Criada para homenagear as vítimas do voo 3054, a praça está sem iluminação, com rachaduras e suja
Pais da comissária Madalena se revezam entre para cuidar da praça
Pouco mais de seis meses após a inauguração da Praça Memorial 17 de Julho, construída em frente ao Aeroporto de Congonhas em homenagem às 199 vítimas do voo 3054 da TAM, em 2007, o local batizado de solo sagrado pelas famílias dos mortos está sem iluminação, com rachaduras no anel de concreto da fonte, mato por cortar e repleto de sujeira.
“Outro dia tinha até casca de abacaxi e pontas de cigarro na água”, lamenta o comerciante José Roberto Silva, pai da comissária Madalena Silva, de 20 anos, que estava entre os mortos. Ele e a mulher, Therezinha, se dividem entre Porto Alegre e São Paulo apenas para cuidar da manutenção da praça com dinheiro do próprio bolso.
“A decisão foi nossa. Gastamos cerca de R$ 1,8 mil por mês na limpeza”, diz Roberto. Segundo ele, das 300 lâmpadas da praça, apenas duas acendem. “Está escuro há um mês. Eu compro as lâmpadas, mas tem de mexer na parte elétrica e não sei fazer esse serviço”, afirma.
Roberto conta que várias empresas se ofereceram para cuidar da praça, mas, na hora de contribuir com o dinheiro, todas somem. “Já coleciono 19 cartões de firmas”, ironiza.
Em nota, a Subprefeitura Santo Amaro diz que faz a varrição diariamente e a lavagem quando necessário. Mas promete reforçar os serviços a partir desta segunda-feira. Sobre iluminação e rachaduras, afirma que vai acionar a empresa responsável pela obra para os reparos.
‘Não passo um dia sem saudade da minha filha’
José Roberto Silva diz que, apesar de ter se passado cinco anos e meio do acidente, para ele parece que a tragédia com o voo da TAM aconteceu ontem. “Não passo um dia sem sentir saudade da minha filha. Quando acordo, falo bom-dia para a filha que ficou (Suelem, de 22 anos) e vou à sacada cumprimentar a Madalena (a que morreu)”, conta. A comissária morava com a família em Porto Alegre e não precisava ter vindo a São Paulo naquele dia, mas como tinha de se apresentar à chefia na manhã seguinte, ficou com medo de se atrasar devido a nevoeiros. Por isso, pegou o voo 3054.
“Infelizmente, o dinheiro sempre fala mais alto. Quando acontece uma tragédia, a gente sempre ouve falar que aquilo não pode se repetir, mas sempre se repete por causa disso”, lamenta o pai. José Roberto fez 32 camisetas com a foto da filha, uma para cada dia. “Para mim, cuidar da praça ajuda a extravasar a dor. Já minha mulher se doa 100% como voluntária da Cruz Vermelha.”
Fonte: Cristina Christiano (Diário de SP) via Rede Bom Dia - Foto: Bruno Poletti / Diário SP