Alguns aspectos devem ser colocados em perspectiva para elucidar essa questão. Um deles é sobre a dificuldade do voo espacial feito fora da atmosfera (no vácuo sideral) em comparação com aquele realizado pelos foguetes enquanto ainda viajando pela atmosfera terrestre. No vácuo os movimentos das naves são feitos também por foguetes, num ambiente onde não há resistência do ar nem turbulências. Para ir de um ponto ao outro o foguete é disparado por um breve período de tempo e isso basta para colocar em marcha a nave, que viaja então sem auxílio de qualquer motor até que, no ponto de destino, os foguetes são novamente acionados no sentido contrário ao movimento para parar a nave. Enquanto a situação é esta para o vôo no vácuo, a situação é totalmente diferente no caso do vôo saindo do chão e alcançando velocidades de até 35 mil Km/h, necessários para entrar em órbita da Terra em apenas 8 minutos de duração. Nesse breve período, a turbulência provocada pelo ar é incrível e a potência requerida enorme para dar este impulso fantástico a toneladas de carga útil. Quem já viajou em aviões comerciais a quase 900 Km/h e já experimentou turbulências, pode talvez imaginar o que seria cruzar a atmosfera a velocidades 20 ou 30 vezes maiores.
De fato, como qualquer engenheiro ou cientista sabe afirmar com segurança, o voo pela atmosfera com tanta aceleração, peso e volume representa um desafio muito além daquele que é o do movimento no vácuo. E isto é interessante: na parte mais crítica do voo à Lua, que é este de sair do chão com milhares de toneladas de equipamento que deveriam estar em órbita poucos minutos mais tarde a velocidades tão altas, mais de um milhão de pessoas presenciaram o lançamento do gigantesco foguete Saturno V em Cabo Kennedy - e mais de um bilhão de pessoas em todo o planeta pela TV no dia 16 de Julho de 1969.
Como dissemos, uma vez no espaço, no vácuo sideral, a viagem é muito diferente: depois de terem saído da superfície terrestre e entrado em órbita, os astronautas da Apollo 11 ligaram os motores do terceiro estágio por alguns poucos minutos para então desligá-los e deixar a inércia levá-los em total silêncio e suavidade até a Lua, numa jornada de quase 4 dias. Descer na Lua requereu um pequeno motor para frenar uma pequena nave - o Módulo Lunar - e pousar suavemente no nosso satélite. Foi preciso um motor muito menor e muito mais simples para esta fase do vôo porque na Lua não há atmosfera e sua gravidade é 6 vezes menor do que a da Terra.
Outro aspecto interessante é sobre a tecnologia disponível nos anos 60. É importante saber que hoje em dia pouco ou quase nada mudou em relação à tecnologia utilizada na época no que tange aos motores de foguete. O que mudou muito foram os computadores e os aplicativos de software que servem para controle e navegação nesses voos. Mais interessante ainda é que os foguetes atuais, que utilizam a maioria da tecnologia dos anos 60, têm potência muito menor do que a do Saturno V que levou o homem à Lua. Questões de economia e prioridade de investimentos focaram em manter o voo tripulado nas cercanias da Terra. Aquilo que é nosso dia-a-dia tecnológico hoje estava sendo criado para o Programa Apollo nos anos 60, e estava então disponível apenas para o Programa Espacial, sendo transferido definitivamente para a indústria nos anos subseqüentes.
Nós fomos à Lua. Para quem quiser ver ou provar isso hoje, é na verdade exeqüível e até muito fácil: em 20 de Julho de 1969 Neil Armstrong instalou um espelho refletor de luz laser próximo ao local de pouso do Eagle (Módulo Lunar) no Mar da Tranqüilidade. Existem vários laboratórios no mundo com fontes de luz laser capazes de alcançar a Lua com um feixe coerente. Se este espelho estiver mesmo lá no local onde Armstrong e Aldrin dizem que pousaram, esta luz seria, se apontada para lá, refletida de volta à Terra e mostraria a distância conhecida da Terra à Lua. Pois bem, isto é feito milhares de vezes por dia (todos os dias, inclusive hoje, neste mesmo momento em que você está lendo este texto) exatamente como se esperava, apontando o laser para aquele local do pouso. Basta ir a um desses laboratórios e comprovar - ou melhor ainda, acessar os dados pela internet, esse mecanismo de comunicação global, fruto direto da exploração espacial dos anos 60.
Dario Sassi Thober
Diretor do Centro Wernher von Braun
Consultor do projeto especial “40 anos do Homem na Lua” da Globo News