Seu proprietário, Antonio Azevedo, era um empreiteiro ligado à construção de túneis em estradas, conta o historiador. Como tinha concessões em vários trechos paulistas e em Minas Gerais, precisava da oficina para manter um conjunto de aviões. “Montou aqui uma oficina para resolver o problema dele e passou a produzir algumas aeronaves”, comenta Figueiroa.
Ele relata que Azevedo tentou várias homologações, em vão. “Comissões do Ministério da Aeronáutica estiveram em Botucatu testando o primeiro modelo dele. Ele juntou vários profissionais da aeronáutica. Um deles era um engenheiro alemão que tinha uma planta para produzir um pequeno avião de quatro lugares. Parece que foram produzidos dois aviões, mas não foram homologados. Não conseguiram uma produção em série”, comenta.
Depois, Azevedo decidiu dedicar-se exclusivamente à empreiteira e os galpões foram ocupados por José Carlos Neiva, seu sócio. “Quando a Omareal quebrou, o Neiva usou as instalações em Botucatu”, acrescenta Paulo Urbanavicius, atual secretário adjunto da indústria de Botucatu e ex-diretor da Neiva e da Embraer. Ele conta que, desde a década de 40, Neiva já fabricava planadores para a Força Aérea Brasileira (FAB), usados no treinamento de pilotos.
O governo, então, pediu a regulamentação da empresa para evitar compras particulares. “Aí, foi fundada a Neiva, em Manguinhos, no Rio de Janeiro. Não sei de que maneira se associou a Omareal e veio para Botucatu. Depois, pegou um contrato da FAB para fabricar o Paulistinha. Até que, com a fundação da Embraer, o ministério passou a direcionar os contratos. Ele acabou vendendo a própria empresa em março de 1980”, conta Urbanavicius.
Por sua vez, a Embraer destinou à unidade de Botucatu a fabricação dos aviões de pequeno porte.
Idéia de indústria aeronáutica nasce na Segunda Guerra
Os princípios político-militares do Estado Novo e as exigências de ampliação da defesa nacional decorrentes da Segunda Guerra Mundial nutriram o ambiente no qual a Aeronáutica começou a planejar seu futuro, já prevendo a criação de uma indústria aeronáutica brasileira.
Segundo artigo publicado pela revista “Tempo Social”, da USP, a Embraer foi a concretização de um antigo projeto de militares da Aeronáutica. A questão estava ligada à problemática da segurança nacional e relacionava-se com o amplo engajamento dos militares no processo político brasileiro.
Nesse sentido, em sua origem, a Embraer assemelha-se às indústrias petrolífera e siderúrgica, que também contaram com ativa participação dos militares em sua instalação. Segundo o artigo a que o JC teve acesso via Internet, desde 1932 lideranças militares associadas a Vargas intuíam os vínculos entre potência industrial e militar. Perceberam que a segurança nacional, em grande medida, dependia de um projeto mais amplo de industrialização conduzido pelo Estado.
Deste modo, entre 1940 e 1950, foram criados a Força Aérea Brasileira (FAB), o Ministério da Aeronáutica, o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e o Centro Tecnológico de Aeronáutica (CTA). As instituições se tornaram o embrião da Embraer e demonstram o elo entre indústria aeronáutica e projeto político.
Empresa recupera segundo protótipo do Bandeirante
O segundo protótipo da aeronave Bandeirante foi recuperado pela Embraer e entregue, na última semana, ao Memorial Aeroespacial Brasileiro, em São José dos Campos. O gesto integra as comemorações de 40 anos da função da empresa. O avião, desenvolvido pelo CTA antes da criação da empresa, teve três protótipos. O número um está recuperado e exposto no Museu Aeroespacial, no Rio de Janeiro.
O terceiro também está exposto, mas no Parque Santos Dumont, em São José dos Campos, informa Pedro Ferraz, diretor-superintendente da Fundação Embraer. Ele relata que o protótipo número 2 não pertence à Embraer, mas à Fundação Santos Dumont. A comemoração dos 40 anos ainda contemplará uma exposição itinerante, que mostrará a história da aviação brasileira.
“A mostra vai rodar vários aeroportos do Brasil, inclusive Botucatu e Gavião Peixoto. Em agosto, no aniversário da Embraer, faremos o que a gente chama de ‘portões abertos’. Convidamos os empregados e seus familiares para conhecer a fábrica. Só que também vamos fazer uma exposição estática de aviões antigos, todos os que a gente já produziu”, acrescenta Ferraz.
O diretor-superintendente do Instituto Embraer adianta ainda que a programação festiva contará com um concurso de miniplanadores entre escolas de ensino fundamental de municípios como São José dos Campos, Botucatu e Gavião Peixoto. Cada equipe terá de desenvolver um planador com material reciclável. O vencedor será o que voar mais longe e ficar mais tempo no ar.
Fonte: Luciana La Fortezza (Jornal da Cidade de Bauru)