terça-feira, 31 de maio de 2011

Irã retém avião de Angela Merkel no ar por duas horas

Airbus A340 não teria autorização do Irã para atravessar seu espaço aéreo.

Aeronave quase aterrissou na Turquia para reabastecer, segundo agências.

As autoridades iranianas retiveram no ar durante duas horas, na madrugada desta terça-feira (31), o avião oficial da chanceler alemã, Angela Merkel, que se dirigia à Índia para uma viagem oficial, informam as agências internacionais de notícias.

O Airbus A340 da chanceler alemã foi obrigado a retornar e a sobrevoar o espaço aéreo da Turquia até receber a permissão para atravessar o território do Irã, informou Steffen Seibert, porta-voz oficial do governo da Alemanha.

“Até agora, nunca acontecera um incidente assim”, disse Seibert, que comentou que foi preciso uma hora de intensas negociações por parte do Ministério das Relações Exteriores alemão, com a mediação da Turquia, para que Teerã autorizasse o avião de Merkel a atravessar o espaço aéreo iraniano.

O porta-voz acrescentou que antes do início da viagem as autoridades alemãs haviam solicitado todas as permissões pertinentes para que o avião realizasse seu voo com normalidade, algo que, aparentemente, negam as autoridades do Irã.

Primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, recebe a chanceler alemã, Angela Merkel, após incidente no espaço aéreo do Irã

O avião de Merkel recebeu a autorização no último momento, já que, caso contrário, seria obrigado a fazer uma escala forçada na Turquia para reabastecer.

Um segundo avião oficial alemão que transportava o restante da delegação alemã que participará da primeira cúpula entre Índia e Alemanha cruzou o espaço aéreo do Irã sem problemas.

O avião da chefe do governo alemão, batizado como “Konrad Adenauer” em homenagem ao primeiro chanceler federal, cobria seu primeiro voo após ser reformado nas oficinas da companhia alemã Lufthansa em Hamburgo.

A chanceler alemã se reunirá a partir desta terça com as autoridades indianas para tratar fundamentalmente de política energética, econômica e financeira.

Merkel fará ainda propaganda do avião de combate europeu construído conjuntamente por Alemanha, Grã-Bretanha, Espanha e Itália, já que as forças aéreas indianas estão interessadas na compra de 126 aeronaves.

Fonte: Do G1, com as agências EFE e Reuters - Foto: Saurabh Das/AP Photo

As primeiras hipóteses das causas

Sondas Pitot


Equipamentos instalados na parte exterior da fuselagem das aeronaves, as sondas Pitot são usadas para medir a velocidade do avião, através da pressão do ar colhido em uma abertura em sua extremidade. Especialistas apontam que um possível acúmulo de gelo pode ter provocado o mau funcionamento das sondas, o que teria desencadeado os fatores que culminaram no acidente. Dados das caixas-pretas do Airbus A330 indicam que houve uma queda abrupta do avião pouco depois da falha nos indicadores de velocidade.

Foto: Crédito: Reprodução

Mau tempo



O Airbus A330 da Air France enfrentou uma área de forte turbulência no Oceano Atlântico, que contribuiu para a perda de sustentação da aeronave. O bico do avião era equipado com um radar meteorológico, 'que consegue prever com milhas de antecedência o que está por vir adiante', segundo Flavio Marcos de Souza, jornalista especializado em aviação. De acordo com Souza, o normal em situações como a enfrentada pelo voo AF 447 seria desviar a rota para evitar a área de instabilidade. 'Nessa sequencia de eventos que culminam no acidente, provavelmente o primeiro tenha sido o fator meteorologia. Resta saber se foi por uma falha de julgamento dos pilotos ou por uma falha do radar', afirmou.

Foto: Crédito: AP

Falha humana



Não está descartado que o acidente tenha sido provocado por algum erro cometido pela tripulação do Airbus. O relatório parcial do BEA ainda não é conclusivo quanto à responsabilidade dos pilotos na perda de sustentação da aeronave. Durante a queda, os a equipe tentou puxar os comandos para elevar o bico da aeronave. 'Quando se está em stall (perda de sustentação), se você botar o nariz (da aeronave) para cima, você só piora a situação', disse o professor Guido Cesar Carim Junior, coordenador do departamento de treinamento de voo do Faculdade de Ciências Aeronáuticas da PUC-RS.

