Admito: fiquei ali tentando entender o que passava pela cabeça daquelas pessoas todas com câmeras em punho e acabei não fazendo foto alguma. Mas também pode ter sido só para ser diferente, e não mais um na multidão que esperava para entrar no voo AF 1980, que parte às 10h05m de Paris para Londres. A Air France, que usa o A380 em seus voos para Johannesburgo, está extraordinariamente operando o grandão nesse trechinho europeu. Começou no dia 12 de junho e vai até o dia 30. Aqui vão cinco (o.k., seis) impressões dele.
1) Como não escolho voos por tipo de aeronave, mas por critérios como horário e duração, não tinha mesmo a menor ideia de que um A380 entraria no meu roteiro. O destino final era a capital inglesa e, como teria tempo de sobra para curtir Paris antes da volta ao Brasil, tudo o que eu mais queria era passar rapidinho pelo Charles de Gaulle, desembarcar em Heathrow e depois almoçar num restaurante reservado há semanas (se me permitem, uma dica: o Maze - Gordon Ramsay, no 10-13 Grosvenor Square; www.gor donramsay.com/maze/).
E aqui mais uma certeza: nada é rapidinho em se tratando de um A380. Com aqueles dois andares e capacidade para carregar uma população que vai de cerca de 550 a 800 passageiros, imagine como é o embarque numa coisa dessas. Não é suposição: levou mais tempo para acomodar todo mundo do que decolar e aterrissar em Londres.
2) Se o A380 tem poltronas-camas tão luxuosas como as que a gente cansou de ver nas fotos promocionais da Airbus, não vi. Estava na classe econômica, e o que me foi permitido observar na cabine principal foi aquele mar de poltronas, numa disposição que, se não me engano, era três-quatro-três. No upper deck, dizem que a coisa é diferente. Falando especificamente da poltrona, ela pode ser um pouquinho mais confortável do que em outros Boeings e Airbuses da vida, mas acho que tive essa sensação apenas porque tudo era, de fato, novinho.
3) Depois de instalado em meu assento, preciso dizer, parodiando vítima de acidente, que "foi tudo muito rápido". Mal tive tempo de experimentar todas as possibilidades daquele monitor individual e do controle remoto que, logo de cara, deixaram-me curiosíssimo. Telinha particular na sua frente não chega a ser novidade, mas a do A380 tem ótima definição e um cardápio que vai de filmes, seriados e games às imagens capturadas por câmeras instaladas em três pontos da aeronave: no bico, na parte inferior da "barriga" e na cauda. Até "Brothers and sisters" perde diante da possibilidade de assistir ao que se passa lá fora, mesmo quando as nuvens embaçam tudo. Na aterrissagem, então, torci para a "programação" não sair do ar.
4) Seja na aterrissagem ou na decolagem, não senti o peso de um bicho tão grande. Até achei que o processo todo foi "suave", se é que a gente pode chamar assim.
5) O desembarque também é lento, mas não se compara ao embarque. E, ao final da jornada, outra surpresa, esta para deixar os amigos morrendo de inveja: um certificado da Air France dizendo que tem a honra de atestar que seu dono voou num A380.
Uma funcionária, com uma plaquinha, orientava os passageiros que voltariam dali a pouco para Paris, e só estavam viajando para conhecer o A380. Acho que eles só queriam mesmo o tal certificado.
6) Ah, sim, a companhia parece tratar tão bem sua nova aquisição que quer poupá-la. Para que desperdiçar espaço e energia com bobagens, como bagagem? Pois é, a mala não chegou, só veio em outro voo, mais tarde. Vai que aqueles contêineres arranham o A380?
Fonte: Marcelo Balbio (O Globo) - Imagens: Divulgação