"Hoje nossos prezados cidadãos, nosso modo de vida, nossa própria liberdade foi atacada em uma série de atos terroristas deliberados e mortais". Assim começava o discurso em rede nacional do então presidente dos Estados Unidos George W. Bush na noite de 11 de setembro de 2001, lançando as bases para a resposta militar norte-americana no Afeganistão e no Iraque no contexto da "guerra contra o terror" que se iniciava. Entre as poucas vozes que pediam moderação naquele momento, um desconhecido político do Senado de Illinois alertava: "apesar de nossa raiva, precisamos ter certeza de que nenhuma ação militar dos EUA tire a vida de civis no exterior". A afirmação, que foi publicada em um jornal local, era de Barack Obama.
Naquele dia, quatro aeronaves civis foram tomadas por terroristas. Uma delas caiu em uma área desabitada na Pensilvânia, outra se chocou contra o Pentágono, em Washington, e as últimas duas foram responsáveis pela cena que se gravou na memória de toda a nossa geração: o ataque ao World Trade Center, as Torres Gêmeas de Nova York. Ao todo, os ataques deixaram cerca de três mil mortos.
"Estamos em busca daqueles que estão por trás destes atos", prosseguia o discurso de Bush naquela noite. "Não faremos distinção entre os terroristas que cometeram estes atos e aqueles que os dão proteção".
Menos de um mês depois do atentado, Estados Unidos e seus aliados iniciaram um ataque aéreo no Afeganistão, onde estaria escondido o saudita Osama bin Laden - líder da Al Qaeda, a quem Washington atribuiu a autoria dos ataques. Essa era a primeira grande ação internacional de um presidente que estava há apenas nove meses no poder e até então era visto como um político provinciano criado no Texas que havia rejeitado o Protocolo de Kyoto destinado a combater o aquecimento global. Dois anos depois, Bush também lideraria a invasão ao Iraque, sob alegação de que o país dispunha de armas biológicas. Nos dois países - Afeganistão e Iraque - estimativas de ONGs falam de mais de cem mil mortes civis até agora.
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A reação de Obama
Na época em que os ataques de 11 de Setembro aconteceram, Obama era um proeminente político com uma cadeira no Senado de Illinois, e se dedicava a cuidar de sua segunda filha, Sasha, então com três meses de idade.
Ao contrário dos demais políticos locais, que no dia seguinte ao atentado, segundo a revista "New Yorker", mantiveram suas agendas de discussões em seus distritos eleitorais sem grandes mudanças, Obama parece ter refletido sobre os acontecimentos de 11 de Setembro. Uma resposta de Obama a essa questão de âmbito internacional foi publicada no "Hyde Park Herald" em 19 de setembro:
"Ainda que eu espere por medidas de paz e conforto para as famílias atingidas, eu também espero que nós, enquanto nação, tiremos alguma medida de sabedoria desta tragédia", escrevia o jovem político, que já havia passado pelas prestigiosas universidades de Columbia e Harvard.
"Certas lições imediatas são claras", continuava, citando medidas de segurança nos aeroportos e revisão do sistema de inteligência dos EUA. "Contudo, devemos nos empenhar em uma tarefa mais difícil: entender a origem desta loucura. A essência desta tragédia, me parece, deriva de uma fundamental falta de empatia entre os que realizaram os ataques: a inabilidade de imaginar, ou se conectar, com o sofrimento dos outros".
Obama concluía que essa "falta de empatia" não era inata, nem relacionada com determinada "cultura, religião ou etnia", mas era canalizada por "demagogos e fanáticos", ao crescer em ambientes de "pobreza, ignorância e desespero". A solução, portanto, deveria ser trabalhar pela "esperança das crianças" no Oriente Médio, na África, na Ásia, na América Latina, no Leste Europeu.
Depois disso, Obama iria ganhar cada vez mais destaque. Em 2004, é eleito membro do Senado nacional e, no ano seguinte, já é considerado uma estrela nacional. Nas primárias democratas de 2008, Obama supera a ex-primeira-dama Hillary Clinton e, finalmente, derrota o republicano John McCain nas eleições presidenciais, com uma campanha baseada na ideias de "mudança" e "esperança".
Em janeiro de 2009, depois de críticas e sapatadas, Bush deixou o cargo de presidente, em meio a uma forte crise econômica, e voltou para seu rancho no Texas, onde está escrevendo um livro sobre "as decisões difíceis" que tomou no poder. Obama, por sua vez, está próximo de completar nove meses como o primeiro presidente negro dos Estados Unidos, em um governo que, oito anos depois, ainda sente os efeitos de 11 de setembro de 2001.
Fonte: Thiago Scarelli (UOL Notícias) - Fotos: Reuters