Foto: Crédito: Getty Images

Fonte: Terra

As perguntas sem respostas do voo AF 447

Por que a tripulação do voo AF 447 não desviou da área de turbulência?


Na noite de 31 de maio de 2009, todos os aviões que fizeram rota semelhante à do voo AF 447 efetuaram desvios para evitar a tempestade na área equatorial do Oceano Atlântico. Segundo o jornalista Flavio Marcos de Souza, não se sabe se a tripulação do avião da Air France foi imprudente ou se foi induzida ao erro por falha em algum equipamento. 'Todos os outros voos naquela noite, indo para a Europa ou para o Brasil, desviaram do mau tempo, e só o AF 447 entrou (na região). Esta é a grande chave (do caso).'

Foto: Crédito: AP

Os procedimentos adotados após a perda de sustentação foram adequados?


 
O relatório do BEA aponta que, após o desligamento do piloto-automático da aeronave, 'os motores estavam em funcionamento e sempre responderam aos comandos da tripulação', e as ordens do piloto durante a queda foram, principalmente, para elevar o nariz do Airbus, mesmo com o soar do alarme de stall (perda de sustentação). Os trechos levantaram dúvidas se a atitude da tripulação foi correta. Para Guido Cesar Carim Junior, entretanto, os pilotos podem ter sido induzidos ao erro por não confiarem nos instrumentos, que apresentariam falhas. 'O que me parece é que nenhuma indicação dos instrumentos estava válida. Provavelmente, o que eles (pilotos) estavam olhando nos instrumentos, eles não acreditavam muito', afirma.


Foto: Crédito: AFP

O que causou a falha nas sondas Pitot?


 
A análise das caixas-pretas aponta que 'houve uma inconsistência' na medição de velocidade da aeronave, que durou pouco menos de um minuto. Segundo a Air France, a falha nas sondas Pitot teria conduzido a 'uma desconexão do piloto automático e a perda dos sistemas de proteção de pilotagem associados', levando à queda do Airbus. Mas o que teria causado o problema nas sondas? Uma das hipóteses levantadas é de que o acúmulo de gelo, proveniente das más condições meteorológicas enfrentadas pelo avião, tenha reduzido a capacidade de medição do equipamento.


Foto: Crédito: BEA/Divulgação

As pessoas estavam conscientes no momento do impacto?


 
Após grandes acidentes aéreos, como o do voo AF 447, muito se pergunta sobre os momentos de pânico vividos pelos passageiros minutos antes do choque com o mar. Os ocupantes do Airbus ainda estavam conscientes àquela altura ou teriam ficado desacordados durante a queda abrupta? 'Uma queda de 10 mil pés por minuto (200 km/h) provoca uma força G (força gravitacional) muito grande. É difícil afirmar se ficaram conscientes ou não durante a queda', afirma o jornalista Flavio Marcos de Souza.


Foto: Crédito: AFP

Fonte: Terra

'O tempo piora a dor', diz pai de vítima do AF 447

Familiares comentam as esperanças e as angústias trazidas pela nova fase de buscas por corpos no Atlântico.

Passados dois anos do acidente do voo da Air France, o tempo não trouxe nenhum alento para o médico Oswaldo Seba. Ele perdeu sua filha única no acidente, a psicóloga Luciana Clarkson Seba, de 31 anos.

'Para mim e para a minha esposa, não houve mudança alguma nestes dois anos. O tempo parece que piora mais a dor', diz Seba, de 60 anos, que está há dois anos sem trabalhar e vive à base de medicamentos.

Seba não conseguiu retomar a profissão desde a morte de Luciana, que viajava com o marido e os sogros para encontrar a cunhada na França. 'É uma coisa muito dura. A gente está tentando sobreviver. Com uma tragédia dessas, a gente não consegue nem viver, apenas sobrevive.'

Luciana e Oswaldo Seba em foto de arquivo pessoal da família - Foto: BBC

Além de filha única, Luciana era neta única, a última na linha de sucessão da família. 'Ficou um vazio enorme', diz o pai.

O AF 447 voava do Rio para Paris, na noite do dia 31 de maio de 2009. A aeronave caiu sobre o oceano Atlântico às 23h14, matando seus 216 passageiros e 12 tripulantes.

