Considerada a maior empresa voltada para a área de remessa expressa no mundo, a companhia norte-americana UPS, que conta atualmente com cerca de 100 mil veículos em sua frota e mais de 425 mil funcionários em todo o mundo, afirma estar de olho em mercados emergentes. Por conta disso, declara que a estratégia é voltar suas atenções com maior ênfase ao mercado sul-americano, em que países que despontam em crescimento, como o Brasil, têm atraído investidores de diversos setores, e, com isso, impulsionado cada vez mais a economia local.
Logo, como o cenário é de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e a política monetária demonstra fôlego nos próximos anos, a UPS coloca o Brasil como seu principal foco de crescimento. A companhia é considerada a 9ª maior empresa aérea no mundo, com quase 600 aviões em sua frota.
Fundada em 1907, em Seattle, nos Estados Unidos, a empresa faturou no ano passado US$ 45,3 bilhões, e mantém a média de entrega diária 15,1 milhões de pacotes e documentos. A companhia atua em mais de 200 países e atende a aproximadamente 7,9 milhões de clientes por dia no mundo.
A presidente do grupo no Brasil, Nadir Moreno, acredita que as operações deste setor irão crescer 12% este ano no Brasil. Além disso, ela prevê que o grupo fará um forte investimento no Brasil, principalmente pela força e estabilidade da economia do País.
Segundo a executiva, o Brasil é o segundo mercado da UPS na América Latina, perdendo somente para o México, que conta com uma subsidiária da empresa desde 1980.
Na América Latina, a empresa se instalou em 1980 e hoje atende a mais de 50 territórios, com uma frota de 1.200 veículos e 51 voos entre países da América.
Leia abaixo a entrevista da presidente da UPS no Brasil ao programa "Panorama do Brasil". Participaram os jornalistas Roberto Müller, do "Panorama do Brasil", na companhia de Camila Abud, editora de Serviços, Comércio e Caderno São Paulo do DCI, além de Milton Paes, da rádio Nova Brasil FM.Roberto Müller: Como está a empresa atualmente? Como a empresa superou a crise econômica global que se instalou no final do quarto trimestre de 2008, e qual o papel do Brasil para a empresa neste cenário mundial?
Nadir Moreno: A UPS na verdade é uma empresa centenária: vai completar 102 anos em agosto deste ano. Somos a maior empresa de remessa expressa no mundo e a líder mundial em cadeia de suprimentos; para dar a dimensão disso, em 2008 o faturamento mundial foi de US$ 51,5 bilhões. A empresa conta atualmente com 425 mil funcionários pelo mundo, dos quais aproximadamente 300 são apenas nos Estados Unidos; afora isso, contamos com quase 100 mil veículos, entre vans, tratores e outros veículos que compõem a nossa frota total. Além de tudo isso, somos a nona companhia aérea no mundo, com aproximadamente 600 aeronaves. Se compararmos com a TAM Linhas Aéreas, que é a maior companhia de aviação do Brasil, e conta com apenas 137 aeronaves, então a dimensão é ainda maior; a diferença é que as da TAM são de passageiros e as da UPS são cargueiros.Milton Paes: Qual é o panorama da empresa no Brasil?
Nadir Moreno: No Brasil, considerando todo este universo, ainda somos pequenos. Chegamos aqui em 1989, com alguns agentes, e logo depois, em 1995, a UPS estabeleceu uma subsidiária, ou seja, estamos no mercado brasileiro há 15 anos, e ainda consideramos a fase atual um começo, considerando o setor logístico e de indústria como um todo. Atualmente contamos com 600 funcionários diretos no País. Entretanto, temos mais de 3.000 funcionários indiretos, porque temos muitos parceiros para cobrir toda a geografia e toda a capilaridade necessária na entrega e coleta no Brasil.Milton Paes: Sabemos que para as companhias de logística expressa internacionais o Brasil tem uma importância estratégica muito positiva. Inclusive, no período da crise econômica, o País foi muito importante para muitas matrizes de empresas dos Estados Unidos. No caso da sua empresa essa situação foi diferente?
Nadir Moreno: Não, a história foi praticamente igual à das outras empresas. Com a crise fomos muito afetados, se considerarmos o setor industrial que como um todo foi bastante afetado: a queda foi de 38% na importação e de 32% na exportação. E a UPS teve o mesmo resultado diante desses números negativos, com a crise. O lado positivo de possuir uma subsidiária no Brasil é que o País entrou depois, e saiu antes, da crise, e isso nos deu uma segurança maior e chamou a atenção da corporação, que é americana, tem sede em Atlanta, pois o Brasil demonstrou na prática que está muito forte e estruturado na sua economia.Camila Abud: O setor tem a expectativa de obter um crescimento na casa dos 25% este ano. O que a empresa acha desse crescimento?
