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quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Turbulências invisíveis a radares de avião dispararam e a culpa é nossa

Casos de turbulência tem aumentado )Imagem: Getty Images/iStockphoto)
As viagens de avião têm enfrentado mais turbulências, mesmo quando o céu está limpo e sem nuvens.

Não é coincidência ou azar. A ocorrência desse fenômeno, chamado de "turbulência de ar claro" e mais raro no passado, aumentou 55% nas últimas quatro décadas, de acordo com um estudo publicado por cientistas da Universidade de Reading, da Inglaterra, na revista Geophysical Research Letters.

O motivo, explicam eles, é o aquecimento global, que faz a Terra ficar mais quente.

Invisíveis não apenas aos nossos olhos, estas turbulências passam despercebidas aos radares dos aviões e pegam tripulação e passageiros de surpresa.

Os pesquisadores detectaram o acréscimo em rotas de avião comercial entre 1979 e 2020. A maioria ocorreu sobre os Estados Unidos e o Atlântico Norte, mas também há registros significativos sobre Europa, Oriente Médio, Pacífico Oriental e Atlântico Sul.

"Após uma década de pesquisa alertando que as mudanças climáticas aumentariam as turbulências do ar claro no futuro, agora temos evidências de que o aumento já começou. Sabíamos que estava acontecendo, mas é chocante ver este número", declarou Paul Williams, cientista atmosférico da Universidade de Reading e um dos coautores do estudo.

Por que é invisível?


Turbulências são, em resumo, distúrbios no ar, com causas e intensidades diferentes. As mais comuns são:
  • mecânica: são geradas por barreiras no fluxo do vento, como construções, vegetação e terrenos irregulares;
  • orográfica: também conhecida como ondas de montanha, ocorre em áreas de serras e cordilheiras;
  • em nuvens: em geral, é causada por nuvens do tipo cumulus, que têm um interior caótico;
  • térmica: costuma ocorrer no verão, quando o solo está mais quente e as correntes de ar sobem bruscamente de baixas altitudes;
  • de ar claro ou CAT, na sigla em inglês: manifestam-se acima de 15 mil pés (cerca de 4.500 m, na altitude de cruzeiro de um avião comercial), devido a diferenças na velocidade do vento em diferentes altitudes.
Diferente dos três primeiros tipos, que podem ser detectados a olho nu, por instrumentos e cartas aeronáuticas, as turbulências térmicas e as de ar claro são sorrateiras — estas últimas são bem inconvenientes e difíceis de se navegar.

O cenário é perigoso para a aviação, pois os pilotos têm de lidar com uma situação que dá poucos indícios de sua presença. Uma turbulência CAT normalmente é invisível até para radares

Como capta, principalmente, gotículas de água, o radar meteorológico dos aviões é "cego" para uma turbulência que se forma quando não há nuvens, seja de noite ou de dia.

O problema é quando não há umidade suficiente para que essas nuvens se formem, por que não há como saber visualmente se existe ou não alguma turbulência que possa ser perigosa durante o trajeto de um voo.

Por que estão aumentando?


Geralmente, as turbulências de ar claro estão associadas a "jet streams", ou correntes de jato, que são fluxos de ar muito rápidos e estreitos.

Essas correntes têm se tornado mais instáveis à medida que as emissões de gases do efeito estufa, gerados na queima de combustíveis fósseis, aquecem a camada mais baixa da atmosfera da Terra, a troposfera.

A crescente diferença de temperatura entre a troposfera e a estratosfera (a camada seguinte, que é mais fria), impulsiona um aumento da ocorrência de CATs.

Existem regiões que os aviões já evitam, pois historicamente existe turbulência com frequência maior. Um exemplo é o lado de São Paulo da Mantiqueira, onde várias ondas facilmente se formam acima e após a serra. Assim, mesmo com céu limpo, já se sabe que é bom não passar por lá. Já as turbulências que se formam devido às "bolsas" de ar quente nós não conseguimos prever nem o local nem o momento de sua ocorrência.

O que esperar no futuro?


A cada grau Celsius que a temperatura mundial subir, as ocorrências de turbulências de ar devem crescer de 9% a 14% para cada estação do ano, prevê um estudo publicado em março, também pela Universidade de Reading.

Um relatório recente da OMM (Organização Meteorológica Mundial) alertou que a temperatura média global subiu 1,15ºC desde a revolução industrial até 2022.

Segundo os cientistas, o verão, temporada com menos turbulência, deve sofrer um aumento maior que o inverno, que historicamente têm mais ocorrências. E, a partir de 2050, as duas estações já serão igualmente turbulentas.

Os riscos


Apesar de incômodas, turbulências são fenômenos comuns e relativamente inofensivos. Não conseguem, sozinhas, derrubar um avião, que é flexível o suficiente para suportá-las.

Mas custam milhões às companhias aéreas todos os anos, devido a ferimentos das pessoas, danos aos aviões e atrasos de voos. "Cada minuto extra de um voo gasto em turbulência aumenta esses riscos. As companhias precisam começar a pensar em como administrar isso", afirma o pesquisador britânico Williams.

Muitas vezes, é inevitável passar por uma turbulência. Quando é prevista, porém, há tempo de alertar os passageiros e a tripulação, tomando as medidas de segurança necessárias.

Contra as CATs, porém, não há muito o que fazer. A principal ferramenta é o simples reporte dos pilotos. "Os primeiros a passarem pelo local avisam sobre a existência da turbulência, para que os próximos aviões na rota possam desviar. Essa comunicação é essencial para reduzir riscos. E não pode parar aí: os centros meteorológicos e de controle devem distribuir o aviso", ressalta o meteorologista Junior.

Via Tilt - Fontes: Vlamir Junior, meteorologista aeronáutico, e Diego Rhamon, meteorologista e pesquisador do Inpe.

terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Por que há cada vez mais turbulência em voos?

Descubra por que a turbulência nos aviões está aumentando. Desde fatores meteorológicos até geográficos, exploraremos as razões por trás desse fenômeno para manter a calma no ar.


Nos últimos anos, os viajantes aéreos notaram um aumento significativo na frequência e intensidade das turbulências durante os voos. Este fenômeno, que pode gerar ansiedade nos passageiros, levanta a pergunta essencial: porque há cada vez mais turbulência nos aviões?

Exploraremos algumas das razões por trás desse fenômeno crescente, e daremos dicas sobre quando a turbulência normalmente ocorre e como amenizar seus efeitos durante o voo.

Quando geralmente há mais turbulência?


As turbulência são perturbações na corrente de ar que podem afetar o voo de uma aeronave. Embora seja um fenômeno natural e comum na atmosfera, certos horários e condições climáticas aumentam a probabilidade de ocorrência de turbulência durante um voo.

Perto de áreas montanhosas

Um dos cenários mais propícios à turbulência é a proximidade de áreas montanhosas. Quando o vento interage com as montanhas, são geradas ondas de ar que podem causar flutuações no voo.

