Amigo que o acompanhava na viagem não teve a mesma sorte. Corpo foi encontrado em cima de um telhado em Londres.
Acordou com um estrondo, deitado numa pista de aeroporto, com dois seguranças a olhar para ele. Depois, desmaiou. Não foi um sonho, mas uma experiência real. E que experiência.
Themba Cabeka sobreviveu a 11 horas de voo, num trem de aterrissagem de um avião que teve como ponto de partida a sua terra natal, a África do Sul, e como destino o Reino Unido.
Na esperança de uma vida melhor, Themba Cabeka arriscou a vida. Sobreviveu a - 60º C, quase sem oxigénio, a uma altitude estrondosa. O amigo, que embarcou com ele, não teve tanta sorte. Acabou por morrer durante a viagem.
O caso aconteceu em 2015, mas só agora veio a público, devido ao documentário ‘The Man Who Fell from the Sky’, transmitido pelo canal britânico Channel 4. Aos realizadores, Themba contou que nunca conheceu o pai e que a mãe abandonou-o quando tinha apenas três meses. Foi criado pela avó que, em 2009, acabou por falecer.
Com a morte dela, o jovem ficou desamparado, num local conhecido por ser violento. Pouco depois, deixou de estudar por não conseguir pagar as propinas e, em 2011, acabou a viver na rua, perto do aeroporto de Johanesburgo.
Foi quando passava por isso que conheceu Carlito Vale, um jovem moçambicano que viveu num orfanato, após ter resistido à guerra civil, e que viajou até à África do Sul. Os dois tornaram-se amigos íntimos. "Era uma pessoa que gostava de fazer as suas coisas, com calma. Não gostava de violência", descreveu Themba.
Daí a começarem a pensar numa forma de melhorar as suas vidas foi um passo. A certa altura, encontraram um livro sobre aviões e fez-se luz. Decidiram que tinham de emigrar.
Assim, após muito sonhar e planejar, na noite do dia 18 de junho de 2015, vestiram roupas pretas, aproximaram-se no aeroporto de Johanesburgo, pularam a cerca, e esconderam-se à espera do avião escolhido.
Ao verem que o Boeing 747-400 da British Airways estava prestes a descolar, aproveitaram a oportunidade e subiram pelo trem de aterragem até ao compartimento feito para as rodas, quando o avião levanta voo.
"Tivemos de nos encolher. Eu ouvia o motor a trabalhar. O meu coração batia muito forte. Sabia o quão perigoso era, mas tinha de arriscar. Cheguei a um ponto que já não me importava em viver ou morrer. Tinha de sair de África para sobreviver", contou.
Quando o avião decolou, Themba se agarrou aos cabos da aeronave. Algumas horas depois, Carlito perdeu a consciência devido à falta de oxigénio e nunca mais acordou. Sem conseguir segurar o corpo do amigo, este caiu já sobre o Reino Unido, no telhado de um prédio de Londres.
Quando o avião aterrissou, Themba caiu na pista e ali ficou semiconsciente até os seguranças o encontrarem. Esteve seis meses em coma até poder sair do hospital.
De acordo com o jornal britânico Daily Mail, Themba sobreviveu por milagre. Um médico explicou que os -60º C mantiveram o corpo do sul-africano em “suspenso”, ou seja, com uma temperatura corporal tão baixa, o coração, o cérebro e restantes órgãos entram em “modo espera” e não precisam de tanto oxigênio, o que faz com que os danos nas células e órgão não sejam tão grandes.
A única mágoa que guarda da viagem é ter perdido o amigo Carlito. “Tenho muitas saudades dele. Ele era o meu irmão de outra mãe. Era o único que me conhecia verdadeiramente, mais do que ninguém”, disse.
Houve mais de 100 tentativas de passageiros clandestinos registrados em todo o mundo, mas apenas 24 pessoas sobreviveram a uma viagem no trem de pouso de um avião. Cinco anos e meio depois, Themba, que agora adotou o nome de Justin, toca sua vida em Liverpool, mantendo o amigo Carlito na lembrança.
Via Notícias ao Minuto / Daily Mail
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