O cenário é o mesmo dos maiores aeroportos do Brasil: o terminal está lotado e os passageiros aguardam de pé ou até sentados no chão. Uma voz no alto-falante repassa informações sobre embarques e cancelamentos de voos. Mas na tela do aeroporto de Macaé, no litoral do Rio de Janeiro, as rotas não informam as cidades de destino, mas siglas, como P-12 e P-48, que indicam em qual plataforma de exploração de petróleo os passageiros vão desembarcar.
Todos os dias, a Petrobras encaminha para as empresas de helicóptero uma relação de nomes de funcionários ou trabalhadores de prestadoras de serviço que viajarão até as plataformas de petróleo. Os passageiros se informam sobre a empresa e o horário do voo no mural do próprio aeroporto. Antes de embarcar, seguem para uma sala na qual recebem as instruções de segurança. A lotação máxima é de 18 passageiros por voo. No helicóptero, todos vestem um colete laranja, usado para facilitar a identificação em caso de pouso na água. O trajeto varia conforme a distância entre 30 minutos até 1h30. Assim funciona o transporte da equipe que atua nas plataformas da Petrobras na Bacia de Campos. Em geral, a jornada inclui 14 dias de trabalho e 21 de folga, para os funcionários da Petrobras. A folga é menor para os terceirizados.
O aeroporto de Macaé recebe o maior movimento de helicópteros da América Latina, com cerca de 150 pousos ou decolagens por dia. O movimento acompanha a expansão das atividades da Petrobras e de seus fornecedores na Bacia de Campos. No primeiro bimestre deste ano, as operações somaram 9.455 pousos ou decolagens de aeronaves, 6% mais que no mesmo período do ano passado, de acordo com estatísticas da Infraero. Com este resultado, Macaé é o 15º aeroporto do país em movimentos de aeronaves, superando o de capitais como Vitória, Florianópolis e Manaus.
Ao todo, 58 mil passageiros embarcaram ou desembarcaram no aeroporto de Macaé nos dois primeiros meses do ano. O movimento supera inclusive o do aeroporto Campo de Marte, que somou 54,5 mil passageiros no período, e concentra o maior volume de tráfego de aviação executiva por meio de aviões fretados e helicópteros em São Paulo.
Um dos passageiro que voa a partir de Macaé é o técnico da Petrobras Wandeilde Ferreira da Silva, que trabalha em regime de embarque, ou seja, fica 14 dias seguidos na plataforma e folga 21 dias. Antes de entrar na Petrobras, há dois anos, Silva nunca tinha voado de helicóptero. Agora, embarca em um voo de 45 minutos até a plataforma P-48, na Bacia de Campos, duas vezes por mês.
Gargalos
O crescimento da atividade petrolífera na região aumentou a demanda por voos no aeroporto de Macaé. Mas a expansão do movimento de aeronaves esbarra em deficiências do sítio aeroportuário. Os principais gargalos são as limitações do terminal de embarque de passageiros e do pátio de aeronaves. A Infraero já anunciou um investimento de R$ 77 milhões até 2014 para ampliar o espaço.
O terminal de passageiros foi construído pela Petrobras e está em funcionamento há menos de dois anos, mas já está saturado. A reportagem do iG esteve no local no fim de maio e contabilizou mais de 250 pessoas aguardando embarque no saguão em um dia de sol, além dos passageiros que esperavam no lado de fora do aeroporto. Segundo os passageiros, em dias de chuva, quando o número de atrasos e cancelamentos aumenta, a concentração de pessoas é ainda maior.
“Antes da construção do terminal da Petrobras, a situação era pior. Os passageiros aguardavam em um saguão minúsculo”, afirma Wilton Pinheiro, que trabalha em Macaé no segmento petrolífero desde 2002. Este espaço, com menos de 20 cadeiras, é usado hoje apenas pelos passageiros da Team Linhas Aéreas, única companhia que opera linhas regulares no local.
O pátio tem apenas 45 posições para estacionar aeronaves - 38 para helicópteros e as demais para aviões. Segundo as companhias que atuam no local, há entre 60 e 70 helicópteros em operação no aeroporto de Macaé. Com o estacionamento lotado, as empresas precisam pousar em outros aeroportos da região ou transferir as aeronaves para os hangares para liberar posições no pátio.
A companhia BHS Helicópteros estima que deixou de operar até três voos por dia pela limitação do pátio no aeroporto de Macaé. “Precisamos mover nossas aeronaves do box para o hangar para outras poderem pousar. Mas muitas vezes não podemos voar porque falta posição em solo”, afirma Venceslau Ribeiro, gerente de operações da BHS. Cada um dos 23 helicópteros da companhia realiza entra quatro e cinco voos diários. Em 2006, a frota da companhia somava apenas nove aeronaves, mas, o aquecimento do setor puxou a ampliação.
A saturação do pátio é mais grave em Macaé do que em outros aeroportos focados em transporte regular justamente porque o movimento é de helicópteros. Diferente dos aviões, os helicópteros possuem tanque de combustível reserva com uma capacidade menor e não podem aguardar no ar a liberação de espaços. “A reserva é de 30 minutos. Não há combustível para girar no ar. O pior momento é o fim de tarde, quando as aeronaves retornam”, afirma Sergio Moura, chefe dos pilotos da Aeróleo Taxi Aéreo, que opera dez helicópteros na região, seis deles em Macaé.
Voos cancelados
Foi o que aconteceu com o voo de , técnico da Petrobras há mais de 20 anos. Residente em Vitória (ES), Nunes foi a Macaé apenas para embarcar em um helicóptero rumo a uma das plataformas. Sem aeronaves disponíveis, Nunes foi encaminhado para um hotel e, a jornada de trabalho, adiada para o dia seguinte.
Uma situação comum no aeroporto de Macaé é o cancelamento de voos. Além dos motivos climáticos, as operações são canceladas por insuficiência de aeronaves para levar todos os funcionários previstos em um dia. “Quando chove, os voos são cancelados e transferidos para o dia seguinte. Mas nem sempre há aeronaves disponíveis para levar todos os passageiros”, afirma Moura.
Fonte: Marina Gazzoni - Fotos: Helio Motta