Três meses antes da publicação do relatório final da investigação sobre as causas do acidente com o voo Rio-Paris, no dia 1º de junho de 2009, o canal France 3 deve divulgar, no dia 14 de março, uma reportagem com a reconstituição tridimensional dos últimos minutos de voo, com a ajuda de atores, e que culpa os pilotos. Intitulada Vol AF 447 Rio/Paris: les raisons d'un crash (Voo AF 447 Rio/Paris: as razões do acidente, numa tradução livre), a reconstituição, à que a AFP teve acesso, usa os atores para transformar em imagens a ação dos pilotos durante os quatro últimos minutos e 22 segundos na cabine do avião, antes do Airbus A330 se chocar com o Atlântico.
Apresenta a tese de que as reações deles levaram ao acidente no qual 228 pessoas morreram. Essa reconstituição, que joga com o emocional e com o sensacional, foi "uma escolha editorial assumida", explicou à AFP Jean-François Gringoire, redator-chefe. "Evidentemente, o caráter emocional não é neutro, uma vez que não se trata de um relato de um passeio no campo, mas dos quatro últimos minutos de um avião de carreira que está prestes a cair", comentou.
Mas defendeu esse formato adaptado à reportagem televisual, usada há tempos pelas mídias anglo-saxônicas. "A dimensão emocional torna-se mais forte se der para visualizar com os autores", destacou. Os jornalistas encarregados da enquete, Fabrice Amedeo e Véronique Préault, afirmam "ter rigorosamente reconstituído" o que aconteceu antes do acidente, mas a reportagem leva indiscutivelmente o espectador à convicção de um erro na pilotagem.
A hipótese de resfriamento das sondas de velocidade Pitot foi logo descartada para se focalizar nas manobras do copiloto e dos comandos, que não cessam de puxar o manche em vez de empurrá-lo. O alarme que se ouve soar 74 vezes em 54 segundos, não é em nenhum momento mencionados no interior da cabine, deixando uma impressão de caos e incompreensão da situação.
Ouvido sobre a reportagem, o porta-voz da Air France respondeu à AFP: "o relatório definitivo ainda não foi publicado. Vamos esperar esclarecimentos suplementares sem os quais é impossível tirar conclusões definitivas"."É por esse motivo que a Air France não deseja se somar a esta 'contrainvestigação' que se faz com elementos parciais. (...) os métodos nos aparecem extremamente contestáveis e deslocados em relação à memória das vítimas", acrescentou.
Por sua vez, o pessoal do Birô de Investigações e Análises (BEA), encarregado da investigação técnica, que não viu a reportagem, não fez comentários, lembrando que o relatório definitivo deverá ser publicado "durante o mês de junho". Em seu relatório interino do final de julho de 2011, o BEA destacou uma série de falhas dos pilotos. A Air France e a Airbus são questionadas nesse dossiê por homicídios involuntários.
O acidente do AF 447
O voo AF 447 da Air France saiu do Rio de Janeiro com 228 pessoas a bordo no dia 31 de maio de 2009, às 19h (horário de Brasília), e deveria chegar ao aeroporto Roissy - Charles de Gaulle de Paris no dia 1º às 11h10 locais (6h10 de Brasília). Às 22h33 (horário de Brasília) o voo fez o último contato via rádio. A Air France informou que o Airbus entrou em uma zona de tempestade às 2h GMT (23h de Brasília) e enviou uma mensagem automática de falha no circuito elétrico às 2h14 GMT (23h14 de Brasília). Depois disso, não houve mais qualquer tipo de contato e o avião desapareceu em meio ao oceano.
Os primeiros fragmentos dos destroços foram encontrados cerca de uma semana depois pelas equipes de busca do País. Naquela ocasião, foram resgatados apenas 50 corpos, sendo 20 deles de brasileiros. As caixas-pretas da aeronave só foram achadas em maio de 2011, em uma nova fase de buscas coordenada pelo Escritório de Investigações e Análises (BEA) da França, que localizou a 3,9 mil m no fundo do mar a maior parte da fuselagem do Airbus e corpos de passageiros em quantidade não informada.
Após o acidente, dados preliminares das investigações indicaram um congelamento das sondas Pitot, responsáveis pela medição da velocidade da aeronave, como principal hipótese para a causa do acidente. No final de maio de 2011, um relatório do BEA confirmou que os pilotos tiveram de lidar com indicações de velocidades incoerentes no painel da aeronave. Especialistas acreditam que a pane pode ter sido mal interpretada pelo sistema do Airbus e pela tripulação. O avião despencou a uma velocidade de 200 km/h, em uma queda que durou três minutos e meio. Em julho de 2009, a fabricante anunciou que recomendou às companhias aéreas que trocassem pelo menos dois dos três sensores - até então feitos pela francesa Thales - por equipamentos fabricados pela americana Goodrich. Na época da troca, a Thales não quis se manifestar.
Fonte: AFP via Terra
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