O agricultor Cícero Pereira foi o primeiro a chegar ao local do acidente O Co-Piloto Augusto Cesar Nóbrega O piloto Fernando Chagas Abreu
A tragédia se confirmou. Eram aproximadamente 7 horas de ontem, chovia fino e a região estava envolta em um forte nevoeiro, com temperatura baixa (em torno de 18 graus) quando um morador da Serra do Carrasco, situada neste Município (a 397Km de Fortaleza), na divisa do Ceará com o Piauí, encontrou os destroços do avião bimotor que havia desaparecido, na noite anterior, naquela área inóspita e de difícil acesso.
Em meio ao que restou da aeronave modelo Seneca, prefixo PT-RBS, estavam os corpos dos dois tripulantes. O piloto Fernando Antônio Chagas Abreu, 50 anos; e o co-piloto, Augusto César Nóbrega, 51, ambos cearenses, morreram na queda do avião que procedia do vizinho Estado do Piauí transportando um carregamento de malotes bancários. A Polícia não confirmou a existência de dinheiro nos malotes.
O avião estava a serviço dos Correios e decolara da cidade de Picos (PI) na tarde de quarta-feira. Faria escala nas cidades de Crateús e Sobral antes de chegar a Fortaleza. Mas, por volta das 18h30, os moradores das localidades de Liberdade, Queimadas e Sítio Palmeiras, no sopé da Serra do Carrasco, e no limite dos Municípios de Novo Oriente (CE) e São Miguel do Tapuio (PI), foram surpreendidos com o vôo rasante do avião branco com listras azuis. “O barulho do motor estava muito estranho e todas luzes apagadas”, contou a dona-de-casa Ana Lúcia Alexandre da Costa, 43, que estava em casa na companhia dos três filhos. Logo em seguida, os agricultores ouviram um forte barulho vindo da mata.
Começava ali uma intensa movimentação de curiosos na região em busca de saber o que realmente tinha acontecido. Só por volta das 19h30, a notícia chegou ao conhecimento do destacamento policial de Novo Oriente. A suposta queda de um avião na serra foi transmitida ao quartel dos Bombeiros de Crateús. Logo, uma equipe de buscas, comandada pelo major BM Antônio Jucival Nunes, e formada por mais seis bombeiros, quatro policiais militares (da Força Tática de Apoio/FTA) d0 7º BPM e dois guardas municipais de Novo Oriente, se dirigiram à região.
Procura
A notícia se espalhou rapidamente na divisa dos dois estados. A escuridão na mata e sua densa vegetação não desanimou as pessoas a procurar o avião. “A população nos ajudou bastante”, disse o major Nunes.
O oficial afirma que iniciou a varredura na Serra do Carrasco por volta de 21 horas. Houve um breve intervalo de apenas alguns minutos - entre três e quatro horas - mas já era manhã quando, finalmente, os destroços do aparelho e os corpos foram achados.
A queda do bimotor abriu uma clareira em meio à mata fechada. O avião arrastou-se por cerca de 200 metros, levando consigo muitas árvores, até parar já totalmente destroçado. As asas e a parte frontal da cabine ficaram completamente destruídas.
Segundo os Bombeiros, o piloto, conhecido entre os colegas de aviação civil como comandante Fernando, foi encontrado morto ainda na sua poltrona, preso pelo cinto de segurança. Ele foi atingido por vários pedaços de tronco de árvores. Já o corpo do co-piloto foi resgatado debaixo dos destroços da fuselagem.
A Polícia recuperou 26 malotes bancários que eram levados no compartimento de cargas da aeronave. As etiquetas nas sacolas indicavam que eles haviam sido recolhidos em agências bancárias de várias cidades do Interior piauiense, entre elas: São João, Picos, Inhuma, Itaueira, Corrente, São Benedito e Bom Jesus.
Por volta de 10 horas, os corpos dos tripulantes e os malotes foram retirados do local. Voluntários ajudaram os bombeiros no trajeto de descida da serra. Os cadáveres foram conduzidos envoltos em lençóis, pendurados a troncos de árvores e conduzidos no ombro. Foram levados até São José do Tapuio e, depois, trasladados para o IML de Teresina.
ESPECULAÇÕES - Falha de motor pode ter causado a queda
Ainda na manhã de ontem, uma equipe de peritos do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), órgão do Ministério da Aeronáutica, chegaram à Novo Oriente com a missão de iniciar o trabalho de apuração das causas do desastre com o bimotor.
Os especialistas não quiseram dar nenhuma declaração à Imprensa. Com a ajuda de policiais e bombeiros, eles foram ao local da queda do bimotor e fizeram as primeiras pesquisas de campo: tiraram fotografias, recolheram peças da aeronave e determinaram que o local permanecesse isolado.
As causas do acidente só deverão ser conhecidas, oficialmente, no prazo mínimo de 120 dias. Porém, as especulações no local do desastre apontavam para uma possível falha em um dos motores da aeronave. Diante do problema, os tripulantes teriam desligado todos os componentes elétricos e tentado um pouso em uma área aberta, mas a velocidade da queda projetou o avião contra as árvores. Por onde o avião passou, deixou para trás uma trilha de pedaços da fuselagem, das asas e hélices.
Encontrou
Foi o agricultor Cícero Teixeira de Anchieta que encontrou primeiro os destroços do avião. Depois de passar a noite subindo e descendo a Serra do Carrasco, na companhia dos bombeiros, policiais militares, guardas municipais e outros voluntários, ele decidiu arriscar uma estratégia.
Cícero foi à casa de um dos agricultores que disse ter visto o avião caindo. Traçou uma rota de buscas e, sozinho, voltou para a mata. Cerca de uma hora depois, deparou-se com a cena da tragédia.
OS MORTOS - Tripulantes tombaram em serviço
Fernando Chagas Abreu
O aeronauta Fernando Antônio Chagas Abreu, nascido em 9/10/1957, era cearense e pilotava o aparelho que caiu, na noite de quarta-feira, na Serra do Carrasco. Era a primeira vez que ele fazia aquela rota, entre o Ceará e Piauí.
Augusto César Nóbrega
Nascido aos 26/11/1956, Augusto César Nóbrega era o co-piloto da aeronave de prefixo PT-RBS que sofreu o acidente. Seu corpo foi arremessado da cabine e encontrado embaixo dos destroços da fuselagem do bimotor.
Fontes: Diário do Nordeste / Vinicius Morais - Fotos: Cid Barbosa / Arquivo das Famílias