Marco Antonio Bologna, presidente da holding que comanda a companhia aérea, é quem busca oportunidades para o grupo. A nova tacada é a criação de uma nova empresa de transporte offshore
O executivo Marco Antonio Bologna pode dizer que passou por quase todos os grandes eventos envolvendo a companhia aérea TAM. Trabalhou em conjunto com Rolim Amaro, o lendário fundador da companhia, foi presidente da empresa e se viu no meio de uma crise profunda, quando um avião da empresa caiu em Congonhas, em julho de 2007 –, o que o desgastou obrigando a deixar o comando da empresa.
Bologna: "Esta será uma das maiores empresas dentro do nosso grupo e também dentro do setor"Em março de 2009, ele voltou como presidente da TAM Jatos Executivos, o braço da companhia que vende aviões particulares, e, desde abril deste ano, por indicação da família Amaro, assumiu a presidência da holding. Hoje, Bologna é o estrategista que fareja novas oportunidades de negócios para o grupo.
E a mais nova aposta do executivo já foi delineada e será colocada em prática até o fim do ano. Trata-se da entrada da TAM no setor de transportes offshore, que leva funcionários de petroleiras do continente para as plataformas. “Estamos de olho nos negócios que serão gerados com o pré-sal”, diz Bologna com exclusividade à DINHEIRO.
Grande filão: só a Petrobras desloca 65 mil funcionários entre o continente e as plataformas de petróleo todos os mesesA TAM não vai entrar sozinha no novo negócio. Bologna negocia a formação de uma joint venture com a americana Petroleum Helicopter Inc. (PHI). Com frota de 260 helicópteros e operação em mais de 40 países, a PHI é, segundo o executivo, “a segunda maior operadora de transporte offshore do mundo” (a primeira é a Bristow Group).
No ano passado, a receita operacional da companhia americana foi de US$ 487,1 milhões e o lucro operacional somou US$ 51,3 milhões – só com o transporte offshore. A nova empresa da TAM, que inicialmente vai operar com três helicópteros, chega para incomodar a concorrência.
“Vamos brigar com a Líder pela dianteira no setor do transporte offshore”, diz em referência à sua principal concorrente, a Líder Aviação. E a briga promete repetir aqui, o que já acontece no cenário externo. A Bristow, principal concorrente da PHI no Exterior, tem 42,5% do capital da Líder – cuja receita, em 2009, atingiu R$ 600 milhões.
“Claro que há espaço para mais competidores e a TAM é muito bem-vinda. Minha única pergunta é: de onde eles vão tirar piloto?”, alfineta o presidente da Líder Aviação, Eduardo Vaz. Segundo ele, o grande problema do segmento de transporte offshore é a falta de infraestrutura aeroportuária – uma vez que os embarques a partir do continente são realizados obrigatoriamente de aeroportos – e carência de mão de obra especializada. A TAM tem duas opções: ou usa sua experiência em treinar equipe própria ou pode contar com a aprovação de um projeto de lei que tramita no Congresso que permitirá “importar” pilotos do Exterior.
O principal cliente neste segmento é a Petrobras que, sozinha, demanda helicópteros para deslocar nada menos que 65 mil passageiros entre o continente e as plataformas de petróleo em alto-mar todos os meses. Esse tipo de transporte gera receita anual de US$ 500 milhões e, nos últimos cinco anos, vem registrando crescimento da ordem de 10% ao ano.
Com a entrada do pré-sal em cena, os players do segmento apostam que ele vai dobrar de tamanho em menos de uma década. A rentabilidade também é de encher os olhos de qualquer executivo do transporte aéreo.
Enquanto nas companhias de aviação comercial a margem de lucro gira ao redor de 5%, no transporte aéreo offshore ela chega a 20%. Mais: especialistas acreditam que esse é o momento certo para entrar no segmento. “A Petrobras é a principal cliente, mas não é a única.
Há novas empresas se formando nesse mercado por conta do pré-sal”, diz Respício Santos, professor de transporte aéreo da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Não posso dizer quanto pretendemos faturar, mas posso garantir que será uma das maiores empresas dentro do nosso grupo e também dentro do setor”, diz Bologna.
O executivo hoje despacha na mesma casa em que foi convidado a ingressar na TAM, quase dez anos atrás. O sobrado no bairro paulistano do Jabaquara, onde eram realizadas as degustações das refeições servidas na primeira classe da TAM, foi transformado num escritório com design moderno. “Dona Noemi vem aqui com frequência”, diz o executivo referindo-se à viúva de Rolim Amaro. É ali o escritório do estrategista da família.
Além do negócio de transporte offshore, Bologna trabalha em outras frentes. Em outubro do ano passado, transformou o programa de fidelização da TAM numa unidade independente de negócio, batizada de Multiplus Fidelidade, que permite usar os pontos do cartão em troca de serviços.
Bologna também quer impulsionar os negócios do centro de manutenção de aeronaves, que fica em São Carlos, no interior de São Paulo. “É um dos centros mais modernos do mundo e o que a gente quer é que seja também uma nova fonte de receita para o grupo”, diz. A ideia é ter um parceiro também nessa área. “Não vamos abrir o capital, mas queremos um sócio.” Alguém se candidata?
Fonte: Eliane Sobral (IstoÉ Dinheiro) - Fotos: Roberto Setton / Stéferson Faria (Ag. Petrobras)