Correntes de jato

As correntes de jato são fortes fluxos de vento na alta atmosfera. Quando uma aeronave passa por uma corrente de jato ou está próxima de seus limites, a turbulência pode se intensificar. Os pilotos costumam ficar atentos à presença dessas correntes para tomar medidas preventivas.

Durante subidas e descidas

A turbulência é geralmente mais pronunciada durante as fases de subida e descida. Isso ocorre porque o avião está passando por diferentes camadas de ar e, em alguns casos, encontrando condições mais instáveis.

Por que a turbulência aumentou?


Segundo o estudo da Universidade de Reading, o aumento da turbulência é atribuído às mudanças climáticas. Conforme a pesquisa, aqui estão algumas razões chave que poderiam explicar por que a turbulência aumentou:

Mudança nos padrões de vento

A mudança climática está afetando os padrões atmosféricos e os fluxos de vento em diferentes partes do mundo. Estas alterações podem levar a condições atmosféricas mais propícias à formação de turbulência.

A intensidade das correntes de jato

O estudo pode ter constatado um aumento na intensidade das correntes de jato sobre o Atlântico Norte. As correntes de jato são correntes de ar de alta velocidade na atmosfera e mudanças em sua intensidade podem influenciar a ocorrência de turbulência.

Maior variabilidade atmosférica

A mudança climática também pode estar contribuindo para uma maior variabilidade nas condições atmosféricas. Esta variabilidade pode levar a flutuações mais pronunciadas na velocidade e direção do vento, criando condições propícias à turbulência.

Mudanças na temperatura atmosférica

O aquecimento global pode afetar a distribuição da temperatura na atmosfera, o que por sua vez pode influenciar a formação de turbulência. As diferenças de temperatura podem criar gradientes mais acentuados que promovem turbulência.

Interconexão global

Embora o estudo tenha focado no Atlântico Norte, a mudança climática é um fenômeno global. As mudanças em uma região podem ter efeitos em cascata em outras áreas, o que poderia explicar a observação de um aumento na frequência de turbulência em rotas populares na Europa, no Médio Oriente, no Atlântico Sul e no Pacífico Oriental.

Influência da meteorologia


As condições meteorológicas adversas, como tempestades, passagem de frentes e mudanças bruscas de temperatura, contribuem significativamente para a intensificação da turbulência.

Tempestades e frentes

A formação de tempestades e a passagem por áreas de frentes frias ou quentes geram instabilidade na atmosfera. Quando uma aeronave passa por essas zonas, pode sofrer turbulência devido à variabilidade na velocidade e direção do vento.

Mudanças bruscas de temperatura



Mudanças repentinas na temperatura do ar podem dar origem a correntes de convecção, criando bolsas de ar ascendentes e descendentes. Este fenômeno pode causar movimentos repentinos e imprevisíveis durante o voo.

Compreender como a meteorologia influencia a formação de turbulência é essencial para antecipar e mitigar riscos. Os avanços na tecnologia meteorológica permitem aos pilotos avaliar com mais precisão as condições meteorológicas, facilitando a tomada de decisões para garantir voos mais seguros e tranquilos.

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

'Terror' durante voo: o que pilotos fazem para evitar turbulências?


Enfrentar uma turbulência costuma ser uma das sensações mais desagradáveis durante um voo. Desde um leve balanço até um movimento mais intenso, esse evento costuma causar enjoos e preocupação nos passageiros.

No sábado (23), um avião que decolou de Campinas (SP) com destino a Presidente Prudente (SP) enfrentou uma forte turbulência, causando mal-estar aos passageiros e tripulantes. Passageiros relataram ter vivido momentos de "terror" durante a viagem, que deveria levar apenas 1h30, durou o dobro e teve que ser completada horas depois, de ônibus.

Mesmo com a sensação ruim ocasionada, saiba que turbulências não derrubam aviões. No caso do voo do sábado, o avião utilizado foi um ATR-72, que costuma voar mais baixo que os jatos. Nessa camada da atmosfera, mais próxima ao solo, é comum haver mais turbulências, o que se somou às rajadas de vento no momento previsto para o pouso, que chegavam aos 60 km/h, segundo boletim meteorológico.

Ainda assim, as aeronaves são planejadas para aguentar diversos esforços antes de passarem por algum problema mais sério. As asas de um Boeing 787, por exemplo, podem se mexer até quatro metros para cima e para baixo durante um voo, tudo isso para manter a segurança da operação e evitar problemas com a estrutura da aeronave.

Planejamento


Antes de decolar, é feito um planejamento minucioso sobre o voo. Desde os locais onde ele irá passar, até os procedimentos de chegada, tudo deve estar planejado antes de sair do solo.

Um dos principais fatores que ajudam a evitar a turbulência é analisar como estará a meteorologia na rota que o avião estará seguindo. Para isso, as empresas aéreas e os pilotos contam um sistema amplo de alertas.

Um deles é o Metar (Meteorological Aerodrome Report, ou, Informe Meteorológico de Aeródromo, em tradução livre). Nele constam as informações sobre como está o tempo em determinado aeroporto, como chuvas, garoa, nevoeiro, tempestade de areia etc.

Similar ao Metar, o TAF (Terminal Aerodrome Forecast, ou Previsão de Área ou Aeroporto, em tradução livre) é um modelo que estipula como estará o clima em determinado local nas próximas horas. É uma previsão do tempo atualizada regularmente, que auxilia os pilotos a se prepararem para as condições climatológicas que poderão encontrar logo que chegarem ao seu destino.

Mesmo assim, ao chegar ao destino, pilotos podem ser surpreendidos por condições adversas, como rajadas de vento ou chuva forte, que, não necessariamente, foram previstas anteriormente nos boletins.

Radar a bordo


Radome aberto de um Abirbus A330, local onde os radares meteorológicos do avião
são abrigados (Foto: Divulgação/KLM)
Aviões comerciais de maior porte, como o Airbus A320 ou o Boeing 737, têm radares meteorológicos a bordo. Eles ficam localizados no nariz dos aviões, e passam informação em tempo real para os pilotos na cabine.

Caso seja observada uma nuvem de chuva mais densa na rota, os pilotos podem desviar dela. Para isso, geralmente, pedem autorização para os controladores de tráfego aéreo, quando avisam o motivo do desvio, visando evitar colisões com outros aviões em voo.

No radar, é possível ver quais nuvens são mais densas, como as de chuva, chamadas de cúmulos-nimbos. Mesmo que o piloto não consiga desviar de uma nuvem dessas, ele pode voar por ela. Apesar do desconforto causado pela turbulência, o motor continuará funcionando normalmente.

Esses radares, porém, não detectam zonas de turbulência, mas ajudam a manter as aeronaves de regiões onde elas são mais propensas a ocorrer, como as proximidades das nuvens.