Desde o início de abril, quando novos destroços do Airbus 330 foram encontrados, famílias vêm acompanhando com apreensão o turbilhão de notícias: o anúncio de que havia corpos dentro da fuselagem, a descoberta das caixas-pretas do voo, o resgate dos dois primeiros corpos nesta nova fase, as dúvidas sobre a possibilidade de identificá-los, os resultados positivos dos testes para extrair o DNA, as análises preliminares dos dados contidos nas caixas-pretas, o resgate de mais corpos.

'A gente vem tentando acomodar essa dor, mas a todo momento vêm as notícias, a toda hora abre a ferida', diz a nutricionista Sylvie Mello, de 37 anos, que perdeu o irmão e a cunhada no acidente. 'Primeiro havia a expectativa de encontrar a caixa-preta. De repente a ministra francesa anuncia que foram encontrados corpos também, corpos bem conservados. É uma angústia enorme.'

'Orgulho da família'

O irmão de Sylvie, o procurador federal Carlos Eduardo Lopes de Mello, de 33 anos, e a cunhada, Bianca Pires Cotta, de 25 anos, recém-formada em medicina, partiam em lua de mel após a festa de casamento no dia anterior.

'A gente tinha acabado de sair de uma festa linda, um casamento, um sonho que se realizou. Eles foram em lua de mel, eu os levei ao aeroporto, a gente tem toda aquela imagem', conta. Seu irmão, que passara no concurso de procurador federal antes mesmo de terminar a faculdade, aos 23 anos, era 'o orgulho da família'.

Segundo Sylvie, seus pais estão 'destruídos'. Sua mãe não pode nem ouvir falar do acidente. Seu pai quer acompanhar todas as notícias.

'É um turbilhão, isso consome a gente. Por mais que você não queira assistir, você vai à padaria e dá de cara com as notícias. Minha mãe entra no elevador e alguém fala com ela sobre o assunto. Conviver com isso é muito ruim. Você vive abalado psicologicamente, frequentando psiquiatra, tomando remédio para dormir, tirar sua angústia. É assim que a sua família vive. À base de medicamento, de medicação, a todo momento é pego por uma informação.'

Na última sexta-feira, o primeiro relatório oficial com base nos dados extraídos das caixas-pretas foi divulgado pelo Escritório de Investigações e Análises (BEA, na sigla em francês), confirmando falhas na medição da velocidade da aeronave e seu tempo de queda, de 3 minutos e meio.

Só no fim de julho, entretanto, será divulgado o primeiro relatório sobre as causas do acidente de fato. São respostas ansiosamente aguardadas pelas famílias.

Para Nelson Faria Marinho, presidente da Associação de Familiares das Vítimas do Voo AF 447, as informações divulgadas na sexta-feira passada não trouxeram nada de novo. 'Agora, são mais dois meses de sofrimento para saber o que aconteceu', diz. 'Só espero transparência do governo francês. Porque nós vamos até o final, queremos saber o que aconteceu.'

Marinho perdeu o filho no acidente. Nelson Marinho, de 40 anos, que trabalhava em prospecção de petróleo e seguiria de Paris para Angola a trabalho. Era o segundo de cinco irmãos. 'Isso desestruturou toda a família. Criou problemas de tudo quanto é ordem. Não sei nem traduzir em palavras', diz o pai.

A notícia de que corpos das vítimas foram encontrados no fundo do mar dividiu os familiares. Porta-voz das famílias, Nelson Marinho vem lutando para que sejam resgatados, identificados e devolvidos às famílias.

'Queremos os restos mortais para que possamos finalizar a vida, para que possamos fazer um enterro para nossos entes queridos e ter um lugar para visitar', diz. A notícia do resgate de mais corpos nos últimos dias deixou-o extremamente ansioso: 'Todo mundo pensa que o seu (parente) vai estar entre eles, mas na verdade ninguém sabe'.

Temores

Outras famílias prefeririam que os corpos fossem mantidos onde estão. A advogada Julienne Owondo, de 28 anos, perdeu o pai, Joseph Owondo, advogado da ONU. Ela teme ter que voltar a tomar remédios se o corpo for encontrado, como fez na época do acidente.

'Se encontrarem, vai reavivar tudo. É uma coisa que não se fecha. Eu prefiro não saber. Eu vou ficar muito mal e não vou conseguir me concentrar nas coisas que tenho que fazer. Posso ter que voltar a tomar medicamentos. No início eu tomei, porque não tinha condição nenhuma', conta.

