quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Avião 'gigante' arremete no último instante no aeroporto de Guarulhos; veja


Momento em que o A380 tenta tocar a pista do aeroporto de Guarulhos,
segundos antes de arremeter (Imagem: Reprodução/YouTube)
Um Airbus A380, o maior avião de transporte de passageiros do mundo, com capacidade para 515 passageiros, arremeteu na tarde de ontem (13), na pista do Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo. A cena da manobra realizada no último instante pelo piloto da aeronave, que estava a serviço da Emirates Airline, foi captada em vídeo e ocorreu por conta do vento.

O voo EK-261 vinha de Dubai, nos Emirados Árabes. O jato, de matrícula A6-ELV, se aproximava da pista cerca de 15 horas após sua decolagem. No vídeo, que captura o áudio das comunicações que ocorreram na frequência de controle de tráfego aéreo, é possível ouvir o piloto informar que o vento de cauda foi a razão para a manobra.

A desistência ocorreu às 17h19 e, após arremeter, o pouso em segurança ocorreu poucos minutos depois, às 17h34.


"Go-around due tail wind", diz em Inglês o piloto à torre de comando, o que significa algo como "dar a volta devido ao vento de cauda". Mas o que é o vento de cauda e por que ele obriga aviões a arremeterem durante o pouso?

Imagine o ar como um grande oceano, invisível para nós. Da mesma maneira que no oceano a direção das correntes marítimas interfere na navegação de navios, barcos, e submarinos, na aviação, principalmente no pouso e decolagem, a direção do ar é fundamental", explica o piloto de aeronaves, instrutor e especialista em aviação Roberto Alves Santos.

"Na hora da decolagem, por exemplo, o piloto precisa do vento relativo na direção contrária às asas do avião, para ganhar sustentação. Dessa maneira, exige-se menos percurso, uma menor distância em pista para iniciar a decolagem. Além de favorecer o ângulo de subida. Se ocorresse um vento de cauda, ele empurraria a aeronave e ela precisaria percorrer um caminho mais longo na pista para começar a ganhar sustentação."

(Imagem: Reprodução/RadarBox)
Já no momento do pouso, como o tentado pelo A380, o especialista explica que o ar frontal, ou vento de proa, serve como um freio para a aeronave. Dessa maneira, ela precisaria de uma distância menor a ser percorrida na pista para fazer a aterrissagem. 

"Todo aeroporto possui um anemômetro, um equipamento que mede a intensidade e a direção do vento. No caso do A380, foi informado pelo piloto à torre a ocorrência de vento de cauda, algo que provavelmente já pode ter sido avisado antes pelos agentes, que fazem as leituras dos instrumentos em terra. Mas existe também a possibilidade de a direção do vento ter mudado exatamente na hora em que o avião ia tocar no solo. Assim como as correntes marítimas mudam a todo momento, os ventos também obedecem esse princípio."

Na análise do especialista, se o piloto tivesse seguido no pouso com as condições desfavoráveis, ou seja, o vento vindo por trás do avião, ele seria "empurrado" para a frente, o que exigiria uma distância de pista muito maior para conseguir frear.


"O A380 é o maior avião de passageiros do mundo. A operadora já tem tudo calculado previamente. O comprimento da pista para o pouso e as condições de segurança", explica ele. "Se ele não tivesse arremetido no pouso tentado ontem em Guarulhos, ele poderia não ter pista suficiente para parar o avião em segurança. O piloto, além de sua experiência, teve confirmada pela torre a condição de mudança dos ventos. Isso é normal, as condições dos ventos mudam o tempo todo".

O vento como fator principal de projetos na aviação


Santos afirma que o vento é o fator principal que se leva em consideração num projeto de aviação. Todo projeto de aeronaves, de aviões de asa fixa ou dos rotores de cauda de aeroplano e até mesmo de helicópteros levam em consideração os ventos. São eles que dão sustentação às aeronaves. "Quando se projeta um avião, utiliza-se um túnel de vento nos testes de simulação. Assim os técnicos podem adaptar o projeto aerodinâmico da estrutura das aeronaves". 

Os projetos de construção de aeroportos em todo o mundo também são realizados com base no comportamento dos ventos em cada região. Segundo o especialista, eles são construídos de acordo com a leitura de direção, intensidade e velocidade dos ventos predominantes.

"Por isso existem sempre duas pistas que se alternam, para pouso e decolagem, dependendo da direção do vento. Quando se constrói um aeroporto, uma das exigências é o estudo monitorado do comportamento dos ventos, para se descobrir a predominância de direção e intensidade. Não se constrói aleatoriamente, é preciso um estudo técnico aprofundado".

Sem motivo para medo 


Na opinião do especialista, os passageiros não precisam temer esse tipo de manobra. Pousos e decolagens são os momentos mais importantes em um voo, então todas as atenções, tanto dos pilotos quanto dos agentes em terra, estão focadas nesses estágios.

No caso do A380 "muitas vezes, o passageiro nem percebe o que está acontecendo. Ainda mais quando se trata de um avião grande, como o A380. Arremeter é muito comum, o piloto não vai pousar se não tiver certeza da segurança da aterrissagem. Assim, os tripulantes e passageiros são informados sobre a necessidade da manobra. Na verdade, para os passageiros é como uma aventura, eles vão apenas dar mais uma volta no ar até que o avião possa aterrissar novamente, em segurança."

Por Maurício Businari (UOL)

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