Altitude influencia


Aviões que voam em maiores altitudes encontram menores turbulências. Aviões turboélice, como o que realizou o voo no sábado, voam mais baixo, por entre as nuvens, em uma camada da atmosfera que está mais sujeita a turbulências.

Altitude de voo influencia na possibilidade de enfrentar turbulência durante os voos (Arte/UOL)
O modelo ATR-72 tem uma altitude máxima de voo de cerca de 20 mil pés (6.096 metros). Já os jatos comerciais podem voar a até 36 mil/40 mil pés (10.972 a 12.192 metros), onde as turbulências são mais raras.

Próximo ao local do pouso, os aviões voam mais baixo, o que os torna mais suscetíveis a turbulência também. Na região de Presidente Prudente, onde o pouso de sábado seria realizado, havia fortes rajadas de vento e formações de nuvem.

Por segurança, provavelmente, os pilotos optaram por pousar em outro lugar para evitar riscos. Algo comum em situações como essa.

Por Alexandre Saconi (UOL)

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Altas temperaturas podem tornar os aviões pesados ​​demais para decolar


As temperaturas crescentes do nosso planeta estão dificultando a decolagem de aviões em certos aeroportos, apresentando mais um desafio para a aviação civil. E à medida que as ondas de calor se tornam mais frequentes, o problema pode se estender a mais voos, forçando as companhias aéreas a deixar os passageiros em terra.

"O desafio básico enfrentado por qualquer aeronave que decola é que os aviões são muito pesados, e a gravidade quer mantê-los no chão”, diz Paul Williams, professor de ciência atmosférica da Universidade de Reading, no Reino Unido. “Para superar a gravidade, eles precisam gerar sustentação, que é a atmosfera empurrando o avião para cima.

Os aviões obtêm 1% menos elevação a cada 3 graus Celsius de aumento de temperatura, “é por isso que o calor extremo dificulta a decolagem dos aviões – e em algumas condições realmente extremas isso pode se tornar totalmente impossível”, disse Williams.

O problema afeta principalmente aeroportos de altitude elevada, onde o ar já é naturalmente mais rarefeito, e com pistas curtas, que deixam o avião com menos espaço para acelerar. De acordo com Williams, se um avião precisar de 6.500 pés de pista a 20 graus Celsius, precisará de 8.200 pés 40 graus Celsius.

'Acalmação global’


Williams e sua equipe pesquisaram dados históricos de 10 aeroportos da Grécia, todos caracterizados por altas temperaturas no verão e pistas curtas. Eles encontraram um aquecimento de 0,75 Celsius por década desde a década de 1970.

“Também encontramos uma diminuição no vento contrário ao longo da pista, em 2,3 nós por década”, disse Williams. “O vento contrário é benéfico para as decolagens, e há algumas evidências de que as mudanças climáticas estão causando o que é chamado de ‘acalmamento global’, e é por isso que os ventos parecem estar diminuindo”.

A equipe então colocou essas temperaturas e ventos contrários em uma calculadora de desempenho de decolagem de aeronaves para uma variedade de diferentes tipos de aeronaves, incluindo o Airbus A320 – um dos aviões mais populares do mundo.

“O que descobrimos foi que o peso máximo de decolagem foi reduzido em 127 kg a cada ano – isso é aproximadamente equivalente ao peso de um passageiro mais sua mala, o que significa menos um passageiro a cada ano que pode ser transportado”, Williams diz.

Desde a sua introdução em 1988 até 2017, o A320 teria visto seu peso máximo de decolagem reduzido em mais de 360 quilos no aeroporto Chios Island National, o principal aeroporto do estudo, que tem um comprimento de pista de pouco menos de 1.500 metros.

O City Airport de Londres, no distrito financeiro da capital do Reino Unido, também tem uma pista de pouco menos de 5.000 pés de comprimento. Durante uma onda de calor em 2018, mais de uma dúzia de voos foram forçados a deixar os passageiros no solo para decolar com segurança.

Em 2017, dezenas de voos foram cancelados inteiramente em poucos dias no aeroporto internacional Sky Harbor de Phoenix, pois as temperaturas atingiram 48,8 graus Celsius, acima da temperatura operacional máxima para muitos aviões de passageiros.

Um estudo da Universidade de Columbia prevê que até 2050, uma aeronave de fuselagem estreita típica como o Boeing 737 sofrerá um aumento nas restrições de peso de 50% a 200% durante os meses de verão em quatro grandes aeroportos dos EUA: La Guardia, Reagan National Airport, Denver International e Sky Harbor.

Soluções possíveis


Felizmente, as companhias aéreas não são impotentes contra o problema. “Há muitas soluções na mesa”, diz Williams. “Uma seria agendar saídas fora da parte mais quente do dia, com mais saídas de manhã cedo e tarde da noite, que é uma tática já usada em áreas quentes como o Oriente Médio.”

Aeronaves mais leves também são menos afetadas pelo problema, então isso pode acelerar a adoção de materiais compostos, como fibra de carbono para fuselagens, diz Williams.

Enquanto isso, fabricantes como a Boeing já estão oferecendo uma opção “quente e alta” em algumas de suas aeronaves, para as companhias aéreas que planejam usá-las extensivamente em aeroportos de alta altitude e alta temperatura. A opção oferece impulso extra e superfícies aerodinâmicas maiores para compensar a perda de sustentação, sem alteração no alcance ou na capacidade de passageiros.

É claro que uma abordagem mais drástica seria alongar as pistas, embora isso possa não ser possível em todos os aeroportos.

Em alguns casos, onde nenhuma dessas soluções é aplicável, os passageiros simplesmente terão que desistir de seus assentos. Mas, diz Williams, isso continuará sendo um problema de nicho no futuro próximo, pelo menos: “Pessoas sendo empurradas para fora de aeronaves porque está muito quente é raro e continuará sendo raro. A maioria dos aviões nunca atinge seu peso máximo de decolagem, então isso acontecerá em casos marginais – principalmente aeroportos com pistas curtas, em grandes altitudes e no verão”, diz ele.

No entanto, o futuro a longo prazo pode ser mais difícil, ele acrescenta: “Não acho que será uma grande dor de cabeça para a indústria, mas acho que há fortes evidências de que vai piorar”.

Via IstoÉ

terça-feira, 28 de outubro de 2025

Por que os pilotos gostam de decolar contra o vento


O vento desempenha um papel importante no voo. Mas qual é exatamente a relação entre vento e asas? É um casamento feliz ou decolagens com vento são perigosas?

Os aviões decolam contra o vento?


As aeronaves não precisam decolar contra o vento, mas isso ajuda! A decolagem contra o vento dá à aeronave um impulso extra no céu, proporcionando uma distância de decolagem mais curta e uma taxa de subida mais alta.

