Primeiro Kelly publicava anúncios em jornais, nos quais oferecia as passagens. Paralelamente a isso, ela conseguia extrair informações de pessoas (como nome completo e número de CPF), de forma que pudesse efetuar compras através dos seus respectivos cartões de crédito, via telefone ou internet.
A delegada Beatriz Machado, titular da Delegacia de Repressão a Crimes Tecnológicos (DRCT), diz que Kelly obtinha os dados pelo chamado “Golpe do Telefone”. “Geralmente, ela ligava para a recepção de hotéis frequentados por pessoas de elevado nível de renda ou para residências”, ressaltou.
Ainda segundo a delegada, ao ser atendida - no caso de hotéis -, Kelly solicitava que a ligação fosse transferida para um determinado quarto. Nesse momento, ela conseguia o nome do cliente. Em seguida, se passava por uma funcionária de uma empresa de aviação comercial, identificando-se como Mariana.
Durante o contato com a vítima, a golpista comunicava ao cliente que ele não havia preenchido corretamente o bilhete de uma passagem, ao passo que necessitava confirmar os dados. Caso a vítima tivesse realizado uma viagem aérea, o procedimento era bem-sucedido.
Com as informações disponíveis, Kelly tinha acesso ao saldo dos cartões de créditos, o que lhe proporcionava cacife financeiro para comprar passagens aéreas para qualquer lugar do Brasil.
Sendo assim, quando os interessados nas passagens lhe contatavam, Kelly realizava a compra, mas explicava aos clientes que os mesmos deveriam confirmar pessoalmente a emissão do bilhete à empresa de aviação. Além disso, ela fornecia o número de uma conta bancária para o depósito de R$ 300,00 - para o caso de passagem de ida -, ou R$ 500,00 para o caso de passagem de ida e volta.
Algumas das vítimas foram consultadas por suas respectivas operadoras de cartão de crédito a respeito da compra das passagens. Outras vítimas não conseguiam realizar a suposta viagem paga ou só concretizavam a viagem de ida, mas sem retorno. Assim, descobriam que tinham sido vítimas de um golpe.
As ações de Kelly resultaram em 15 denúncias na DRCT e culminou na operação “Voando alto”, iniciada em novembro de 2009. Após adotarem diversas estratégias, policiais da DRCT, com auxílio da Delegacia de Repressão a Roubos de Cargas (DRRC), cumpriram o mandado de prisão de Kelly Cristina, expedido pelo juiz Pedro Sotero, da 1ª Vara Criminal e Medidas Cautelares.
A prisão ocorreu no final da tarde de anteontem, quando tentava alugar um novo apartamento, no condomínio “Meu sonho”, localizado no bairro Jiboia Branca, em Ananindeua.
“Ela frequentemente trocava de endereço para dificultar sua localização por parte das vítimas e da polícia”, observou a delegada Beatriz Machado.
Beatriz afirma que Kelly aplica golpes desde 1997 e responde a 14 inquéritos na Justiça. Em 2006, ela foi presa pela Polícia Federal durante a operação “Balaústre”, cujo alvo foram integrantes de uma quadrilha que utilizava, sem autorização, dados de aposentados e pensionistas para obter empréstimos em instituições financeiras.
Atualmente, Kelly Cristina gozava de liberdade provisória. No entanto, agora terá que responder a mais 15 inquéritos, dessa vez, por estelionato e falsa identidade. Ela foi encaminhada para o Centro de Recuperação Feminino, localizado no bairro do Coqueiro, em Ananindeua.
Fonte: Diário do Pará