Avião no aeroporto Salgado FIlho, em Porto Alegre: Sistema ILS permite pouso sob condições meteorológicas adversas (Imagem: Suboficial Johson Barros/FAB) |
O Brasil tem 36 aeroportos que possuem sistemas de pouso para situações de baixíssima visibilidade, como em nevoeiros fortes. Chamado de ILS, ele não é obrigatório.
O que é o sistema
O ILS (Instrument Landing System, ou, Sistema de Pouso por Instrumentos) orienta o voo do avião até bem próximo do solo, permitindo pousos onde há dificuldades em visualizar a pista.
O sistema leva em consideração a altura do avião em relação à pista e a visibilidade à frente da aeronave.Ele é dividido em três categorias, cada uma com requisitos mínimos.
Caso os pilotos estejam pousando e atinjam uma certa altura em relação ao solo e ainda não estejam vendo a pista, devem arremeter. Ao mesmo tempo, precisam ter uma visão mínima à sua frente para poder manter o alinhamento com a pista.
Cada categoria de sistema ILS possui as seguintes especificações segundo a FAB (Força Aérea Brasileira):
- Cat I: Altura de decisão mínima de 60 metros acima da pista e visibilidade entre 800 e 550 metros
- Cat II: Altura de decisão mínima de 30 metros acima da pista e visibilidade de ao menos 300 metros
- Cat IIIa: Altura de decisão mínima de 30 metros acima da pista e visibilidade de ao menos 175 metros
- Cat IIIb: Altura de decisão mínima de 15 metros acima da pista e visibilidade de 175 metros
- Cat IIIc: Zero de visibilidade.
Como funciona
Antena do sistema ILS para pouso sob baixa visibilidade é calibrada em aeroporto (Imagem: Carlos Eduardo Schaefer/FAB) |
Antenas nos aeroportos emitem sinais de rádio alinhados com a pista de pouso. Eles traçam uma espécie de linha, tanto na horizontal quanto na vertical, que mantém a aeronave na melhor trajetória de descida para o toque no solo.
Os aviões captam as ondas enviadas na horizontal e na vertical. Com isso, o sistema de piloto automático se orienta para o pouso na melhor posição possível
Sistema é usado mesmo em dias de sol. Ele facilita o alinhamento e a trajetória de descida mesmo quando a visibilidade é boa.
Pista pode ter equipamento apenas em um lado. Como tem custo elevado de aquisição e manutenção, aeroportos podem optar por manter o sistema ILS apenas em uma das cabeceiras da pista —geralmente, a que é utilizada com mais frequência.
O terreno em volta do aeroporto também pode interferir. Se houver elevações muito altas, por exemplo, o sistema pode ser ineficiente em alguns casos, já que não haveria como orientar o avião adequadamente.
Os requisitos
Avião da Aeronáutica voa sobre antena de sistema de pouso sob baixa visibilidade, o ILS (Imagem: Carlos Eduardo Schaeffer/FAB) |
Não basta apenas ter a antena emitindo sinais de rádio. Cada categoria de ILS exige, ainda, luzes e dispositivos no solo para orientar e detectar a movimentação do avião.
As aeronaves precisam ser compatíveis com a tecnologia e serem homologadas para seu uso. Junto a isso, pilotos também têm de ser treinados para operar esse tipo de pouso.
Os equipamentos devem ser calibrados. No Brasil, esse procedimento costuma ser feito por aviões do Grupo Especial de Inspeção em Voo da FAB (Força Aérea Brasileira).
Onde existe no Brasil
- Belém (PA) - Val de Cans/Júlio Cezar Ribeiro: Cat I
- Belo Horizonte (MG) - Pampulha: Cat I
- Belo Horizonte (MG) - Tancredo Neves/Confins: Cat I
- Boa Vista (RR) - Atlas Brasil Cantanhede: Cat I
- Brasília (DF) - Juscelino Kubitschek: Cat I
- Campinas (SP) - Viracopos: Cat I
- Campo Grande (MS): Cat I
- Cuiabá (MT) - Marechal Rondon/Várzea Grande: Cat I
- Curitiba (PR) - Afonso Pena/São José dos Pinhais: Cat II e Cat I
- Florianópolis (SC) - Hercílio Luz: Cat I
- Fortaleza (CE) - Pinto Martins: Cat I
- Foz do Iguaçu (PR) - Cataratas: Cat I
- Guarulhos (SP) - Cumbica/Governador André Franco Montoro: Cat I, Cat II e Cat IIIa
- Joinville (SC) - Lauro Carneiro de Loyola: Cat I
- Maceió (AL) - Zumbi dos Palmares/Rio Largo: Cat I
- Manaus (AM) - Eduardo Gomes: Cat I
- Natal (RN) - São Gonçalo do Amarante: Cat I
- Porto Alegre (RS) - Salgado Filho: Cat II
- Porto Velho (RO) - Governador Jorge Teixeira de Oliveira: Cat I
- Recife (PE) - Guararapes: Cat I
- Rio Branco (AC) - Plácido de Castro: Cat I
- Rio de Janeiro (RJ) - Galeão: Cat I e Cat II
- Salvador (BA) - Deputado Luís Eduardo Magalhães: Cat I
- Santa Maria (RS): Cat I
- Santarém (PA) - Maestro Wilson Fonseca: Cat I
- São José dos Campos (SP) - Professor Urbano Ernesto Stumpf: Cat I
- São Luís (MA) - Marechal Cunha Machado: Cat I
- São Paulo (SP) - Congonhas: Cat I
- Uberlândia (MG) - Tenente Coronel Aviador César Bombonato: Cat I
- Vitória (ES) - Eurico de Aguiar Salles: Cat I
Ainda é possível encontrar o sistema ILS em outros locais, como bases militares. É o caso da pista do aeroporto do Campo Fontenelle, onde fica localizada a AFA (Acadamia da Força Aérea), em Pirassununga (SP).
O levantamento foi feito a partir de documentação aeronáutica e informações disponibilizadas pela FAB.
Guarulhos tem sistema mais moderno
O aeroporto internacional Governador André Franco Montoro, em Guarulhos, costuma enfrentar muitos problemas devido às neblinas. A região onde se encontra é a do bairro de Cumbica, que também dá nome ao local.
Esse nome é uma expressão tupi-guarani que significa "nuvem baixa", segundo interpretações mais recorrentes. O entorno do sítio aeroportuário é naturalmente úmido, o que facilita na formação da neblina.
O ILS Cat III foi instalado em 2011 em Guarulhos ao custo de R$ 8,9 milhões à época, mas só foi certificado para operação em 2015. A proposta era que ele estivesse operacional para melhorar o fluxo de voos para a Copa do Mundo de 2014.
Guarulhos é o único aeroporto do país a operar o sistema ILS Cat IIIa. Ainda assim, fechamentos ocorrem até hoje, mas em frequência menor.
Embora a quantidade de horas que o aeroporto ficava fechado durante o ano representasse menos de 1% do total, o transtorno era grande. Hoje, Guarulhos tem capacidade declarada para 60 pousos e decolagens por hora, frente a 47 em 2015.
Via Alexandre Saconi (UOL)
Fontes: Paulo Calazans, piloto e advogado especializado em direito aeronáutico; FAA (Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos), Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo, órgão ligado à FAB)