O ar é um fluido e é frequentemente comparado à água quando se discutem conceitos associados ao voo. Cada parte de uma aeronave é projetada para minimizar ondulações no fluxo de ar e, com essa lógica, alguém poderia pensar que um vento contrário criaria resistência, tornando a decolagem mais difícil.

Qualquer pessoa que já tenha tentado segurar um guarda-chuva com firmeza em um dia ventoso também pode chegar à mesma conclusão de que o vento prejudicaria um avião que tentasse decolar, mas, como qualquer piloto lhe dirá, o oposto é que é verdade.

Elevador (Lift)


Uma das primeiras coisas que um piloto novato aprende na escola de solo é a mecânica da sustentação; como a aeronave é sugada para o ar e permanece lá. A sustentação é o batimento cardíaco de um avião e é o que, em última análise, permite que a aeronave anule a gravidade por um curto espaço de tempo.

Ventos contrários (Headwinds)

Um vento contrário ajuda a gerar sustentação. Mais ar sobre a asa é igual a mais sustentação e maior velocidade no ar. Há uma distinção importante entre velocidade no solo e velocidade no ar. Velocidade no solo é a velocidade com que um veículo viaja no solo. Por exemplo, o velocímetro de um carro mede a velocidade no solo. Velocidade no ar é a velocidade com que um veículo viaja no ar e, portanto, é medida em nós, a mesma unidade do vento.


No cockpit, durante a decolagem, o piloto define o impulso necessário e monitora a 'velocidade indicada' conforme ela se enrola na frente deles. Uma vez que a velocidade de rotação é alcançada, vamos nomear 130 nós por exemplo, o piloto puxa suavemente a coluna de controle, a sustentação faz sua mágica e 'hurrah!' eles estão no ar!

Um vento contrário fluindo sobre as asas durante esses momentos criaria mais sustentação. À medida que mais ar passa sobre o vento por segundo, nossa velocidade no ar aumenta e o tempo necessário para atingir 130 nós é reduzido.

Então, a decolagem é possível com ventos calmos, mas um vento forte de proa significa menos pista usada e uma subida ansiosa após a decolagem. Um vento de proa pode ter uma contribuição tão significativa para a sustentação em aeronaves mais leves que pode fazer com que um avião estacionado decole sozinho se não for estacionado corretamente, como você pode ver no vídeo abaixo.


Ventos favoráveis (Tailwinds)

Então, geralmente, decolar contra o vento é uma coisa boa, facilitando o trabalho do piloto. Como seria de se esperar, o inverso é verdadeiro para um vento de cauda (vento vindo de trás de você).

Todas as aeronaves são projetadas para serem aerodinâmicas, tendo 'um formato que reduz o arrasto do ar que passa'. O arrasto age na direção oposta ao movimento do veículo, como uma mão invisível tentando nos segurar na pista.

Para voar, a sustentação e o movimento para frente devem ser maiores que o arrasto e a gravidade. Então, para minimizar o arrasto, a aeronave tem um formato escorregadio que ajuda o ar a fluir sobre as asas sem ser perturbado. Mas a asa só gerará sustentação se o fluxo de ar for da frente para trás.

O fluxo de ar é criado sempre que a aeronave se move para frente, mas um vento de cauda torna a aceleração do fluxo de ar muito mais lenta. Com um vento de cauda, ​​a jornada do ar da frente para trás da asa não é tão fácil. Portanto, menos sustentação é gerada, resultando em um tempo de aceleração mais longo e menor controlabilidade da aeronave.

Em pistas curtas, um vento de cauda pode degradar tanto o desempenho que a decolagem deve ser proibida. Antes de se alinhar na pista, a tripulação deve ser capaz de garantir que não só pode decolar com segurança, mas também parar a uma distância segura se tiver que rejeitar a decolagem.

"Quando tudo parece estar contra você, lembre-se de que o avião decola contra o vento, não a favor dele", disse Henry Ford.

É perigoso voar em dias de vento?


Como muitos leitores devem lembrar, no final de 2019, a tempestade Ciara atingiu a Europa e trouxe ventos enormes com ela. Você pode se perguntar se a direção do vento afeta o tempo de voo. Durante a tempestade Ciara, o voo mais curto de Nova York para Londres foi registrado – chegando 80 minutos antes do horário previsto!

Enquanto estava no ar, os ventos de Ciara ajudaram a empurrar a aeronave da British Airways ao longo de sua rota, mas no solo a relação de um piloto com o vento é completamente diferente. Enquanto algumas equipes estavam estabelecendo novos recordes de tempo de voo, outras prestes a decolar ou pousar estavam tendo um dia muito difícil no trabalho!

Felizmente, não há um limite designado de vento contrário para a decolagem e para passageiros sortudos o suficiente para voar de uma pista alinhada com o vento nesses dias tempestuosos, as decolagens podem prosseguir normalmente. Isso, é claro, assumindo que o vento seja constante.

Cisalhamento do vento (Wind shear)

Quando o vento "varia e volta", isso é chamado de rajada, mas quando ocorre uma rápida mudança de direção e velocidade, o resultado é algo que causará arrepios na espinha de qualquer um que já tenha passado por isso: cisalhamento do vento.

O cisalhamento do vento pode ser muito perigoso, especialmente em um ponto crítico de segurança do voo, como decolagem ou pouso, e será motivo para uma arremetida imediata se for experimentado na aproximação final. Sua direção e força são totalmente imprevisíveis e causaram pelo menos 28 acidentes e 700 fatalidades entre 1970 e 1985.

Como sempre, seu piloto será treinado para lidar com tais cenários caso eles surjam, mas muitas aeronaves hoje são capazes de detectar tal mudança no vento antes que ele atinja a aeronave. Isso é chamado de alerta preditivo de cisalhamento do vento e é uma tecnologia relativamente nova, tendo sido inventada apenas em 1994.

Este sistema usa o efeito Doppler, a teoria que explica a mudança do som de uma ambulância que passa, para detectar mudanças rápidas no ar e ajudar a tripulação a evitá-las. Mais informações sobre como o efeito Doppler é usado podem ser encontradas aqui no site da Honeywell.

E quanto aos ventos cruzados?


Embora as aeronaves não sejam geralmente limitadas por ventos contrários, o vento de qualquer outra direção tem uma extremidade superior da escala. Isso inclui ao taxiar e até mesmo para abrir as portas da aeronave! Então você pode ter pousado com segurança, mas não conseguir desembarcar da aeronave até que o vento se acalme.


O impacto do vento em uma aeronave depende de quantos graus à esquerda ou à direita do nariz ele está e com qual força. Qualquer vento que sopra através da aeronave (ou seja, não é um vento de proa ou de cauda) é conhecido como vento cruzado.