Sylvie Mello diz que sua família quer que 'os deixem quietos'. 'Até porque, no nosso caso, são dois. A gente não quer só um', diz.

Ela afirma que ficou horrorizada ao ouvir um perito afirmando que talvez não fosse possível fazer o teste de DNA das vítimas. 'Se não for possível a identificação, então quem é essa pessoa, o que vai ser feito com o corpo? Não vai poder entregar para a família?', questiona.

Ela se arrepia também com as notícias sobre o transporte dos corpos. 'Acho desumano veicular notícias de que os corpos estão sendo desmembrados. É como se fossem uma mala que abriu, e caiu uma peça. São as pessoas que pegaram o avião querendo chegar ao seu destino, uns de férias, outros a trabalho, outros para iniciar nova etapa da vida.'

Mas iniciar uma nova etapa da vida é difícil sem um desfecho para o sofrimento, e por isso a jornalista Renata Mondelo Mendonça, de 40 anos, se considera 'afortunada'. O corpo de seu marido foi encontrado na primeira fase de buscas, nos dias após o acidente. 'Eu pude enterrá-lo e achei importante finalizar, ter um lugar para rezar. Mas entendo os dois lados. Revisitar a dor é muito difícil.'

Fonte: BBC via G1

Polêmica jurídica põe em risco indenizações a famílias do voo AF 447

Air France quer aplicação de norma internacional em processos no Brasil.

Tratado limita dano moral e encerra prazo para ações nesta quarta (1º).


Os familiares das vítimas do acidente com o voo AF 447, da Air France, têm até esta quarta-feira (1º) para entrar com ações de indenização, se quiserem evitar contestação de prazo no futuro. É o que afirmam advogados ouvidos pelo G1 sobre uma polêmica envolvendo as normas relacionadas à responsabilidade civil aplicáveis ao caso. O acidente com o Airbus A330, que matou 228 pessoas em 2009, completa dois anos nesta quarta.

Pelo Código Brasileiro de Aeronáutica, de 1989, há um prazo de dois anos, contados a partir da data do acidente, para entrar com a ação. A norma prevê ainda um teto limite ao valor da indenização --calculado com base em Obrigações do Tesouro Nacional (OTN). Mas, para especialistas, deve ser aplicado o Código de Defesa do Consumidor, com um prazo de cinco anos e sem limite de valor.

A Air France, no entanto, vem utilizando a Convenção de Montreal - que regula o transporte aéreo internacional - em sua defesa em processos já em tramitação sobre o acidente, que também prevê prescrição em dois anos e limite de valor.

“Se prevalecer esse argumento da Air France, há risco para os pedidos de indenização que forem feitos a partir do dia 1º. O Brasil é signatário do tratado”, afirma João Tancredo, que representa familiares de 15 vítimas brasileiras, de um total de 59 que morreram no acidente.

“Se for somente a lei brasileira, não há problema, porque é um equívoco aplicar o Código de Aeronáutica. Ele já está em grande parte revogado pelo Código de Defesa do Consumidor, que é posterior. Nem a Air France argumenta isso, porque o Supremo [Tribunal Federal] já entendeu assim”, avalia o advogado, que cita ainda o Código Civil, com um prazo genérico para ações de indenização, de três anos. "O problema é que pode se entender que o Tratado de Montreal se sobrepõe à lei brasileira."

O advogado afirma que, para evitar contestações sobre a data das ações, o melhor é apresentar uma outra, chamada cautelar de interrupção de prescrição, usada para o caso de o interessado não ter reunido os documentos necessários para apresentar a ação indenizatória. “Eu faço a defesa intransigente que o aplicável é o Código do Consumidor ou Código Civil. Além disso, a legislação brasileira não prevê esse limite de valor. Mas não posso deixar o cliente correndo risco”, afirma ele, que conta ter sido procurado por familiares de vítimas do exterior para protocolar esse tipo de ação nesta semana. “Fiz seis até agora, de estrangeiros.”

Divisor de águas

Para o advogado Luiz Roberto de Arruda Sampaio, que atuou em defesa de famílias das vítimas da tragédia envolvendo o Fokker-100 da TAM, "com certeza, há prevalência do Tratado de Montreal". "É possível, porém, contestar o limite de valor de indenização, porque, se quiser aplicar a convenção, o limite de indenização só ocorre sem discussão de culpa. Quando tem culpa, e, nesse caso, está evidente que teve culpa, não cabe limite”, considera.

