As principais notícias sobre aviação e espaço você acompanha aqui. Acidentes, incidentes, negócios, tecnologia, novidades, curiosidades, fotos, vídeos e assuntos relacionados.
Visite o site Desastres Aéreos, o maior banco de dados de acidentes e incidentes aéreos do Brasil.
O Antonov A-40 durante o voo (Foto: Domínio Público)
A rápida evolução de máquinas de guerra nos anos após a Primeira Guerra Mundial mudou os paradigmas do combate bélico.
A Frente Ocidental da Primeira Guerra havia desenvolvido rapidamente linhas de trincheiras estáticas. Milhares de homens morriam nos ataques para ganhar poucas centenas de metros de território.
Arame farpado, artilharia e metralhadoras aumentaram enormemente os custos dos avanços frontais.
A invenção dos primeiros tanques armados em 1917 rompeu esse impasse. Os tanques conseguiam mover-se através do arame farpado e eram, em grande parte, imunes aos ataques das metralhadoras.
Assim, as táticas militares voltaram-se para uma nova forma de máquina de guerra que imitava as antigas campanhas de cavalaria - enormes batalhas disputadas ao longo de amplos territórios. E outra arma mais moderna - o avião - ampliou ainda mais essa capacidade.
Os estrategistas militares precisaram enfrentar avanços blindados cobrindo dezenas de quilômetros em um único dia - um feito quase impensável poucas décadas antes.
Nos anos 1930, diversos exércitos começaram a imaginar como as tropas isoladas pelo curso da batalha ou que aterrissavam de paraquedas muito além das linhas inimigas poderiam conseguir apoio blindado com rapidez.
A melhor forma parecia ser mesclar pequenos tanques com os grandes aviões bombardeiros.
Experimentos foram realizados, especialmente na União Soviética, nos anos 1930. Entre os conceitos, havia os tanquetes atiradores - pequenos tanques com armamento leve e metralhadoras - sob as asas de grandes aviões bombardeiros.
Os aviões aterrissariam, descarregariam os tanques e decolariam novamente. Tecnicamente, era viável, mas havia uma importante desvantagem: seria preciso ter terra plana suficiente por perto para que os grandes aviões pudessem pousar.
Por isso, surgiu outra ideia mais extravagante: por que aterrissar o avião se o próprio tanque poderia descer à terra? Assim surgiu a noção do "tanque planador".
O desenvolvimento da ideia
O planador foi desenvolvido na primeira metade do século 20, principalmente para fins militares. A Alemanha, a União Soviética, o Reino Unido e os EUA dedicaram grandes esforços para desenvolver planadores que pudessem transportar tropas e carga para o campo de batalha.
Os planadores eram rebocados por aviões de transporte - como os planadores modernos, que são rebocados por aviões leves - e liberados perto do alvo para prosseguir até o seu destino. Para serem eficazes, os planadores precisavam de espaço limpo para aterrissagem (o que restringia os locais onde poderiam ser usados), mas foram uma arma decisiva na Segunda Guerra Mundial.
No início dos anos 1930, os estrategistas militares buscavam máquinas de guerra com mais mobilidade. Com isso, os tanques diminuíram de tamanho.
O engenheiro americano J. Walter Christie havia inventado um sistema de suspensão inovador que foi empregado em muitos tanques na Segunda Guerra Mundial. Ele começou a examinar o conceito do tanque voador no início dos anos 1930.
O projeto de Christie era mais ambicioso que os que se seguiram. Ele envolvia aparafusar um par de asas e uma cauda ao tanque, além de um propulsor alimentado pelos motores do veículo.
Segundo Christie, o tanque conseguiria ser suspenso no ar a cerca de 330 pés (100 metros) e transportado até o campo de pouso com sua própria potência.
O tanque T-60 foi a base do ambicioso projeto de Oleg Antonov (Imagem: Getty Images)
"Além disso, o piloto do tanque voador não precisa do terreno plano exigido por um avião bombardeiro para decolar", afirmou Christie, segundo mencionado na revista Popular Mechanics em 1932. "Ele pode decolar na lama, em campo acidentado e em terreno que impediria um avião médio de subir aos céus."
O exército americano não tinha a mesma convicção de Christie e sua ideia inovadora acabou não sendo aceita. Mas, alguns anos depois, outro projetista igualmente visionário tirou o conceito da mesa de desenho e o levou para o ar, na União Soviética.
