.
A maioria dos grandes aeroportos fica longe de comunidades residenciais e têm regiões de absorção que os separa das áreas habitadas.
As implicações para a saúde de partículas ultrafinas ainda não são conhecidas, mas algumas pesquisas médicas sugerem que elas podem representar um sério risco, porque as partículas extremamente finas atravessam facilmente as paredes das células e são capazes de penetrar no cérebro e no sistema circulatório.
A Europa estabelece limites governamentais sobre as partículas ultrafinas emitidas por veículos, disse Fine. Emanuel Fleuti, chefe de serviços ambientais do Aeroporto de Zurique, disse que também há preocupação no continente europeu.
Entretanto, ele afirmou estar confiante no trabalho de biomonitorização realizado nos aeroportos alemães com abelhas, uma vez que os resultados são consistentes com métodos tradicionais de monitoramento da qualidade do ar na Europa.
Alguns aeroportos na França, Suécia e Israel começaram recentemente a trabalhar com abelhas também.
"Se você olhar o mel, ele é perfeito", disse Fleuti, acrescentando que muitas vezes ele recebe frascos quando visita a Alemanha. "É um ótimo mel".
Fonte: The New York Times via iG