Ventos cruzados máximos (Maximum Crosswinds)

O vento cruzado máximo para decolagem e pouso difere para cada aeronave. O vento cruzado máximo demonstrado de um Cessna 172 é de 15 nós, enquanto o vento cruzado máximo para um A320 é de 38 nós, aproximadamente 47 mph. Ventos com essa força são conhecidos como vendavais, e gotas de chuva voando nessa velocidade machucariam sua pele.

O maior avião de passageiros do mundo , o Airbus A380, tem um envelope ainda mais impressionante e demonstrou pouso em ventos cruzados de até 51 nós/59 mph. Esse é o tipo de vento que começa a arrancar árvores do chão!

Técnicas de vento cruzado

Ventos cruzados leves de 5 nós ou menos são quase imperceptíveis, mas qualquer coisa mais forte pode tornar o controle direcional desafiador. Cada aeronave tem técnicas de vento cruzado recomendadas; algumas incentivam a decolagem com a coluna de controle apontando para o vento, enquanto outros tipos recomendam apenas o leme para controlar o desvio lateral.

Este vídeo mostra pilotos tentando pousar nessas condições e demonstra o quão difícil pode ser manter-se em linha reta na linha central da pista.


Testando os Limites


Fabricantes de aeronaves e deuses do céu, também conhecidos como pilotos de teste, determinam os limites da aeronave antes da produção para criar um "envelope" de segurança. Ao voar dentro dessa faixa de limites, o piloto médio será capaz de manusear a aeronave com segurança.

Durante o teste, o avião é empurrado o mais forte que pode. Máquinas dobrarão as asas até encontrarem o ponto de encaixe e os testadores arrastarão deliberadamente a cauda da aeronave ao longo da pista para ver os efeitos.

Você pode ter notado antes que o limite de vento cruzado do Cessna 172 é o 'máximo demonstrado'. Embora este possa ser o maior pouso com vento cruzado realizado por um piloto de teste, alguns pilotos de C172 alegaram pousá-lo em ventos com o dobro desta força! Esta terminologia deixa a limitação a critério do piloto.

Se você estiver interessado em saber o que uma aeronave passa durante o processo de teste, assista a este vídeo para ver mais de perto:


Via Vitória Bottomley (Aerocorner)

sábado, 25 de outubro de 2025

Por que as companhias aéreas não voam sobre o Tibete?


O planejamento de rotas aéreas e mudanças operacionais são áreas complexas, mas interessantes. Alguns passageiros seguirão isso de perto, fascinados por onde seu voo os leva, enquanto outros mal percebem enquanto cruzam os céus. Se você seguir o mapa, no entanto, uma coisa que você verá em voos de longa distância para a Ásia é que eles nunca sobrevoam a Região Autônoma do Tibete na China, apesar de seu grande tamanho.

Poucas aeronaves sobre o Tibete


A região em questão é a Região Autônoma do Tibete na China. Esta é uma área escassamente povoada e montanhosa, também conhecida como o planalto tibetano - um nome significativo, dado que a altitude média na região é superior a 4.500 metros.

(Foto: Dennis Jarvis via Flickr)
Por ser escassamente povoada, há poucos voos para ou dentro da região (toda a área representa apenas 0,2% da população da China, para contextualizar). Existem aeroportos internacionais em Lhasa (foto acima) e Xining, e muitos voos agora operam para a China e regionalmente. Mas as companhias aéreas que voam de ou para outros destinos evitarão totalmente a região, apesar de muitas vezes ser a rota mais direta.

Dê uma olhada nesta imagem abaixo do FlightRadar24.com mostrando os aeroportos da região. Você notará que toda a região está vazia de voos, com várias aeronaves rastreando logo acima e abaixo.

(Imagem: FlightRadar24.com)
Então, por que as companhias aéreas fazem isso? Existem três razões principais, conforme explicado em um vídeo do RealLifeLore (abaixo).


Incapaz de descer a uma altitude segura em caso de emergência


A principal razão para as aeronaves evitarem a região é a alta altura média do terreno. Isso é mais de 14.000 pés. As aeronaves, é claro, voam muito mais alto do que isso. Mas o procedimento no caso de uma emergência, como a despressurização da cabine, é descer até 10.000 pés antes de desviar para um aeroporto.

Com terreno tão alto, a aeronave não seria capaz de descer o suficiente. É claro que há oxigênio para os passageiros. Mas este é um suprimento limitado e baseado na suposição de que a aeronave atingirá rapidamente uma altitude segura. Para piorar a situação, existem poucos aeroportos de desvio, e estes podem ser um longo voo de algumas partes da região.

(Foto: Getty Images)
Para evitar uma situação em que o avião não pode descer rápido o suficiente, as companhias aéreas optam por pular completamente a região tibetana. Normalmente, os únicos voos que sobrevoam são aqueles com destino a Lhasa ou aos mais cinco aeroportos da província, o que significa que ainda há algum tráfego. No entanto, como vimos acima no mapa, o espaço aéreo do Tibete está quase vazio em comparação com os céus ao seu redor.

Risco de aumento da turbulência


A turbulência durante um voo é causada por correntes de ar que se movem para cima e para baixo em ondulações e em diferentes velocidades. Isso é afetado por vários fatores, incluindo o efeito de aquecimento do sol, as condições climáticas e as montanhas. As correntes de ar subirão sobre as montanhas, criando fluxos perturbadores.

A turbulência pode acontecer em qualquer rota - como todos nós já experimentamos. Mas nesta região montanhosa alta, é mais provável e pode ser difícil de evitar. Isso seria perturbador para os passageiros e também poderia tornar uma situação de emergência ainda mais perigosa.

Vista do furacão do cockpit (Foto: Getty Images)
Durante tempestades tropicais, os voos podem ser solicitados a passar por cima do sistema de tempestades para evitar o pior da turbulência, embora geralmente eles pulem completamente o voo. No entanto, com montanhas para enfrentar, essa tarefa é extremamente difícil para os pilotos e coloca em risco a segurança dos passageiros. Portanto, com a possibilidade de tempo adverso sempre presente, voar sobre altas montanhas é menos do que ideal para voos comerciais.

Risco de congelamento do combustível de aviação


E não surpreendentemente, o motivo final também está ligado ao terreno montanhoso. As temperaturas são muito mais baixas, o que leva ao risco de o combustível de aviação congelar. O combustível Jet A1 padrão tem um ponto de congelamento de -47 graus Celsius (e Jet A, que é mais comum nos EUA, é ligeiramente superior a -40 graus).

Tais temperaturas raramente são alcançadas, especialmente por períodos prolongados de tempo. Mas em altitude sobre as montanhas já frias, há um risco aumentado disso. Não é um problema significativo para voos mais curtos dentro ou fora da região, mas um longo voo sustentado sobre a área pode ser diferente.

