domingo, 7 de junho de 2009

Famílias relatam "sinais" que anteciparam tragédia

Parentes de desaparecidos em avião da Air France buscam explicação para acidente

Dom Antônio de Orleans e Bragança (à frente) e o filho Dom Rafael, pai e irmão de dom Pedro Luiz de Orleans e Bragança, no Rio

Quando decidiu que o cientista Oswaldo Cruz (1872-1917) deveria sumir no mar e não ter a morte encenada no palco na primeira ópera de sua autoria, o maestro Silvio Barbato, 50, definiu o cenário no qual permaneceria vivo na memória da companheira, a violinista Antonella Pareschi.

Andar na areia e olhar o mar nunca foi um hábito da spalla ("líder") da orquestra da Petrobras. Mas agora é ali que Antonella, 33, tenta ouvir as mensagens do parceiro, desaparecido, com outras 227 pessoas no voo AF 447 da Air France, no domingo passado.

Velar um corpo inexistente ou aguardar o retorno de um sobrevivente considerado impossível pelas autoridades? Esta é a dúvida que, a cada destroço ou mancha de óleo encontrada, cerca grande parte das famílias de passageiros do voo da Air France.

A não localização de pessoas e possíveis corpos deixam as famílias num "luto sem velas" (até a tarde de ontem, apenas dois corpos haviam sido localizados). Resguardaram-se ao silêncio e à lembrança do familiar, mas também numa vigília em torno da televisão e do computador, atrás de notícias sobre o avião e seus ocupantes ou que ofereçam uma justificativa para a tragédia.

Luto

Durante a semana, Antonella voltou sozinha à praia do Leme, onde só ia com Barbato.
"Quando você chega ao mar, é um silêncio com aquelas ondas. É o som que eu tenho no meu luto, como se ele estivesse no meio do mar, perdido. Quando piso na areia e escuto o barulho do mar, é cruel, mas, ao mesmo tempo, me faz bem, porque é como se eu tivesse escutando ele."

Quando não está na praia ou com amigos, Antonella diz chorar o tempo todo.
Há uma semana, seu violino permanece dentro da caixa. Ela disse acordar todo dia de madrugada "com o coração batendo forte e estranho" e não consegue se alimentar direito -na última quarta-feira, havia se alimentado apenas com a metade de um pacote de macarrão instantâneo. O toque do telefone a faz lembrar da perda.

"A gente se falava de dez em dez minutos. Nossa conta de celular era absurda, porque a gente nunca abriu mão desse contato. Toda vez que o telefone toca eu tenho a sensação de que é ele me ligando de uma ilha", afirmou.

A violinista acredita que o maestro está vivo. "Na minha santa ignorância, se uma placa de sete metros está inteira, aquele negócio não explodiu no ar. Poderia ter encontrado um corpo, de 200 e poucas pessoas. É estranho para mim não acharem um corpo [a entrevista foi dada antes da localização de dois corpos ontem]".

A crença na sobrevivência é, para alguns "um mecanismo para alimentar a esperança enquanto não há materialização da perda", interpreta a psicanalista Marcia Gomes.

Crença

Acreditar mesmo desacreditando é a opção dos descendentes da família imperial brasileira. Eles afirmam ter apenas "0,001% de esperança" de encontrar dom Pedro Luiz de Orleans e Bragança, 26, vivo. "É um fio de esperança. Mas é acreditar sem acreditar", afirma dom Antônio João de Orleans e Bragança, 58.

Apesar de dizer ter 99,999% de certeza de que o filho não voltará, dom Antônio prefere chamar a missa a ser celebrada na quarta-feira de "homenagem à alma do Pedro Luis". "[Homenagem] em vida ou na morte. A alma é imortal".

Religiosa, a família Orleans e Bragança rezou um terço na noite de segunda, dia em que o desaparecimento foi divulgado. Por toda a semana, recebeu visitas de amigos e parentes.

Dom Antônio diz estar "preparado para o pior", mas faz questão de lembrar a história de seu irmão, dom Eudes, que sobreviveu a um acidente de avião na Jamaica, na década de 70. Ele foi dado como morto após a localização da aeronave destruída, mas foi encontrado cinco dias depois.

O "ritual" de luto dos descendentes da família imperial foi relembrar os bons momentos com Pedro Luis.

Uma das memórias foi uma partida de golfe disputada no dia em que o rapaz embarcou para Paris -o seu destino final era Luxemburgo, onde estagiava. Pedro jogou com o irmão, dom Rafael de Orleans e Bragança e o pai, o que raramente acontecia.

"Vou lembrar sempre das brincadeiras, de caçoar um com outro. [Na partida de golfe] A gente apostou, numa rivalidade saudável. Ele sempre jogou melhor do que eu. Dessa vez eu ganhei e fácil", lembrou Rafael, que cultiva a imagem da vitória esportiva para amenizar a perda familiar.

Dom Antônio contou que só recebeu a notícia do desaparecimento do filho junto à família porque não voltou para Petrópolis, onde mora, na segunda-feira por "não estar com o espírito bom".

Para ele a última imagem da família unida -tanto na despedida de Pedro como na chegada da notícia do desaparecimento- mostra "como Deus é bom".

Sinais

Muitas famílias relatam o que chamam de "sinais" que mostrariam uma despedida. Silvio Barbato, contou Antonella, fez questão de tirar quatro fotos no show do Sepultura no Canecão na sexta-feira anterior à viagem.

"Ele dizia que foto tira a energia da pessoa. Nunca gostou de tirar foto e, curiosamente, ele que pediu para tirar as quatro", conta.

Para a psicanalista Marcia Gomes, as famílias muitas vezes procuram estes "sinais" para tentar "dar algum sentido ao que não tem sentido algum". "[É um artifício] Nessa tragédia em que não chega nada, não se sabe o motivo da queda [por falta de informações precisas]".

A família imperial aguarda a localização dos corpos. Para dom Antonio "seria uma referência". Mas a violinista prefere que o corpo de Barbato não retorne. Tal qual na primeira ópera do maestro, "O Cientista" (2006), na qual optou que Oswaldo Cruz, sumisse nas águas ao final do espetáculo, ela diz que o maestro sempre quis sumir.

À imagem de santo Expedito, o das causas urgentes, que mantém em seu apartamento, a violinista pediu um sinal mostrando que Barbato está vivo. "Não quis sinal de que ele esteja morto. Realmente o sinal não veio, mas tenho fé que apareça."

Fonte: Ítalo Nogueira (jornal Folha de S. Paulo) - Foto: Daryan Dornelles (Folha Imagem)

Um comentário:

Unknown disse...

pelo menos o aciednte não foi em vão..esse negociode familia real ja era pra ter ido pro saco a nuito tempo "vou lembrar das brincadeiras,de caçoar um do outro nas partidas de golfe" hauhuauah aqui é terceiro mundo porra..rei de cu é rôla!!