Os Estados Unidos vive uma indefinição quanto à participação da NASA no desenvolvimento de novos projetos para o “espaço próximo”. Se projeto apresentado por Barack Obama ao congresso daquela nação for aprovado, o “espaço próximo” ficará para a iniciativa privada. Segundo esse projeto os órgãos governamentais norte americanos deverão se ocupar apenas de missões ao espaço “mais distante”; como levar o homem a Marte.
Tendo em vista essa “parada pra pensar” do país que há décadas lidera a astronáutica mundial, nossas atenções na área se voltam para o Japão. A era dos veleiros espaciais está se iniciando e o Japão está dando um grande passo em seu desenvolvimento. Na minha opinião os veleiros espaciais estão chegando pra ficar!
Veleiros espaciais seriam naves que teriam presas a elas grandes painéis (ou velas, como as dos veleiros oceânicos). A pressão de radiação da luz emitida pelo Sol exerceria pressão sobre esses painéis. Podemos dizer que a luz do Sol empurraria a nave que seria dessa forma impulsionada e, dependendo dos ângulos em que forem sendo colocados os painéis, a nave seria manobrada. Essa força sobre os painéis, mesmo sendo muito pequena, pelo fato de agir constantemente durante grandes intervalos de tempo, seria capaz de levar a nave a altas velocidades. A idéia não seria termos naves movidas apenas por essa tecnologia. Dependendo do tipo de missão, a participação dos motores da nave poderia ser maior ou menor que a participação das velas. O tempo das grandes viagens seria encurtado, uma vez que a velocidade atingida pelas naves aumentaria. Isso sem falar na grande diminuição dos custos; principalmente das viagens interplanetárias (e quem sabe a tecnologia das velas espaciais logo não nos levará ao planejamento de viagens ainda mais distantes?).
Essa tecnologia também poderá ser aplicada aos satélites artificiais; corrigindo suas órbitas de maneira mais eficiente e barata que os métodos convencionais.
No dia 20 de maio passado a JAXA (Agência Espacial Japonesa) lançou o veleiro espacial IKAROS (Interplanetary Kite-craft Accelerated by Radiation Of the Sun).
As operações para abertura de sua finíssima vela solar, com espessura de 7,5 microns (0,0075 mm; mais de dez vezes mais fina que um fio de cabelo humano) e área de 200 m2, tiveram início no dia 3 de junho (com a nave, propositalmente, a mais de 5 milhões de quilometros de nosso planeta); sendo que no dia 10, de acordo com a Jaxa, os cientistas receberam a confirmação de que a vela tinha sido estendida. Essa operação simples de se fazer com uma vela qualquer na superfície da Terra é difícil de ser feita no espaço e nunca havia sido realizada antes, causando assim grande apreensão.
O IKAROS foi lançado com a vela enrolada à sua volta. O plano era desabotoar os quatro cantos de sua membrana e permitir que ela se abrisse enquanto o módulo central girasse com a velocidade “moderada” de 25 rotações por minuto (forças inerciais abririam a vela).
Uma microcâmera ejetada da nave logo após a operação confirmou que a vela se estendeu conforme o planejado. As imagens feitas por essa microcâmera foram enviadas para o IKAROS e em seguida para a Terra. Veja uma dessas imagens abaixo.
O desafio agora é controlar a nave através do controle da vela. Se a vela desenvolver alguma instabilidade, ela poderá se dobrar, prejudicando ou mesmo pondo fim à missão.
A membrana da vela, do lado voltado para o Sol, é revestida por uma película de alumínio, que tem a função de refletir a luz solar, aumentando o “empurrão” sobre a nave. Mesmo finíssima, essa membrana também tem coletores solares incorporados a ela que carregam as baterias do IKAROS.
A idéia dos veleiros espaciais não é nova. Há mais de 400 anos, Johannes Kepler apresentou a idéia de se utilizar a energia do Sol para impulsionar objetos através do espaço sideral.
Em 1980 a NASA iniciou o desenvolvimento de um veleiro espacial que teria o objetivo de acompanhar o cometa Halley em sua passagem pelo Sistema Solar interior. O governo norte americano cortou as verbas do projeto logo no seu início.
Estudos e experimentos com o objetivo de desenvolvimento da tecnologia dos veleiros espaciais já têm sido realizados por várias agências espaciais em praticamente todos os continentes (Estados Unidos; Europa; China; India e Japão). Alguns dos experimentos mais significativos realizados nos últimos anos foram:
- No início dos anos 90 a Russia realizou testes de estendimento de velas espaciais, a partir da Estação Espacial Mir.
- No início da década atual, duas instituições privadas (A “Sociedade Planetária Norte Americana e a “Academia Russa de Ciências”) se uniram com o objetivo de colocar um veleiro espacial em orbita da Terra. A pressão da luz solar deveria fazer com que essa nave fosse gradualmente alcançando órbitas mais elevadas. O “Cosmos 1” foi lançado em junho de 2005, porém não chegou a alcançar a órbita terrestre devido a problemas no foguete que o levava.
- Algo semelhante aconteceu em 2008 com um projeto da NASA. O NanoSail-D (um pequeno veleiro com 4,5 kg de massa e vela de 10m2) não alcançou a órbita da Terra também devido a problemas no foguete que o levava.
O sucesso do IKAROS é animador. Desde o dia 10 passado já podemos dizer que temos uma nave velejando pelo espaço interplanetário. O IKAROS nem precisa atingir o seu objetivo, que é Vênus, para a missão ficar registrada como um imenso sucesso. Entramos na era dos veleiros espaciais!
Veja vídeo da JAXA sobre a missão IKAROS (narrado em japonês) em:http://www.jaxa.jp/countdown/f17/overview/ikaros_e.htmlFonte: Renato Las Casas/Olhar longe (Colunista do Portal Uai)