Nadir Moreno: Acredito que a projeção para este ano era crescer em relação a 2008, porque com a crise não se tem um parâmetro justo de comparação de crescimento. Logo, acredito que 12% de crescimento perante 2008 seria muito mais realista, pois o ano retrasado foi afetado no seu último trimestre com a crise, mas, se analisarmos o primeiro trimestre de 2008 contra o primeiro trimestre de 2010, já consta um crescimento em praticamente todas as indústrias. O setor da logística cresce conforme o Produto Interno Bruto (PIB), e nossa expectativa de crescimento este ano é de 6%. O setor cresce acima disso, o que significa que a economia cresceu. As empresas se retraíram de uma forma muito mais agressiva do que deveriam, com a crise, e hoje estão correndo atrás do tempo perdido porque precisam continuar colocando no mercado matéria-prima, e continuar produzindo, por isso fomos surpreendidos positivamente pelo efeito da crise. Todos sabiam que este ano seria um ano melhor, mas não tão rápido quanto foi. A UPS recebeu a visita do presidente internacional, ele esteve no Brasil em março, e visitou inclusive Brasília (DF), com reuniões com o ministro do Desenvolvimento e Comércio, com a Receita Federal, e todos os órgãos que na verdade tiveram os laços fortalecidos para nos dar uma certa visão do que seria investir no País. E com isso o presidente da empresa garantiu que o foco serão Brasil, Índia e Rússia, este ano.Milton Paes: Como você comentou anteriormente a importância do Brasil para a UPS, eu realmente acredito que isso tudo enfatizou ainda mais que vale a pena investir no País. No ano passado a empresa aumentou a sua atuação no mercado brasileiro?
Nadir Moreno: Sim. Na verdade, no ano passado, em plena crise, é interessante a ousadia de estar sempre inovando, o mercado é muito dinâmico. Tanto é assim que no ano passado a UPS aumentou um pouco o seu portfólio, que já é extenso, em serviços domésticos expressos. Implementamos este serviço para incrementar e oferecer à carteira de clientes, para que eles possam usar essa 'perna' doméstica conosco, não com o concorrente. Era mais para complementar o portfólio, pois atualmente atuamos com a coleta da entrega, a entrega expressa, e transportamos com os nossos próprios aviões, dividindo por características e categoria, dependendo da necessidade do cliente. Se você tem pressa, ou tem tempo, nós encontramos uma solução que seja adequada à sua necessidade, otimizando recursos e preços.Roberto Müller: Internacionalmente, vocês têm um grupo controlador, ou tem ações na Bolsa? Se têm quando abriram o capital?
Nadir Moreno: A UPS tem as ações na Bolsa de Nova Iorque, nos Estados Unidos; abrimos capital em 1999 porque até então a empresa era totalmente privada, e agora está na Bolsa. Uma parte da UPS está dividida entre 35.800 funcionários, que têm essas ações. Hoje o funcionário detém e administra essas ações através de um programa interno da empresa que lhe dá essa oportunidade, tanto por merecimento, dentro do pacote de compensações, quanto por compra dessas ações, que podem ser vendidas com desconto para fomentar essa participação.Roberto Müller: Você poderia nos dizer quanto tem de participação na companhia?
Nadir Moreno: Prefiro não comentar, mas aposto muito na empresa, e sou supermarrom, que é a cor da UPS. As ações estão subindo absurdamente: se na crise caíram, agora estão ficando superinteressantes.Roberto Müller: Quanto representa hoje a UPS no Brasil em relação À rede mundial? E quanto representará o País depois dos investimentos que serão realizados no Brasil, na Índia e na Rússia?
Nadir Moreno: Na verdade o Brasil é hoje nosso segundo mercado na América Latina, o México continua sendo o maior, porque ele tem toda a economia de escala e porque começou muito antes que o Brasil, e o tempo conta muito. O México começou suas operações em 1980, então ele tem um tempo muito maior para conquistar espaço no mercado. Quando eu cheguei já havia os players, que atualmente nós brigamos para ganhar os clientes, teremos de mostrar o nosso diferencial e conquistar espaço. As oportunidades são grandes, o Brasil cresce e gera muitas oportunidades. Mas a representatividade global ainda é muito pequena, se comparada à de países como Canadá, Alemanha, Japão e a própria China, que recebeu nos últimos tempos investimentos fortíssimos da empresa, e os olhos focados como qualquer indústria. E agora a UPS decidiu reduzir um pouco as ações na China e voltar os olhos para outros mercados emergentes que demonstram que têm futuro. Espero que o Brasil seja o número-um contra Índia e Rússia, e, considerando todas as particularidades que tem a última que citei, contamos com essas dificuldades para que o foco da empresa fique entre Brasil e Índia. Farei todo o possível para que o nosso País seja o foco principal. Quanto o Brasil irá representar depois disso vai depender do total de investimentos, dentro da estratégia que está sendo desenhada em relação ao produto e à divisão em que iremos atuar.Roberto Müller: Qual o valor dos investimentos previstos para o Brasil?
