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Boeing 787 é um dos modelos mais avançados no mercado, e um dos primeiros a utilizar materiais compostos na fuselagem (Imagem: Divulgação/Boeing) |
Um dos aviões mais modernos da atualidade, o Boeing 787 Dreamliner vem enfrentando uma série de problemas desde quando entrou em operação comercial em outubro de 2011. Mais recentemente, foi noticiado que alguns c
omponentes de titânio do jato foram produzidos com defeito ao longo dos últimos três anos.
Embora isso não afete a segurança dos voos imediatamente, acende um alerta sobre os riscos que o modelo pode enfrentar no futuro. Essa é mais um das polêmicas envolvendo a empresa, que, após a crise envolvendo o 737 Max, passou a se debruçar de outra maneira sobre seus projetos para evitar que os erros com aquele modelo se repetissem.
As entregas do 787 estão suspensas desde maio enquanto a empresa realiza investigações junto a seus fornecedores e entrega dados para a FAA (Administração Federal de Aviação, na sigla em inglês), órgão regulador do setor nos Estados Unidos, para garantir que seus procedimentos são seguros (leia a íntegra da nota da Boeing no final desta reportagem).
Segundo "The Wall Street Journal", hoje a empresa tem mais de R$ 136 bilhões (US$ 25 bilhões) em aviões do modelo parados, já que eles continuam sendo produzidos apesar de não serem enviados para as companhias aéreas compradoras. A empresa tem cerca de cem unidades do 787 em estoque aguardando a retomada das entregas.
Fogo nas baterias
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Bateria danificada do 787 do voo JA829J após pegar fogo em 2013 (Imagem: NTSB) |
Além da questão do titânio considerado "fraco" para os padrões do 787, a empresa já teve de lidar com outras questões envolvendo o avião. Em 2013, a frota da aeronave foi impedida de voar no mundo todo devido a problemas em suas baterias.
Um dos primeiros casos ocorreu em janeiro daquele ano, em um 787-8 da Japan Airlines que havia pousado momentos antes no Aeroporto Internacional de Boston Logan, nos Estados Unidos. Funcionários responsáveis pela limpeza detectaram fumaça no avião, e as equipes de manutenção, ao abrirem o compartimento da bateria, encontraram chamas.
Nenhum dos passageiros ou tripulantes estavam a bordo naquele momento, e o fogo foi controlado sem causar maiores danos. Após uma revisão dos materiais e procedimentos de fabricação, a FAA liberou o avião para voltar a voar no mesmo ano.
Poucos meses após a volta à operação, um 787 da Ethiopian Airlines pegou fogo no aeroporto de Heathrow, em Londres (Inglaterra). Embora inicialmente se tenha atribuído o incêndio às baterias, o local onde ele ocorreu não fica próximo ao compartimento em que elas são armazenadas, sendo o mais provável que um curto-circuito tenha sido o verdadeiro motivo do acidente.
Em 2021, a empresa descobriu folgas na montagem de uma parte do modelo, o que poderia levar a um desgaste antecipado do avião, que já tem mais de mil unidades entregues. Cada avião que está sujeito ao problema será analisado e, em caso de reparo, a fabricante terá de arcar com os custos de manutenção.
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Interior de um Boeing 787 na linha de montagem da fabricante, nos EUA (Imagem: Divulgação/Boeing) |
Quais os riscos?
Segundo a fabricante, esses problemas vêm sendo acompanhados e solucionados cotidianamente. Alguns deles foram detectados antes mesmo de os aviões voarem, como é o caso de falha no software ou na qualidade das peças feitas de titânio.
Até o momento, não há registros de que esses problemas na produção possam colocar em risco a segurança de voo. Ainda assim, quando o perigo iminente é detectado, os aviões podem ser proibidos de voar, como já aconteceu com o 787 nesta última década.
Sistema inusitado
Um aspecto curioso no 787 é relacionado a um software que controla um dos sistemas elétricos. Se o avião permanecesse ligado por 248 dias (o equivalente a mais de oito meses) ininterruptamente, os geradores do avião poderiam ser desligados por segurança.
Entretanto, a chance de isso acontecer é praticamente nula, pois basta que o avião fosse desligado uma única vez para que a contagem do período de 248 dias fosse reiniciada. Junto a isso, um avião não fica ligado por tanto tempo, sendo desligado com frequência a cada poucos dias no máximo.
Novas tecnologias
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Boeing 787 é um dos modelos mais avançados no mercado, e um dos primeiros a utilizar materiais compostos na fuselagem (Imagem: Divulgação/Boeing) |
O 787 não é uma evolução do 777, modelo que começou a voar em 1994. Grande parte de seu desenvolvimento gira em torno de novas tecnologias, como materiais compostos e substituição de diversos sistemas por mecanismos elétricos.
Metade de sua fuselagem, por exemplo, é feita com esses materiais compostos, como aqueles formados pela junção da fibra de carbono e resina. Até então, os aviões comerciais tinham sua parte exterior feita, principalmente, por chapas de alumínio.
A presença de sistemas elétricos também ganhou força no 787, diferentemente de outros modelos da própria Boeing. Desde o acionamento dos motores, feitos de maneira pneumática geralmente, até o funcionamento do sistema de ar-condicionado, vários equipamentos a bordo passaram a ser operados por dispositivos elétricos e eletrônicos.
Leia a íntegra da nota da Boeing:
"A aplicação do nosso Sistema de Gestão de Qualidade mostra que avançamos no que diz respeito a aprimorar, desde o primeiro momento, a qualidade em nossos sistemas de produção e entrega. Continuamos a elevar os padrões aos quais nos comprometemos e a fortalecer nosso foco na qualidade. Incentivamos os membros de nossa equipe e cadeia de fornecimento a sinalizarem qualquer questão que precise de atenção, e é quando esses pontos são levantados que fica claro que nossos esforços estão funcionando.
Mesmo quando essas questões resultam em um impacto a curto prazo nas operações, temos plena confiança de que nossa abordagem é a mais correta para impulsionar, a longo prazo, a segurança, estabilidade e qualidade desde o primeiro momento."
Por Alexandre Saconi (UOL)