"Nós fomos a experiência", diz Sandra Assali, que perdeu o marido no acidente da TAM em 1996 e
preside a primeira associação de vítimas de acidentes do país - Foto: Fabrício Costa/G1

O acidente com o voo 402 da TAM, que caiu no bairro do Jabaquara, na capital paulista, logo após a decolagem do Aeroporto de Congonhas, deixou 99 mortos em 1996. As indenizações demoraram ao menos dez anos para serem pagas, e os últimos casos foram encerrados entre 2008 e 2009, segundo Sandra Assali, presidente da Associação Brasileira de Parentes e Amigos de Vítimas de Acidentes Aéreos. Ela perdeu o marido no acidente, provocado por uma sequência de falhas na aeronave.

"Nós fomos a experiência. Não existia uma referência anterior. Fizemos a primeira associação de vítimas, foi o primeiro grande acidente que marcou. Mudou toda uma mentalidade. Em 2007, a própria TAM procurou as famílias e apresentou um acordo mais razoável”, afirma ela, referindo-se à segunda tragédia da companhia, quando um Airbus ultrapassou a pista de Congonhas, chocando-se com um depósito, causando 199 mortes.

"Aquele caso foi um grande divisor de águas, inaugurou parâmetros de indenização razoáveis, uma série de vantagens que antigamente não havia. A Justiça tem melhorado com o passar do tempo, não havia legislação. Hoje, tem indenização para irmão da vítima. Houve uma evolução muito grande”, complementa o advogado.

Para Sampaio, ainda é prematuro dizer se os parentes das vítimas do AF 447 poderão responsabilizar os fabricantes dos pitots que teriam causado a tragédia, mas é uma possibilidade. “Se o familiar quiser alegar responsabilidade objetiva, tem que esperar a conclusão das investigações e a apuração dos culpados. Ainda é cedo para apontar responsáveis. Pessoalmente, não acredito nesse prazo prescricional de dois anos, mas acho que é bom não correr risco. Acho que deveriam entrar com a ação já”, afirma.

No caso da TAM, houve uma tentativa de processo contra a fabricante de uma das peças da aeronave, que terminou em acordo extrajudicial. Mas, mesmo com o pagamento, Sandra não recomenda que as famílias tentem buscar reparação no exterior.

"Não vale a pena, porque você consegue hoje aqui um valor mais justo, com menos tempo, sem tanto desgaste. A não ser que a família não concorde", diz. "A companhia não quer sua imagem arranhada. Casos anteriores são referência, já se chegou a bons valores", orienta.

Ações em andamento

O advogado das vítimas do voo da Air France afirma não poder revelar o total de acordos feitos com a empresa, em razão da confidencialidade, mas, até o momento, há aquelas em que não houve audiência inicial, seis sentenças e uma decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro favoráveis a seus clientes.

Na decisão mais recente, o TJ negou o pedido da companhia francesa de limitar o valor pago em 300 mil euros, por meio do Tratado de Montreal. Os desembargadores aumentaram, de R$ 510 mil para R$ 600 mil, a indenização aos pais de Luciana Clarkson Seba, e, de R$ 102 mil para 200 mil, aos avós.

Já em 13 ações, houve decisão apenas em tutela antecipada, garantindo aos parentes tratamento médico, com duas consultas semanais a um psicólogo e uma mensal em psiquiatra; medicamentos, ao custo médio de sete salários mínimos mensais por familiar; e o pagamento de pensão mensal, proporcional aos ganhos e levando em conta a sobrevida provável da vítima.

“Entramos com a antecipação de tutela, para evitar a demora, que mais injustiça faz com a vítima. No caso da Air France, não tem que provar culpado. É contrato de transporte. Tem que provar que era passageiro e que sofreu um dano. Não tem que provar que teve culpa.”

"Ninguém quer ficar milionário. Quer o que é justo é para poder criar os filhos, dar educação. É manter o que existia. Hoje você tem esses exemplos a sentar numa mesa de acordo”, conclui Sandra.

Clique sobre a imagem para ampliá-lo
Veja detalhes do voo 447 - Imagem: Editoria de Arte/G1

Fonte: Rosanne D'Agostino (G1)

Após dois anos, incógnitas ainda marcam investigações do AF 447

Dados precisos recém-recuperados das caixas-pretas são cruciais para técnicos reconstituirem desastre.

