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O acidente com o avião de pequeno porte em Maricá deixou dois mortos em 2013 (Foto: Romário Barros/ Lei Seca Maricá) |
O ex-prefeito de Maricá, Washington Luiz Cardoso Siqueira, politicamente conhecido como Washington Quaquá (PT), foi condenado pela Justiça a 3 anos, 2 meses e 15 dias de prisão em regime aberto, em primeira instância, por impedir pousos ao fechar a pista do aeroporto municipal durante sua gestão, em 2013.
Segundo a acusação, Quaquá foi um dos responsáveis por fechar a pista de pouso do aeroporto da cidade em 21 de outubro de 2013, o que colaborou para
a queda de um avião na Lagoa de Maricá, causando a morte do instrutor de voo Adelmo Louzada de Souza e o seu aluno Carlos Alfredo Flores da Cunha.
A aeronave, que apresentava problemas no bimotor, teria desviado da pista para evitar a colisão com viaturas da Guarda Municipal que estavam na pista de pouso. O desvio teria desgastado ainda mais o avião e causado a queda e a morte dos tripulantes.
Também foram condenados, em regime aberto, o então Secretário Municipal de Desenvolvimento Econômico Lourival Casula Filho, que hoje é vice-prefeito de Itaboraí, a 2 anos, 8 meses e 24 dias; além do então Secretário Municipal de Segurança Pública de Maricá, Fabrício Soares Bittencourt, a 2 anos e 4 meses. Os outros sete réus do processo, incluindo guardas municipais e funcionários da Prefeitura na época, foram absolvidos.
Durante a gestão de Quaquá, a pista de pouso fechou após um decreto municipal. Com a medida, o Secretário de Desenvolvimento Econômico Lourival Casula Filho teria vedado qualquer pouso no aeródromo. Por consequência, o então Secretário Municipal de Segurança Pública Fabrício Soares Bittencourt teria designado os demais denunciados, na qualidade de agentes administrativos e guardas municipais, para atuarem nas dependências do aeródromo com o uso de armas e viaturas.
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Washington Quaquá, ex-prefeito de Maricá condenado em primeira instância (Foto: Divulgação) |
A exposição a perigo, citada pela denúncia, se baseia no fato de que as aeronaves teriam tentado aterrissar no aeródromo de Maricá, mas teriam sido impedidas por viaturas da Guarda Municipal, que foram colocadas na pista.
A investigação aponta, ainda, que um piloto teria recebido uma ameaça via rádio para que não utilizasse a pista, sob pena de ser impedido a tiros.
A sentença diz que o fechamento da pista teria ocorrido de forma arbitrária e sem o conhecimento dos órgãos responsáveis pelo tráfego aéreo.
O ex-prefeito nega que teria impedido pousos no aeródromo. "Nenhum avião foi impedido de pousar, nem de decolar. Confio que as instâncias superiores vão reparar essa injustiça”, afirmou em nota.
Os réus respondem pelos crimes previstos no parágrafo 1 do artigo 261, na forma do art. 71 do Código Penal, que diz respeito a quem “expor a perigo embarcação ou aeronave, própria ou alheia, ou praticar qualquer ato tendente a impedir ou dificultar navegação marítima, fluvial ou aérea, se do fato resulta naufrágio, submersão ou encalhe de embarcação ou a queda ou destruição de aeronave”, sendo um dos crimes na modalidade qualificada pela queda e destruição da aeronave e majorada pelo resultado morte.
Ainda de acordo com a sentença expedida pela justiça, as penas poderão ser substituídas por prestação de serviço à comunidade e prestação pecuniária a ser definida em execução penal.
Entenda a decisão da Justiça
De acordo com a primeira denúncia, em 17/10/2012, o então Prefeito de Maricá Washington Quaquá, firmou o Convênio de Delegação nº 09/2012 com a União, por intermédio da Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República, para a exploração do aeródromo localizado no município, passando, com isso, a arcar com as despesas relativas à sua ampliação, reforma, administração e operação.
No entanto, estavam excluídas do convênio as atividades de navegação aérea relacionadas à operação do aeródromo, as respectivas tarifas e a totalidade da área e dos bens necessários à sua execução.
Neste cenário, não obstante essa cláusula vedando qualquer interferência na navegação aérea, o Prefeito Washington editou o Decreto nº 171/2013, determinando o fechamento do aeródromo de Maricá para pousos e decolagens por prazo indeterminado, e designou o então Secretário de Desenvolvimento Econômico Lourival Casula Filho para que adotasse as medidas necessárias.
Dentre essas medidas, Lourival não só teria promovido o fechamento dos portões de acesso ao aeródromo e as suas dependências, inclusive hangares de guarda e manutenção de aeronaves, como também teria bloqueado o acesso das aeronaves às pistas de pouso e decolagem, valendo-se de viaturas da Guarda Municipal e de servidores contratados, em sua maioria policiais.