Nadir Moreno: Na verdade, nós ainda não definimos esse valor; com a vinda do presidente mundial, esse grupo todo está analisando e entendendo mais e melhor o mercado para tomar uma decisão, mas acredito que seja um grande investimento. Depois de eles tomarem a decisão seremos avisados aqui, no Brasil. Inicialmente só poderíamos comentar esses planos com acionistas da empresa.Milton Paes: Parece que a UPS é uma corporação que investe muito no material humano, não só com os seus funcionários, mas com as comunidades em que atua, pois vocês têm uma fundação, não é? Essa questão do funcionário acionista, que nos Estados Unidos é muito comum, mas que no Brasil é uma história ainda diferente, é uma forma de a empresa reconhecer e investir no trabalho daquele funcionário; porque se você tem ações daquela empresa, você é o dono daquela empresa, então a expectativa é de que a empresa consiga bons resultados. Fale um pouco sobre isso.
Nadir Moreno: A UPS tem quatro pilares fortíssimos: as pessoas, os clientes, a comunidade e os acionistas, não necessariamente nesta ordem, ou melhor, não há prioridades entre os quatro, pois sem pessoas não há clientes, e sem clientes não tem por que ter pessoas. Então os quatro são muito importantes para nós. A UPS tem um programa que chama MIP (management incentive plan, que significa plano de incentivo de gerenciamento), que faz parte do pacote de compensações de salário e benefícios, criado em 1950 por Jim Casey com o intuito de dar ações em troca de resultados e performance. E o mais interessante de tudo isso é que ele as deu primeiro aos motoristas, que para ele eram o core business [parte central de um negócio ] deste setor, pois para ele a imagem do motorista com as entregas e coletas era a imagem da empresa -ele era um visionário magnífico-, e com isso ele tinha lealdade e compromisso dos funcionários, que eram os donos da empresa: fosse qual fosse o tamanho da ação, eles eram os donos da empresa. E no Brasil não é diferente, este programa é mundial. Nos recursos humanos, que é a área em que eu atuava, ele utiliza isso para fomentar e motivar esse grupo de funcionários, merecedores dos seus resultados para deter ações e serem também donos da enorme empresa que é a UPS. Quanto à comunidade, a UPS tem um braço filantrópico, a UPS Foundation, fundada em 1951 porque Jim Casey acreditava que deveria devolver à comunidade o que ela lhe trouxera; o seu negócio começou em um delivery, em 1907, quando a empresa foi fundada, pegando pequenos pacotes e cobrando frete pela entrega. Essa é a política: ajudar a comunidade onde vive. Hoje temos diferentes programas, no Brasil investimos em projetos sustentáveis, como criação de creches e construção de escolas.Camila Abud: Gostaria que você falasse um pouco sobre a sua história na UPS, passando pelo RH e chegando à presidência: você é a primeira presidente feminina, em um País que cada vez mais quebra barreiras neste sentido.
Nadir Moreno: A minha promoção, a decisão da UPS de me colocar nesta posição chamou um pouco a atenção porque quebrou um certo paradigma; pelo fato de ser esta uma empresa de transportes de carga, até então a presidência era uma posição masculina, e, vindo do RH, foi mais interessante ainda. Na minha carreira eu trabalhei, nos últimos 10 anos antes da presidência, na área de recursos humanos; sou formada em Direito, gostava muito de trabalhar com as pessoas, e minha carreira estava desenhada para recursos humanos, porque dentro da UPS tem um projeto muito grande de planejamento de carreira, você é preparado para isso. Em 2007, quando saiu o presidente da empresa no Brasil, que não era brasileiro, mas argentino, eles me convidaram para participar da seleção de candidatos para ocupar esta posição, e me prepararam por seis meses. Fui enviada a diversos países para entender todo o universo de operações da empresa, e quando retornei fui promovida. Para mim isso foi muito bom, mas fiquei surpresa. Hoje existem outras mulheres na linha de frente da empresa, em países como México, Equador, Peru e Bolívia, ou melhor, na América Latina são quatro mulheres já.Roberto Müller: Eu desconfio de que a sua formação na área de RH é fundamental para o crescimento acelerado que vocês estão almejando para o Brasil, principalmente pela relação com as pessoas, É isso mesmo?
Nadir Moreno: Você tem toda razão, e essa característica de recursos humanos ajudou muito, porque é exatamente isso que se busca na empresa atualmente: recursos existem, tecnologia também, temos de buscar agora a estratégia e a criatividade dos próprios funcionários para que o negócio continue a crescer do jeito como está crescendo.Fonte: DCI