domingo, 11 de outubro de 2009

Companhias aéreas japonesas mantém museus com destroços de acidentes aéreos

Destroços de aeronaves carbonizadas, caixas pretas destruídas, fotografias de órfãos diante de caixões. Duas companhias aéreas do Japão não enterram suas piores memórias em acidentes aéreos, e sim, as mantêm vivas em museus.

Pessoas com medo de voar não devem dar audiência às iniciativas de duas transportadoras aéreas japonesas que criaram museus sobre acidentes aéreos perto do aeroporto Haneda, em Tóquio.

Entre os milhares de itens recuperados a partir de locais de acidentes, há na mostra uma mensagem final que um passageiro condenado à morte rabiscou sobre um saco para enjôo do avião em que estava – e que caiu –, pedindo a sua esposa para cuidar de seus filhos.

Outra nota angustiante é a de uma mulher, um último e desesperado pedido para sobreviver, escrito num folheto de orientação sobre evacuação de emergência, enquanto o avião estava pegando fogo sobre o Japão, minutos antes de cair em terra.

As exposições mórbidas, abertas ao público, são gerida pelas companhias aéreas Japan Airlines (JAL) e sua principal rival, a All Nippon Airways (ANA).

O objetivo não é ser uma mostra sobre a morte, mas pela preservação da vida.

Visitas aos seus respectivos museus são obrigatórias para o pessoal ANA e altamente incentivadas na JAL, com o objetivo de que fiquem registradas nas mentes dos trabalhadores, em detalhes gráficos, as consequências potencialmente catastróficas de um simples erro.

"Nós queremos ter certeza de que a lembrança do acidente do passado permanece viva dentro da empresa", disse o porta-voz da ANA, Rob Henderson, cuja companhia abriu seu Centro de Educação para a Segurança perto de Haneda, em 2007.

"Todas as pessoas que estavam trabalhando na empresa quando o nosso último acidente aéreo ocorreu, e que testemunharam suas terríveis consequências sociais, logo se aposentaram", disse o porta-voz à AFP, durante uma recente visita.

Yutaka Kanasaki, que dirige o Centro de Promoção à Segurança da JAL, inaugurado em 2006, disse que 90 por cento da companhia, ou mais de 50.000 funcionários, não trabalhavam na companhia num momento em que um de seus jatos caiu.

"Queremos evitar a tristeza que tragédias aéreas caiam no esquecimento e, ao invés disso, passar adiante o conhecimento dos riscos da aviação para a próxima geração", disse ele.

A exposição exibe de forma proeminente destroços do avião, incluindo seções esmagadas de cauda e assentos de passageiros retorcidos, assim como os restos dos restos de objetos pessoais dos passageiros mortos, tais como canetas, óculos e chaves do carro.

A JAL descreve seu pior acidente – e também, o pior desastre da história da aviação envolvendo um único avião – ocorrido em 12 de agosto de 1985 na queda do voo da JAL 123 que causou 520 mortes e, incrivelmente, deixou quatro sobreviventes.

O Boeing 747 caiu porque uma parte da aeronave – o estabilizador vertical e o leme – que tinha sido mal reparada após um incidente sete anos antes foram arrancados durante o voo.

Funcionárias olham para os destroços de um Boeing 747 da Japan Airlines que caiu em 1985, em exibição no Safety Promotion Center da JAL, em Tóquio - Foto: AFP

O avião caiu em uma montanha a noroeste de Tóquio, depois girar violentamente em espiral através do céu durante 32 minutos – tempo suficiente para os passageiros entenderem que eles estavam em seu último voo, e para rabiscar as suas mensagens finais.

A ANA, no seu próprio e pouco iluminado museu de acidentes, reconta 55 acidentes/incidentes e 10 sequestros que sofreu durante seus 57 anos de história, com especial ênfase nos seus três acidentes mortais.

Aos visitantes também são mostradas imagens e fotos de resgate escavando detritos do mar, de dezenas de caixões enfileirados em ginásios de escolas e de viúvas em lágrimas diante do então presidente da companhia.

A seção dedicada ao erro humano, os visitantes aprendem que 55 por cento das catástrofes da aviação se devem a erro humano, e não se exime de também apontar os erros cometidos por funcionários de outras companhias aéreas.

Preservar, como feridas abertas, as lembranças dos desastres mortais poderiam parecer estranhas para muitas companhias ocidentais, mas está em sintonia com a tradição corporativa do Japão de mostrar arrependimento e culpa por erros.

Isso pode ser parte da razão por que ambas as companhias são agora consideradas entre as mais seguras do mundo. Na ANA, o último acidente fatal ocorreu em 1971 e na JAL em 1985.

Fonte: Agencia France Presse via Fórum Contato Radar




MAIS

JAL's Safety Promotion Center

ANA Group Safety Education Center

Pesquisa e edição: Jorge Tadeu da Silva

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