Por conta disso, segundo a acusação, aeronaves foram impedidas de pousar ou só o fizeram depois de novas tentativas e após arremeterem diante da aproximação perigosa das viaturas, que, em alguns momentos, chegaram a invadir a própria pista de pouso, além de agentes que abordaram pilotos que eram impedidos de decolar sem a autorização expressa do Secretário Lourival.
Sendo assim, para a acusação, Washington e Lourival, mais de uma vez, expuseram a perigo concreto de acidente aeronaves e seus tripulantes que se viam obrigados a fazer manobras evasivas para evitar a colisão com as viaturas que se encontravam na pista, situação agravada pelo fato de que o fechamento da pista teria ocorrido de forma arbitrária e sem o conhecimento dos órgãos responsáveis pelo tráfego aéreo.
Ainda segundo a denúncia, foi nesse contexto que ocorreu o acidente, no dia 21/10/2013, que causou a morte do instrutor de voo Adelmo Louzada de Souza e o seu aluno Carlos Alfredo Flores da Cunha.
A denúncia concluiu, então, que Washington, na condição de Prefeito, se omitiu quanto ao dever de garantir os níveis de segurança exigidos pela legislação federal, mantendo o aeródromo de Maricá em situação de abandono, o que teria contribuído para expor aeronaves a risco de dano concreto em outros episódios, inclusive com ameaças a pilotos em pleno voo.
Por esses quatro fatos, o MPF imputou a Washington Luiz Cardoso Siqueira a suposta prática do crime do art. 261, por quatro vezes, na forma do art. 71, um deles c/c art. 263, todos do Código Penal, e a Lourival Casula Filho, a suposta prática do crime do art. 261, por três vezes, na forma dos arts. 29 e 71, um deles c/c art. 263, todos do Código Penal.
O que dizem os citados
Em nota, Washington Quaquá afirmou:
“Recebo com indignação mas com tranquilidade a decisão da primeira instância sobre o aeroporto de Maricá, que absurdamente me condenou a 3 anos em regime aberto. Tenho certeza que as instâncias superiores farão justiça e anularão tal decisão. Antes de meu governo o Aeroporto de Maricá era controlado por traficantes. Foi com coragem e destemor que expulsei os traficantes e devolvi o aeroporto para a cidade e para as atividades lícitas. No curso do processo, forças poderosas e ricas, que movimentavam ilicitamente milhões no aeroporto, tentaram me calar e reverter minha decisão. Aproveitaram a fatalidade da morte de um juiz em um treinamento em avião competente sem condições de voo, para tentar me atingir, me processando e buscando uma prisão. Os laudos da aeronáutica, certificados pelos seus radares, foram cabais em demonstrar que o avião do juiz não só ‘nunca tentou se aproximar do aeroporto de Maricá’, como se desintegrou no ar porque já estava há 900 horas sem manutenção, que o deveria fazê-la a cada 100; e que possuía parafusos incompatíveis com a fuselagem. Todas as testemunhas de acusação eram usuários e usufruíram do ‘esquema’ do aeroporto. Nenhuma delas se sustenta e nenhum avião foi impedido de pousar, nem de decolar. Confio que as instâncias superiores vão reparar essa injustiça e fazer com que a democracia brasileira possa confiar no seu imprescindível sistema judiciário, tão desacreditado hoje em dia por decisões de claro cunho político e partidário.”
Lourival Casula Filho, vice-prefeito de Itaboraí e ex-secretário de desenvolvimento econômico, informou que está de luto e não quer se pronunciar no momento. Em um espaço curto de tempo perdeu dois irmãos e um sogro.
O G1 tenta contato com a defesa do ex-Secretário Municipal de Segurança Pública de Maricá, Fabrício Soares Bittencourt.
O Presidente Estadual do PT, João Maurício, também se manifestou em nota, em apoio ao Quaquá.
“Companheiras e companheiros, venho por meio desta nota, manifestar o meu total apoio e solidariedade ao querido companheiro ex-prefeito da cidade de Maricá e Vice-presidente nacional do Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras, Washington Quaquá, que vem sendo vítima de uma perseguição injusta ao ser condenado em primeira instância em um processo que tentam jogar um acidente aéreo, indevidamente sob a sua responsabilidade, acidente este que inclusive foi inocentado da acusação. O ex-prefeito Washington Quaquá, foi fundamental quando atuou para acabar com os desmandos daqueles que exploravam o aeroporto de Maricá de forma irresponsável e até criminosa, como apontou a CPI do narcotráfico. Quaquá fez isso mantendo o funcionamento da pista com segurança. Agiu com muita coragem devolvendo o aeroporto para à Cidade. Infelizmente vivemos um momento desafiador, onde tentam de todas as formas perseguir e criminalizar injustamente lideranças de esquerda. Ferindo princípios republicanos, tentando destruir a imagem de pessoas honestas e comprometidas com o povo. Hoje o aeroporto é fundamental no desenvolvimento da cidade e instrumento de crescimento de Maricá. Sou solidário ao companheiro Quaquá e tenho certeza que ele irá provar a sua inocência nas instâncias superiores”.
Relembre
Por Anna Beatriz Lourenço, G1