terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Em enterro de vítima do AF 447, pai acusa falha mecânica

Nelson Filho é a primeira vítima do acidente a ter um enterro formal.
Seu corpo foi um dos 104 retirados do oceano na operação que ocorreu em junho deste ano
O corpo do mecânico de engrenagens Nelson Marinho Filho, uma das vítimas da queda no Atlântico, em maio de 2009, do voo 477, da Air France, foi sepultado às 17h desta segunda-feira no cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, zona oeste do Rio de Janeiro. O corpo de Nelson Filho foi um dos 104 retirados do oceano na operação que ocorreu em junho deste ano e o primeiro dentre esses a ser enterrado. No total, 18 dos 103 corpos identificados são de brasileiros. Na cerimônia, seu pai, Nelson Marinho, presidente da Associação das Famílias das Vítimas do Voo 447, demonstrou indignação.

"Antes, parecia que nem era verdade, a gente não acreditava. Hoje, finalmente, há um encerramento, com o funeral do meu filho. Isso conforta um pouco mais, mas não encerra completamente, porque a luta continua. Eles falam que houve falha humana, e já está provado, com os meus documentos, que não foi. Foi esse avião, o A330, que tem defeito de fabricação", acusou.

Os 18 corpos resgatados começaram a chegar ao Brasil no fim de semana. A informação é do fundador da associação brasileira de vítimas do acidente aéreo, Maarten Van Sluys. Segundo ele, até o fim da próxima semana, todos os corpos devem ser enterrados. "Eu preciso, agora, da ação das autoridades brasileiras", disse Marinho. "É muito revoltante. Você cerca de carinho um filho, e ele se vai da noite para o dia."

Marinho garante que lutará pela punição da empresa Airbus, fabricante da aeronave. De acordo com ele, outros seis aviões do modelo apresentaram o mesmo problema depois da tragédia do voo 447. Ele rechaça as informações apresentadas em relatório pelo Escritório de Investigação e Análise (BEA) de que o acidente poderia ter sido evitado pelo piloto e afirma que há inúmeros relatos de problemas mecânicos neste modelo.

Marinho entregou um documento do Sindicato de Pilotos Franceses com inúmeras reclamações sobre defeitos neste modelo de aeronave à presidente Dilma Rousseff, ministro Celso Amorim, e então ministro da Defesa Nélson Jobim. Sem resultados, ele recorreu este ano ao presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Cesar Peluso, pedindo uma investigação paralela feita pelo Brasil sobre as responsabilidades do acidente.

"Precisamos de uma investigação paralela feita por brasileiros. Quando colocamos um órgão francês para investigar as causas de um acidente que envolve duas empresas francesas (a Airbus e a AirFrance), há interesses daquele país diretamente envolvidos", afirmou.

A escolha do enterro em Sulacap foi opção do filho mais velho de Nelson, devido à proximidade do local com a natureza. Para finalizar a homenagem à vítima, que sonhava em ser paraquedista, todos respeitaram o toque de silêncio. No fim de semana, os corpos de um casal morto no acidente foram cremados em Porto Alegre.

O trabalho de retirada dos corpos das vítimas do AF 447 do fundo do mar foi feito em várias etapas. A última foi encerrada há alguns meses. De acordo com a perícia francesa, os restos mortais das vítimas incluem ossos como o fêmur, o que facilita a identificação.

O acidente do AF 447

O voo AF 447 da Air France saiu do Rio de Janeiro com 228 pessoas a bordo no dia 31 de maio de 2009, às 19h (horário de Brasília), e deveria chegar ao aeroporto Roissy - Charles de Gaulle de Paris no dia 1º às 11h10 locais (6h10 de Brasília). Às 22h33 (horário de Brasília) o voo fez o último contato via rádio. A Air France informou que o Airbus entrou em uma zona de tempestade às 2h GMT (23h de Brasília) e enviou uma mensagem automática de falha no circuito elétrico às 2h14 GMT (23h14 de Brasília). Depois disso, não houve mais qualquer tipo de contato e o avião desapareceu em meio ao oceano.

Os primeiros fragmentos dos destroços foram encontrados cerca de uma semana depois pelas equipes de busca do País. Naquela ocasião, foram resgatados apenas 50 corpos, sendo 20 deles de brasileiros. As caixas-pretas da aeronave só foram achadas em maio de 2011, em uma nova fase de buscas coordenada pelo Escritório de Investigações e Análises (BEA) da França, que localizou a 3,9 mil m no fundo do mar a maior parte da fuselagem do Airbus e corpos de passageiros em quantidade não informada.

Após o acidente, dados preliminares das investigações indicaram um congelamento das sondas Pitot, responsáveis pela medição da velocidade da aeronave, como principal hipótese para a causa do acidente. No final de maio de 2011, um relatório do BEA confirmou que os pilotos tiveram de lidar com indicações de velocidades incoerentes no painel da aeronave. Especialistas acreditam que a pane pode ter sido mal interpretada pelo sistema do Airbus e pela tripulação. O avião despencou a uma velocidade de 200 km/h, em uma queda que durou três minutos e meio. Em julho de 2009, a fabricante anunciou que recomendou às companhias aéreas que trocassem pelo menos dois dos três sensores - até então feitos pela francesa Thales - por equipamentos fabricados pela americana Goodrich. Na época da troca, a Thales não quis se manifestar.

Fonte: Jornal do Brasil via Terra - Foto: Jadson Marques/Futura Press

Um comentário:

Unknown disse...

Não precisa ser gênio da aviação pra saber que essa historia ta muito mal contada!Atitudes da tripulação não se assimilam com o treinamento dado pela Air France que e um dos melhores!