O médico anestesista Marcelo Carvalho precisou pagar 600 euros (cerca de R$ 1,4 mil) para uma viagem de táxi de Paris a Lisboa após ter seu voo cancelado por conta do caos aéreo na Europa.
Carvalho, de 42 anos, precisava chegar a São Paulo na última segunda-feira. Inicialmente, ele havia comprado uma passagem da capital francesa direto para o aeroporto de Guarulhos, mas precisou mudar a rota por conta da nuvem de cinzas vulcânicas que causou o cancelamento de diversos voos no continente europeu.
"Eu e minha mulher tivemos muita sorte. Tínhamos conseguido mudar o nosso voo de Paris para São Paulo para um voo Paris-Lisboa-São Paulo, mas depois o voo de Paris para Lisboa foi cancelado", conta ele.
Carvalho então optou por pagar um táxi para fazer o trajeto de 1.850 quilômetros e conseguiu um motorista disposto a fazer a viagem por 600 euros (R$1,4 mil).
"Foi muito barato. No aeroporto de Paris estavam cobrando 2 mil euros (R$ 4,7 mil) pela viagem até Madri. O motorista de táxi tinha que vir para Portugal e procurava alguém para dividir as despesas", contou o médico à BBC Brasil enquanto tentava, às 9h, no balcão da companhia aérea TAP, antecipar o voo de volta a São Paulo, agendado para 23h55.
Ele acabou fazendo a viagem em tempo recorde: 19 horas para quase 1,9 mil quilômetros - uma média de 100 quilômetros por hora.
"O motorista só parou 3 vezes, 10 minutos de cada vez", disse.
Brasileiros
O aeroporto de Lisboa foi um dos poucos no continente europeu que não fechou por causa da nuvem de cinzas que resultou da erupção do vulcão islandês Eyjafjallajokull. Por essa razão, muitos brasileiros estão no aeroporto da capital portuguesa tentando conseguir uma passagem para destinos europeus.
"Estou desde domingo em Lisboa, alojado num hotel. Tenho passagem para Munique, mas não tenho como ir para lá", disse o engenheiro Alexandre Correia, que pretende participar da maior feira mundial de materiais de construção, a BAUMA, que começou na segunda-feira.
"Somos cinco pessoas - minha mulher, eu e mais quatro. Pretendemos marcar um voo para Roma e aí alugar um carro. Nós já pensamos em alugar um carro aqui, mas empresas de aluguel estão cobrando 5 mil euros. Se chegarmos em Roma, talvez a gente consiga alugar um carro mais barato", afirmou.
O grupo fica se revezando no aeroporto para ver se consegue informações.
"Pela internet não está dando e pelo telefone a empresa aérea deixa a gente pendurado e não atende".
Segundo Alexandre, o prejuízo destes três dias já chegou a 600 euros (R$ 1,4 mil).
Caminho tortoJá para o médico Gustavo Pinto, que mora em Boston, nos Estados Unidos, a viagem de Lisboa para o Brasil foi o caminho de volta de umas férias de Menorca, junto com sua esposa.
"Estivemos em Menorca e íamos para Amsterdã no dia 19, para pegar o avião de volta para os Estados Unidos, mas o voo foi cancelado. O aeroporto de Barcelona esteve fechado preventivamente, mas depois abriu e fomos de Menorca para Barcelona. De lá viemos de trem para Lisboa", conta.
O caminho de volta deu mais uma volta. "A TAP não está vendendo bilhetes, tentando deixar os lugares para quem já tem a viagem marcada. Então consegui um voo para o Rio de Janeiro através de uma agência no Brasil e de lá para Boston", disse ele na corrida para o embarque.
ConformadaA brasileira Luísa Almeida, que trabalha numa escola na Inglaterra, estava conformada com a possibilidade de atraso.
"Cheguei hoje de manhã, mas não tenho ideia de que horas vai haver voo. A gente tinha marcado um lugar no voo das 10h30, mas não há garantia. Disseram que o aeroporto de Heathrow (um dos três de Londres) pode abrir a qualquer momento."
Antes de embarcar ela foi informada da situação. "Eles falaram que a opção seria ficar no Brasil, mas escolhi viajar e ficar aguardando no aeroporto."
Ela está conformada com a situação. "A culpa não é deles. Acho que é uma forma de preservar os riscos. Pode acontecer alguma coisa desagradável se o avião for agora".
No consulado do Brasil em Lisboa, a informação é de que até agora não houve brasileiros retidos por conta da nuvem resultante a erupção que tenham buscado apoio consular.
Fonte: BBC Brasil via O Globo