Avião sendo reabastecido na África do Sul (Foto: Getty Images)
Embora isso possa não parecer uma grande preocupação, o congelamento do combustível de aviação pode levar a acidentes graves. Em 2008, o voo 38 da British Airways caiu em Londres Heathrow depois que cristais de gelo se formaram na mistura de combustível e entupiram o motor, fazendo com que o avião caísse perto da pista. Felizmente, não houve mortes naquele dia, mas o incidente ressaltou o quão importante a temperatura pode ser para o fluxo de combustível de aviação.

Portanto, voar sobre o Tibete por horas pode levar a impactos ainda mais desconhecidos na mistura de combustível de aviação, deixando as companhias aéreas em risco de perder seus motores.

Edição de texto e imagens por Jorge Tadeu (com informações de Simple Flying e FlightRadar24.com)

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Por que turbulência em voos está ficando mais forte e frequente


Andrew Davies estava a caminho da Nova Zelândia para trabalhar em uma exposição sobre a série de TV Doctor Who, da qual era gerente de projeto.

A primeira parte do voo, de Londres a Singapura, transcorreu sem problemas. Então, de repente, o avião enfrentou uma forte turbulência.

"A única forma que consigo descrever é como se estivesse em uma montanha-russa", ele recorda. "Depois de ser empurrado com força contra o assento, caímos subitamente. Meu iPad bateu na minha cabeça, o café derramou todo em mim. A cabine ficou devastada, com pessoas e destroços por toda parte."

"As pessoas estavam chorando, e não conseguiam acreditar no que havia acontecido." Davies diz que foi "um dos sortudos".

Outros passageiros sofreram cortes e fraturas. Geoff Kitchen, de 73 anos, morreu de ataque cardíaco.

A morte como consequência de turbulência é extremamente rara. Não há números oficiais, mas estimam-se quatro mortes desde 1981. No caso dos feridos, no entanto, a história é outra.

A forte turbulência no voo da Singapore Airlines fez com que o avião caísse
54 metros em 4,6 segundos (Reuters)
Só nos EUA, foram registrados 207 casos de ferimentos graves — uma pessoa ficou internada no hospital por mais de 48 horas — desde 2009, segundo dados oficiais do Conselho Nacional de Segurança nos Transportes. (Destes, 166 eram tripulantes, e poderiam não estar sentados.)

Mas, à medida que as mudanças climáticas alteram as condições atmosféricas, especialistas alertam que as viagens aéreas podem se tornar mais turbulentas: a previsão é de que mudanças de temperatura e nos padrões de vento nas camadas mais altas da atmosfera aumentem a frequência e a intensidade de turbulências graves.

"Podemos esperar um aumento de duas a três vezes na quantidade de turbulências severas ao redor do mundo nas próximas décadas", diz o cientista atmosférico Paul Williams, professor da Universidade de Reading, no Reino Unido.

"Para cada 10 minutos de turbulência grave vivenciada agora, pode aumentar para 20 ou 30 minutos."

Então, se a turbulência se tornar mais intensa, ela também pode se tornar mais perigosa — ou existem maneiras inteligentes pelas quais as companhias aéreas podem tornar seus aviões mais "à prova de turbulência"?

A rota turbulenta do Atlântico Norte


A turbulência severa é definida como quando os movimentos para cima e para baixo de um avião que atravessa uma zona de turbulência exercem mais de 1,5 g de força sobre o seu corpo — o suficiente para levantá-lo do seu assento, se você não estiver usando cinto de segurança.

Estimativas mostram que há cerca de 5 mil incidentes de turbulência severa a cada ano, de um total de mais de 35 milhões de voos que decolam atualmente em todo o mundo.

Das lesões graves sofridas por passageiros que voaram ao longo de 2023, quase 40% foram causadas por turbulência, de acordo com o relatório anual de segurança da Organização Internacional da Aviação Civil.

A rota entre o Reino Unido e os EUA, Canadá e Caribe está entre as áreas conhecidas por terem sido afetadas.

Nos últimos 40 anos, desde que os satélites começaram a observar a atmosfera, houve um aumento de 55% na turbulência severa sobre o Atlântico Norte.

Mas a frequência da turbulência também deve aumentar em outras áreas, de acordo com um estudo recente — entre elas, partes do Leste Asiático, Norte da África, Pacífico Norte, América do Norte e Oriente Médio.

O efeito dominó das mudanças climáticas


Existem três causas principais de turbulência: convectiva (nuvens ou tempestades), orográfica (fluxo de ar ao redor de áreas montanhosas) e de céu claro (mudanças na direção ou velocidade do vento).

Cada tipo pode causar turbulência severa. As turbulências convectivas e orográficas são frequentemente mais evitáveis — já a turbulência de céu claro, como o próprio nome sugere, não pode ser vista. Às vezes, ela parece surgir do nada.

Evitar tempestades que causam turbulência pode congestionar o espaço aéreo,
já que mais aviões são forçados a mudar de rota, de acordo com especialistas (AFP)
As mudanças climáticas são um fator importante no aumento da turbulência convectiva e da turbulência de céu claro.

Embora a relação entre as mudanças climáticas e as tempestades seja complexa, uma atmosfera mais quente pode reter mais umidade — e esse calor e umidade extras se combinam para formar tempestades mais intensas.

Relacionando isso à turbulência —, a turbulência convectiva é criada pelo processo físico de subida e descida do ar na atmosfera, especificamente dentro das nuvens. E você não vai encontrar correntes ascendentes e descendentes mais violentas do que nas cumulonimbus, ou nuvens de tempestade.

Essa foi a causa da forte turbulência na viagem de Andrew Davies em 2024.

Um relatório do Departamento de Investigação de Segurança nos Transportes de Singapura concluiu que o avião "provavelmente sobrevoava uma área de atividade convectiva em desenvolvimento" sobre o sul de Mianmar, levando a "19 segundos de turbulência extrema, incluindo uma queda de 54 metros em menos de cinco segundos".

Um estudo dos EUA de 2014 mostrou que para cada aumento de 1°C na
temperatura global, os raios aumentam em 12% (Getty Images)
Um estudo americano publicado na revista científica Science em 2014 mostrou que, para cada aumento de 1°C na temperatura global, os raios aumentam em 12%.

O capitão Nathan Davies, piloto de avião comercial, afirma: "Tenho notado mais células de tempestade grandes, com mais de 128 km de diâmetro, nos últimos anos, algo que seria de se esperar que fosse raro."

Mas ele acrescenta: "As grandes nuvens cumulonimbus são fáceis de identificar visualmente, a menos que estejam embutidas em outras nuvens, então podemos contorná-las."

A turbulência de céu claro também pode aumentar em breve. Ela é causada por perturbações no ar dentro e ao redor da corrente de jato (um vento rápido a cerca de 10 km de altitude na atmosfera, que é a mesma altitude em que os aviões voam em cruzeiro).

A velocidade do vento na corrente de jato, que viaja de oeste para leste pelo Atlântico, pode variar de 257 km/h a 402 km/h.