Detalhe de memorial às vítimas do acidente

O aniversário de dois anos do acidente com o voo 447 da Air France, que caiu no Atlântico quando fazia a rota Rio-Paris, é marcado por avanços nas investigações técnicas, embora ainda existam várias incógnitas, assim como pela expectativa dos familiares em relação à identificação das vítimas resgatadas neste mês.

'Há dois anos, não tínhamos nenhuma informação precisa. Nesses dois últimos meses, localizamos as caixas-pretas e dispomos agora de todos os elementos para compreender o que ocorreu', afirma Alain Bouillard, do Escritório de Investigações e Análises (BEA, na sigla em francês), investigador-chefe do acidente com o voo AF 447.

O avião decolou às 22h29 GMT (19h30 no horário de Brasília) do dia 31 de maio de 2009 com 228 pessoas a bordo e caiu pouco menos de quatro horas depois a cerca de 1,1 mil Km da costa brasileira.

Pela primeira vez desde a catástrofe, o BEA confirmou, na última sexta-feira, que a pane nas sondas de velocidade do Airbus foi o ponto de partida de uma série de eventos que levaram ao acidente.

'Se o problema nas sondas não tivesse ocorrido, não teria havido o acidente', declarou em entrevista à BBC Brasil na última sexta-feira o diretor do BEA, Jean-Paul Troadec.

As famílias, no entanto, deverão aguardar até o final de julho, quando será divulgado um relatório intermediário, para saber as primeiras conclusões sobre as causas do acidente. Os resultados definitivos das investigações só serão anunciados no próximo ano.

Sondas

Por enquanto, sabe-se que a pane nos sensores de velocidade comprometeu a ação dos pilotos e pode ter induzido a erros de pilotagem.

Especialistas ouvidos pela BBC Brasil sugerem que o BEA estaria dando destaque para eventuais falhas dos pilotos após o incidente com as sondas - declarando que em casos semelhantes a tripulação havia conseguido recuperar o avião - porque isso seria uma forma de reduzir as indenizações a serem pagas às famílias.

Em razão do provável congelamento em alta altitude, as sondas Pitot passaram a enviar informações contraditórias sobre a velocidade do avião aos computadores de bordo, o que acarretou o desligamento do piloto automático.

O avião passou, então, a ser comandado manualmente, sem os sistemas eletrônicos de proteção ligados à pilotagem automática.

O Airbus sofreu uma perda de sustentação, causada pela baixa velocidade da aeronave antes da queda, e despencou em 3 minutos e meio a uma velocidade de 200 Km/hora, segundo o BEA.

Sem fôlego ladeira acima

Após a divulgação das circunstâncias do acidente, na sexta-feira, surgiram questionamentos sobre a decisão da tripulação de levantar o nariz do avião para ganhar altitude depois que os alarmes de perda da sustentação dispararam.

O ato foi comparado a subir uma ladeira correndo no momento em que se está sem fôlego.

O procedimento adequado seria o oposto: baixar o nariz do avião para ganhar velocidade com a descida e recuperar assim a força de sustentação da aeronave.

'Se os pilotos decidiram levantar o nariz é porque a velocidade indicada, que curiosamente o BEA não revela no comunicado, estaria superestimada. Os pilotos agiram mal porque não tinham os instrumentos em funcionamento', disse à BBC Brasil Gérard Arnoux, co-autor de uma investigação paralela sobre as causas do acidente com o voo AF 447 e piloto de aviões Airbus.

Segundo Arnoux, o Airbus se tornou 'irrecuperável' porque o chamado 'plano horizontal regulável' (ângulo formado entre a asa traseira e o vento) passou de 3° para 13° em apenas um minuto e permaneceu assim até o final do voo, comandado pelos computadores de bordo, que se basearam em dados falsos de velocidade.

'Há o risco de ultrapassar um certo ângulo de incidência, como admite a própria Airbus. Não dá mais para recuperar o avião. É um problema de aerodinâmica do Airbus, que permaneceu com a asa traseira empinada, levantando a aeronave', afirma.

Além de aguardar novos dados sobre as investigações, os parentes das vítimas também esperam a futura identificação dos 77 corpos resgatados nos últimos dias, que será realizada na França.

As operações de resgate devem ser encerradas até o dia 1° de junho.

Fonte: BBC via G1