'Solução em busca de problemas'
Oleg Antonov era fascinado pela aviação desde a infância. Quando ainda era adolescente, ele projetou seu próprio planador. Seu talento como projetista acabou levando-o ao cargo de projetista-chefe da Fábrica de Planadores de Moscou, onde projetou mais de 30 planadores diferentes.
Os estrategistas militares soviéticos estavam começando a entender que as unidades de paraquedistas poderiam precisar de armas mais pesadas para ajudá-los a sobreviver em bolsões isolados, longe de forças amigas.
Uma opção pesquisada foi enviar pequenos tanques a bordo de grandes bombardeiros, usando grandes paraquedas. Mas havia problemas nessa operação, como explica Stuart Wheeler, curador do Museu dos Tanques de Bovington, no Reino Unido.
"Um dos pontos que vemos nos soviéticos do pós-guerra é essa ideia de dispersão, lançando veículos com diversos paraquedas. Mas onde está a tripulação? Eles também lançavam a tripulação, mas eles poderiam aterrissar muito longe e precisar atravessar quilômetros para chegar até o veículo", segundo ele.
O T-60 precisou sofrer grandes modificações para conseguir voar (Imagem: Kaboldy/CC BY-SA 3.0)
Para Wheeler, "os tanquetes suspensos em um [avião] Tupolev são uma solução para o problema, que não está longe do que acontecia nos Estados Unidos nos anos 1960, com helicópteros Sikorsky e veículos suspensos abaixo da aeronave".
Mas, nos anos 1930, essas ideias simplesmente não eram viáveis.
Em 1940 - apenas um ano antes da invasão da União Soviética pela Alemanha -, Antonov foi levado a trabalhar em um planador que pudesse carregar pequenos tanques. Mas o projeto de Christie o havia intrigado e ele trabalhou em um projeto de tanque voador chamado A-40.
O protótipo usava um tanque T-60, pequeno e rápido, usado para reconhecimento. Nele, eram aparafusadas duas asas e uma longa cauda estabilizadora. Wheeler afirma que não era um compromisso ideal.
"O problema é que o único veículo que realmente poderia entrar ali é um modelo de 1937, prejudicado pela sua blindagem fina e sua metralhadora pequena", segundo ele.
O que favorecia a ideia do tanque planador é que ele não exporia aviões de transporte grandes e lentos aos combates em terra. O tanque seria liberado a alguma distância da zona de aterrissagem e planaria até parar.
Um modelo em escala do A-40 construído alguns anos atrás por um museu na Holanda mostra as imensas dimensões desse veículo criativo e inusitado.
"O tanque pesa apenas cerca de seis toneladas e é bastante pequeno", afirma o jornalista especializado em aviação Jim Winchester.
"Mas a envergadura é a mesma de um pequeno bombardeiro e ele tem duas vezes a área das asas."
Dois conjuntos de asas empilhados um sobre o outro são necessários para elevar suficientemente o tanque, a fim de mantê-lo suspenso.
O projeto de Antonov ficou na mesa de desenho até muito depois que a Alemanha invadiu a União Soviética em 1941. Foi ali que Antonov percebeu como pode ser difícil transformar a ideia do papel em realidade. Seu protótipo somente foi construído em 1942.
No dia 2 de setembro de 1942, o piloto de teste (ou, neste caso, o motorista de teste) Sergei Anokhin pegou os controles do tanque, rebocado por um bombardeiro Tupolev TB-3 com uma longa corda. O A-40 estava pronto para o seu voo inaugural.
"Para testar o voo, eles precisam deixar de fora a munição e a maior parte do combustível para economizar peso", explica Winchester. "O conceito era que, à medida que a torre do tanque girava, você movia os controles das asas. Você simplesmente movimenta a arma para a esquerda ou para a direita."
Mas o tanque era tão pesado que a torre também precisou ser retirada.
O Tupolev decolou com o A-40 a reboque, mas precisava liberar o tanque cedo para evitar acidentes - o arrasto criado pelo incômodo veículo resultou ser grande demais.
Anokhin conseguiu plainar o tanque para pousar em um campo. E, depois de pousar, ele conseguiu desmontar as asas e a cauda e dirigir o tanque de volta para a base.
A aerodinâmica básica do A-40 comprovou ser segura, mas seu primeiro voo (que acabaria também sendo o último) demonstrou as dificuldades de fazer um veículo tão pesado sair do chão.