Há ar mais frio ao norte e ar mais quente ao sul: essa diferença de temperatura e mudança nos ventos são úteis para as companhias aéreas usarem como vento de cauda para economizar tempo e combustível. Mas isso também cria o ar turbulento.

"As mudanças climáticas estão aquecendo o ar ao sul da corrente de jato mais do que o ar ao norte, de modo que a diferença de temperatura está se tornando mais forte", explica Williams. "O que, por sua vez, está gerando uma corrente de jato mais forte."

'Isso deveria preocupar a todos nós'


O aumento da turbulência severa — suficiente para levantar você do assento — pode potencialmente causar mais incidentes com ferimentos ou, possivelmente, morte nos casos mais graves. E alguns passageiros estão preocupados.

Para Davies, a perspectiva de mais turbulência é preocupante. "Muito. Não só para mim, mas também para meus filhos", ele explica.


"Fico feliz que não tenha havido nenhum incidente tão grave quanto o meu, mas acho que isso deveria preocupar a todos nós."

Mais de um quinto dos adultos do Reino Unido dizem ter medo de andar de avião, de acordo com uma pesquisa recente do instituto YouGov, e o agravamento da turbulência pode tornar as viagens um pesadelo ainda maior para essas pessoas.


Como Wendy Barker, uma passageira ansiosa de Norfolk, me disse: "Para mim, mais turbulência significa mais chances de algo dar errado, e menos chances de sobrevivência."

No entanto, as asas das aeronaves são projetadas para voar em condições de turbulência.

Como diz Chris Keane, ex-piloto e agora instrutor de voo: "Você não vai acreditar o quão flexível é uma asa. Em um avião de passageiros 747, em testes 'destrutivos', as asas são dobradas para cima em cerca de 25 graus antes de quebrar, o que é realmente extremo, e algo que nunca vai acontecer, mesmo na turbulência mais severa."

Para as companhias aéreas, no entanto, há uma preocupação oculta: os custos econômicos de mais turbulência.

O custo oculto da turbulência


A AVTECH, empresa de tecnologia que monitora as mudanças climáticas e de temperatura — e trabalha com o Met Office, o serviço meteorológico britânico, para ajudar a alertar os pilotos sobre turbulências —, sugere que os custos podem variar de 180 mil a 1,5 milhão de libras esterlinas (de R$ 1,3 milhão a R$ 11,2 milhões) por companhia aérea anualmente.

Isso inclui os custos de verificação e manutenção da aeronave após turbulências severas, custos de indenização se um voo tiver que ser desviado ou atrasado, e custos associados a estar no local errado.

As mudanças climáticas são um dos fatores que agravam a turbulência, aumentando tanto
a turbulência relacionada a tempestades quanto a turbulência de céu claro (Getty Images)
A Eurocontrol, uma organização civil e militar que ajuda a aviação europeia a compreender os riscos das mudanças climáticas, afirma que desviar de tempestades que produzem turbulência pode ter um impacto mais amplo.

Por exemplo, se muitas aeronaves precisarem alterar suas rotas de voo, o espaço aéreo pode ficar mais congestionado em determinadas áreas.

"[Isso] aumenta consideravelmente a carga de trabalho dos pilotos e controladores de tráfego aéreo", diz um porta-voz da Eurocontrol.

Ter que contornar tempestades também significa mais combustível e tempo.

Em 2019, por exemplo, a Eurocontrol afirma que o mau tempo "obrigou as companhias aéreas a voar um milhão de quilômetros a mais, produzindo 19 mil toneladas extras de CO2".

Com a previsão de aumento das condições climáticas extremas, eles esperam que os voos precisem desviar ainda mais do mau tempo, como tempestades e turbulências, até 2050.

"Aumentando ainda mais os custos para as companhias aéreas, passageiros e [aumentando] sua pegada de carbono."

Como companhias aéreas estão se precavendo


A previsão de turbulências melhorou nos últimos anos e, embora não seja perfeita, Williams sugere que podemos prever corretamente cerca de 75% das turbulências de céu claro.

"Há vinte anos, esse percentual era mais próximo de 60%, mas graças a pesquisas melhores, ele vem aumentando com o tempo", afirma.

As aeronaves possuem radares meteorológicos que detectam tempestades à frente.

Como explica o capitão Davies, "antes de um voo, a maioria das companhias aéreas elabora um plano de voo que detalha as áreas de turbulência prováveis ao longo da rota, com base em modelagem computacional".

Não é 100% preciso, mas "dá uma ideia muito boa, combinado com outros relatórios da aeronave e do controle de tráfego aéreo, uma vez que estamos em rota".

Uma startup austríaca, a Turbulence Solutions, afirma ter desenvolvido uma tecnologia
de cancelamento de turbulência para aeronaves leves (
EFE/REX/Shutterstock)
A Southwest Airlines, nos EUA, decidiu recentemente encerrar o serviço de bordo mais cedo, a 18.000 pés, em vez de a 10.000 pés, como era feito anteriormente.

Ao fazer com que a tripulação e os passageiros se sentem com os cintos de segurança apertados, prontos para o pouso a esta altitude, a Southwest Airlines sugere que vai reduzir em 20% os ferimentos relacionados a turbulências.

Também no ano passado, a Korean Airlines decidiu parar de servir sopa de macarrão aos passageiros da classe econômica, pois havia registrado uma duplicação na turbulência desde 2019, o que aumentava o risco de os passageiros se queimarem.

De corujas à IA: medidas extremas


Alguns estudos levaram a proteção contra turbulências ainda mais longe — e analisaram formas alternativas de construir asas.

Veterinários e engenheiros estudaram como a coruja-das-torres voa tão suavemente em ventos fortes, e descobriram que as asas atuam como uma suspensão e estabilizam a cabeça e o tronco ao voar em ar turbulento.

O estudo publicado nos anais da Royal Society em 2020 concluiu que "um design de asa articulada, adequadamente ajustado, também poderia ser útil em aeronaves de pequeno porte... ajudando a rejeitar rajadas e turbulências".

Separadamente, uma startup na Áustria chamada Turbulence Solutions afirma ter criado uma tecnologia de cancelamento de turbulência para aeronaves leves, na qual um sensor detecta o ar turbulento e envia um sinal para um flap na asa que neutraliza essa turbulência.

Isso pode reduzir a turbulência moderada em 80% em aeronaves leves, de acordo com o presidente-executivo da empresa.

A previsão de turbulências melhorou nos últimos anos, ajudando os pilotos a
evitar áreas turbulentas (Getty Images)
Há também aqueles que defendem que a inteligência artificial pode ser uma solução. A Falcon é um tipo de tecnologia que está sendo pesquisada no Instituto de Tecnologia da Califórnia, e que aprende como o ar turbulento flui por meio de uma asa em tempo real. Ela também antecipa a turbulência, dando comandos a um flap na asa que então se ajusta para neutralizá-la.

