A tripulação do avião do presidente polonês que caiu na Rússia não obedeceu à torre de controle do aeroporto, que a aconselhou a aterrissar, e não transmitiu dados de voo cruciais, segundo os controladores aéreos citados nesta terça-feira pela imprensa.
Um dos controladores do aeródromo militar situado perto de Smolensk (oeste da Rússia), onde o avião do presidente polonês Lech Kaczynski devia aterrissar, relatou as circunstâncias que precederam o acidente ao jornal popular russo Komsomolskaya Pravda.
"Antes da chegada do avião polonês, dois aviões deviam aterrissar. O primeiro, um Yak-40, pôde aterrissar sem problemas. O segundo era um Ilyushin-76. Mas a visibilidade sobre a pista de aterrissagem não era satisfatória e a tripulação decidiu aterrissar em outro lugar. E o fez sem problema em Vnukovo, em Moscou", relatou Anatoli Muraviev.
"O avião polonês chegou mais tarde e as condições meteorológicas começaram a piorar", continuou.
"Duvidávamos que pudesse aterrissar normalmente. O chefe dos controladores aéreos disse três vezes para que fosse aterrissar em outro lugar, mas a tripulação não obedeceu", acrescentou.
Muraviev explicou que, diante da recusa, a equipe de terra não teve outra opção a não ser guiar o aparelho, que iniciou as manobras de pouso sem autorização.
"E, depois, não recebemos os os dados sobre os movimentos (do avião) e a altura. O piloto deveria nos ter fornecido isso", acrescentou.
O chefe da torre de controle, Pavel Pliusnin, em uma entrevista ao site Life News, confirmou que o avião do presidente não transmitiiu os dados sobre a altitude.
Indagado sobre as razões desta falta de comunicação, Pliusnin respondeu: "Como eu poderia saber isso? Talvez porque não falassem russo direito. Falavam russo, mas as cifras, isso era algo difícil para eles".
"O piloto havia dito: 'Tenho bastante combustível, vou iniciar uma aproximação e, se não puder aterrissar, vou para outro aeroporto", segundo relatou o controlador aéreo.
A catástrofe aérea aconteceu no sábado perto de Smolensk, oeste da Rússia, com um balanço de 96 mortos, incluindo, além do presidente polonês, sua esposa e membros de seu gabinete, muitos políticos e militares poloneses.
Quase metade dos mortos foi formalmente identificada por parentes em Moscou, segundo o governo russo. Os trabalhos prosseguem em Moscou para identificar os corpos levados para a capital depois do acidente.
O enterro do casal presidencial acontecerá no domingo às 09h na Catedral de Wawel, em Cracóvia (sul), onde repousam os reis e presidentes da Polônia, segundo informou a agência de notícias PAP.
Já o Comitê de Aviação Intergovenamental (MAK) em Moscou informou que uma terceira caixa negra do aparelho acidentado foi encontrada no local da tragédia.
Por ora, os investigadores russos descartaram um incêndio ou uma explosão como causas do acidente, de acordo com o vice-primeiro-ministro Sergei Ivanov.
"As análises preliminares das caixas pretas do avião e o resultado do trabalho em terra mostram que não houve explosão ou fogo a bordo do aparelho", indicou Ivanov. "Os motores estavam funcionando no momento do choque com o solo", acrescentou.
A respeito ainda das dúvidas que pairam sobre a conduta da tripulação, para o procurador-geral da Polônia, Andrzej Seremet, nada indica no momento que os pilotos do avião do presidente polonês Ltivessem sofrido pressões para aterrissar, apesar do mau tempo no momento da catástrofe.
Respondendo a uma pergunta de um jornalista sobre as eventuais pressões que os pilotos teriam sofrido para pousar, apesar do mau tempo, Seremet afirmou: "No atual estado da investigação, não existem informações nesse sentido".
Acrescentou, no entanto, que os especialistas analisarão os ruídos de fundo da gravação das conversas dos pilotos para determinar se foi feita "alguma sugestão aos pilotos".
A imprensa polonesa aludia à hipótese segundo a qual uma das possíveis causas do acidente teriam sido as pressões exercidas sobre os pilotos para que aterrissassem a todo custo, para que a delegação polonesa chegasse a tempo às cerimônias para recordar a matança de Katyn, perto de Smolensk.
Fonte: AFP - Foto: Reuters - Imagem: AFP