quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Avião que caiu em Honduras em 2018 levava empresários dos EUA, não missionários

Publicações que mostram um conjunto de fotos de um avião acidentado e afirmam que um grupo de missionários sobreviveu à queda da aeronave foram compartilhadas mais de 42,8 mil vezes nas redes sociais desde o último dia 20 de fevereiro.

O acidente ocorreu em maio de 2018 em Honduras, mas o avião particular levava membros de uma empresa texana, sem relação com qualquer missão religiosa, e, de acordo com um dos passageiros, houve ferimentos graves.

“O avião cai com mais de 20 missionários indo prega evangelho e ninguém morreu, Deus de milagres”, dizem as legendas das postagens compartilhadas dezenas de milhares de vezes no Facebook (1, 2, 3) em poucos dias.

Em dezembro de 2019, um site havia publicado essa história dos missionários informando que o acidente aconteceu em uma floresta em Honduras, replicando a informação de um portal cristão em espanhol, que continha fotos e um vídeo. Em francês também foram encontradas publicações a respeito da queda da aeronave com pessoas que estavam em missão.

Captura de tela feita em 22 de fevereiro de 2021 de uma publicação no Facebook

Empresários, não missionários


Uma busca reversa pelas fotografias usando a ferramenta InVid-WeVerify* mostrou como resultado diversas matérias de meios de comunicação que reportaram um acidente aéreo no Aeroporto Internacional de Toncontín, em Tegucigalpa, ocorrido em 22 de maio de 2018. Um deles indicou que a aeronave partiu de Austin, Texas, nos Estados Unidos, e o modelo era um Gulfstream G200.

No artigo publicado pela BBC a foto é creditada à Agência Europeia de Fotografia de Imprensa (EPA, na sigla em inglês). No site da EPA há uma imagem do acidente, registrada por Gustavo Amador, com data de 22 de maio de 2018.

Uma pesquisa no Google pelas palavras-chave “Gulfstream + Austin + Honduras” levou ao relatório do acidente no portal Aviation Safety Network, uma base de dados que contém informações sobre incidentes aéreos de voos comerciais, militares e particulares. Segundo o site, no voo viajavam seis pessoas: dois membros da tripulação e quatro passageiros.

A AFP publicou um artigo sobre o acidente e identificou cinco das seis pessoas que estavam no avião: John Powell, Nicolle Swies, Robert Kasanter, Johan Hage e Alex Mirta. O sexto foi identificado por outros meios de comunicação como Joseph ‘Joe’ Rotunda.


As contas no LinkedIn de Swies, Kasanter, Powell e Rotunda mostram que eles eram ou são ligados à EZCorp, uma empresa de casas de penhores nos Estados Unidos, no Canadá e na América Latina, incluindo Honduras.

Rotunda se aposentou em outubro de 2019 de EZCorp, também segundo a sua conta no LinkedIn.

Kasanter, por sua vez, confirmou à equipe de checagem da AFP que esteve neste acidente aéreo: “No avião éramos quatro executivos da EZCorp e dois pilotos. Todos sobrevivemos, mas houve ferimentos graves”, contou.

O presidente hondurenho, Juan Orlando Hernández, publicou no mesmo dia um tuíte sobre o acidente, no qual declarou que “os feridos estão estáveis e atendidos”.

Além disso, a embaixada dos Estados Unidos em Honduras publicou um tuíte sobre o caso.


Ilesos?


Após o acidente, o porta-voz do Hospital Escola, Miguel Osorio, declarou à AFP que cinco pessoas que viajavam no avião foram internadas por terem sofrido pancadas. A sexta pessoa foi levada ao Hospital Militar mas, por instruções da embaixada dos Estados Unidos, todos os tripulantes da aeronave foram encaminhados a um hospital particular, assinalou Oscar Triminio, porta-voz dos bombeiros.

Joe Rotunda Jr, filho de um dos passageiros, tuitou em 27 de maio de 2018 agradecendo as mensagens de apoio. Indicou que seu pai estava sendo submetido a uma nova cirurgia após o acidente em Honduras, mas que esperava que voltasse para casa em breve. A publicação foi acompanhada por uma foto de seu pai sentado em uma cama de hospital, com o auxílio de oxigênio, levantando o polegar em sinal positivo.

Um conteúdo semelhante foi checado pelas equipes do Boatos.org, da Agência Lupa, do E-farsas e do Estadão Verifica.

Via AFP

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