No entanto, Finlay Asher, engenheiro aeroespacial e membro da Safe Landing, uma comunidade de profissionais da aviação que defende um futuro mais sustentável na aviação, explica que esses tipos de tecnologia ainda estão longe de se tornar realidade.

"É improvável que apareçam em grandes aeronaves comerciais nas próximas duas décadas."

Mas mesmo que a turbulência se torne mais frequente e mais severa, especialistas argumentam que isso não é motivo para preocupação.

"Geralmente, não passa de um incômodo", diz o capitão Davies.

Mas isso pode significar mais tempo sentado, com o cinto de segurança apertado.

Andrew Davies aprendeu isso da maneira mais difícil.

"Fico muito mais nervoso, e não tenho mais tanta vontade de voar como antes", admite. "Mas não vou deixar que isso me defina."

"No momento em que me sento, coloco o cinto de segurança e, se precisar me levantar, escolho o momento certo — depois volto rapidamente para o meu assento, e aperto o cinto novamente."

Via Simon King (BBC)

terça-feira, 14 de outubro de 2025

Por que as altas temperaturas podem tornar os aviões pesados demais para decolar

Segundo os pesquisadores, os aviões obtêm 1% menos elevação a cada 3 graus Celsius de aumento de temperatura e precisam reduzir seu peso, podendo até não embarcar passageiros.

(Foto: Reuters/Michaela Rehle)
O aumento das temperaturas do nosso planeta está dificultando a decolagem de aviões em determinados aeroportos, apresentando mais um desafio para a aviação civil. E à medida que as ondas de calor se tornam mais frequentes, o problema pode se estender a mais voos, forçando as companhias aéreas a deixar os passageiros no solo.

“O desafio básico enfrentado por qualquer aeronave ao decolar é que os aviões são muito pesados e a gravidade quer mantê-los no chão”, diz Paul Williams, professor de ciência atmosférica da Universidade de Reading, no Reino Unido. “Para superar a gravidade, eles precisam gerar sustentação, que é a atmosfera que empurra o avião para cima”.

A sustentação depende de vários fatores, mas um dos mais importantes é a temperatura do ar – e conforme o ar esquenta ele se expande, então o número de moléculas disponíveis para empurrar o avião para cima é reduzido.

Os aviões obtêm 1% menos elevação a cada 3 graus Celsius de aumento de temperatura, disse Williams. “É por isso que o calor extremo dificulta a decolagem dos aviões – e em algumas condições realmente extremas isso pode se tornar totalmente impossível”, disse ele.

O problema atinge principalmente aeroportos em grandes altitudes, onde o ar já é naturalmente mais rarefeito, e com pistas curtas, que deixam o avião com menos espaço para acelerar. De acordo com Williams, se um avião requer 2 mil metros de pista a 20 graus Celsius, vai exigir 2.500 metros a 40 graus Celsius.

Redução da velocidade dos ventos


Williams e sua equipe pesquisaram dados históricos de 10 aeroportos da Grécia, todos caracterizados por altas temperaturas no verão e pistas curtas. Eles encontraram um aquecimento de 0,75 grau Celsius por década desde a década de 1970.

“Também encontramos uma diminuição no vento contrário ao longo da pista, de 2,3 (4,26 km/h) nós por década”, disse Williams. “O vento contrário é benéfico para as decolagens, e há algumas evidências de que a mudança climática está causando o que é chamado de “silêncio global”, e é por isso que os ventos parecem estar diminuindo”.

A equipe então colocou essas temperaturas e ventos contrários em uma calculadora de desempenho de decolagem de aeronaves para uma variedade de tipos diferentes de aeronaves, incluindo o Airbus A320 – um dos aviões mais populares do mundo.

“O que descobrimos foi que o peso máximo de decolagem foi reduzido em 127 quilos a cada ano – isso é aproximadamente equivalente ao peso de um passageiro mais sua mala, o que significa um passageiro a menos a cada ano que pode ser transportado”, diz Williams.

Desde a sua introdução em 1988 até 2017, o A320 teve seu peso máximo de decolagem reduzido em mais de 3.600 quilos no aeroporto Chios Island National, o principal aeroporto do estudo, que tem um comprimento de pista de pouco menos de 1.500 metros.

O City Airport de Londres, no distrito financeiro da capital do Reino Unido, também tem uma pista com pouco menos de 1.500 metros de comprimento. Durante uma onda de calor em 2018, mais de uma dúzia de voos foram forçados a deixar passageiros no solo para decolar com segurança. Um dos voos teve que retirar até 20 pessoas.

Em 2017, dezenas de voos foram totalmente cancelados em poucos dias no aeroporto Sky Harbor International de Phoenix, quando as temperaturas atingiram 48,8 graus Celsius, acima da temperatura operacional máxima para muitos aviões de passageiros.

Um estudo da Universidade de Columbia prevê que, até 2050, uma aeronave típica de fuselagem estreita, como o Boeing 737, terá restrições de peso aumentadas de 50% a 200% durante os meses de verão em quatro grandes aeroportos dos EUA: La Guardia (Nova York), Reagan National Airport (Washington), Denver International e Sky Harbor (Arizona).

Soluções possíveis


Felizmente, as companhias aéreas não são impotentes contra o problema. “Existem muitas soluções em cima da mesa”, diz Williams.

“Uma delas seria programar as partidas longe da parte mais quente do dia, com mais partidas de manhã cedo e tarde da noite, uma tática já usada em áreas quentes como o Oriente Médio”. Aeronaves mais leves também são menos afetadas pelo problema, então isso pode acelerar a adoção de materiais compósitos como fibra de carbono para fuselagens, segundo Williams.

Enquanto isso, fabricantes como a Boeing já estão oferecendo uma opção “quente e alta” em algumas de suas aeronaves, para companhias aéreas que planejam usá-las extensivamente em aeroportos de alta altitude e alta temperatura.

A opção oferece impulso extra e superfícies aerodinâmicas maiores para compensar a perda de sustentação, sem alterar o alcance ou a capacidade de passageiros. Obviamente, uma abordagem mais drástica seria alongar as pistas, embora isso possa não ser possível em todos os aeroportos.

Em alguns casos, onde nenhuma destas soluções é aplicável, os passageiros terão simplesmente de ceder os seus lugares. Mas, diz Williams, isso continuará sendo um problema de nicho no futuro próximo, pelo menos.

“Pessoas sendo retiradas de aeronaves porque está muito quente é raro e continuará sendo raro. A maioria dos aviões nunca está em seu peso máximo de decolagem, então isso acontecerá em casos marginais, principalmente aeroportos com pistas curtas, em grandes altitudes e no verão”, diz ele.

No entanto, o futuro a longo prazo pode ser mais difícil, acrescenta: “Não acho que será uma grande dor de cabeça para a indústria, mas acho que há fortes evidências de que vai piorar”.

Via CNN