"Ele é chamado de tanque voador, mas, se você disser isso, as pessoas irão pensar em um objeto sobrevoando e disparando tiros, enquanto, na verdade, não era este o caso", explica Winchester. "De certa forma, era uma solução em busca de problemas."
Este modelo em escala do A-40 mostra o enorme tamanho das suas asas e da cauda, em comparação com o pequeno tanque (Imagem: The Tank Museum, Bovington)
Os estrategistas soviéticos queriam, na verdade, que o conceito do A-40 fosse usado com o tanque T-34, muito mais pesado e eficaz.
Mas o atabalhoado voo inaugural demonstrou que não havia aeronave com potência suficiente para fazer o planador decolar com o tanque maior. Um T-34 totalmente carregado pesava 26 toneladas - mais de quatro vezes o diminuto T-60.
Este tanque pequeno poderia ter sido útil para apoiar unidades amigas, operando longe da linha de combate, mas teria menos utilidade em grandes batalhas.
"Você tem um tanque que pode ser útil em certas circunstâncias, mas não em um ambiente em disputa na forma habitual", afirma Winchester.
A tentativa japonesa
O projeto de Antonov nunca mais voou, mas não foi o fim do conceito de tanque voador.
O Japão, que também havia se interessado pelo conceito de Christie, explorou a ideia durante a Segunda Guerra Mundial.
O Tanque Leve Especial número 3 Ku-Ro japonês foi um projeto inteiramente novo, construído especialmente para a missão. Como o A-40, ele foi projetado para ser rebocado por uma aeronave grande e liberado para plainar até o campo de batalha.
Os projetistas descobriram que a tensão da decolagem em alta velocidade destruía rapidamente os pneus do tanque e instalaram um par de esquis.
Como as asas e as caudas, os esquis podiam ser rapidamente desmontados depois da aterrissagem, para que o tanque pequeno de 2,9 toneladas pudesse entrar em ação.
Mas, dois anos depois, o projeto foi cancelado porque o Japão se viu lutando uma guerra defensiva.
O crescimento da superioridade aérea dos Estados Unidos fez com que ficasse muito perigoso lançar essas armas com aeronaves lentas e vulneráveis. O projeto nunca saiu do estágio de protótipo e o tanque propriamente dito nunca voou.
Os projetos britânicos
O Reino Unido também fez algumas tentativas de criar um tanque voador durante a guerra, com um projeto mais simples, mas igualmente extravagante - que chegou a voar.
O Baynes Bat ("Morcego de Baynes", em homenagem ao seu projetista, L. E. Baynes) foi um conceito de planador criado para explorar um projeto maior que pudesse ser usado com um tanque. Mas, ao contrário, do A-40, ele tinha apenas um conjunto de asas e não dois.
Versão em escala reduzida do 'Morcego de Baynes'. Ele chegou a voar, mas o projeto foi cancelado antes que um protótipo em tamanho real pudesse decolar (Imagem: Domínio Público)
Se o Baynes Bat tivesse entrado em linha de produção, ele teria uma envergadura muito grande, de mais de 30 metros.
A asa também era projetada para trás - um salto aerodinâmico raramente observado durante a Segunda Guerra Mundial, que se tornaria uma característica comum nos jatos supersônicos de combate introduzidos uma década depois.
O Baynes Bat não tinha cauda e, no seu lugar, havia um estabilizador vertical, parecido com barbatanas de cauda, montado na ponta de cada asa. Na verdade, o protótipo de Baynes não incluía um tanque - o piloto se sentava em uma fuselagem minúscula, minimizada pela asa gigante.
Seu piloto, Robert Kronfeld, observaria posteriormente: "Apesar do seu projeto não ortodoxo, a aeronave é pilotada de forma similar a outros planadores leves, com controles muito leves e ágeis e manejo seguro pelos pilotos de serviço em todos os comportamentos normais de voo".
Mas, poucos anos depois, Eric "Winkle" Brown, o piloto de testes britânico que voou com mais aeronaves na história, ficou menos impressionado. Ele disse que o controle era ruim e que sua "sensibilidade específica para frente e para trás, aliada à visão indiferente da cabine de comando, torna o planador uma proposta delicada para aterrissagem em espaços confinados. A ideia de um tanque médio preso a ele faz a mente ficar confusa. Parecia uma boa ideia na época, mas..."
Nunca foi construída uma versão do Baynes Bat em tamanho real. Para Winchester, "o Bat foi uma forma de levar algo para o campo de batalha, mas o problema foi que, na verdade, esse 'algo' nunca existiu".
O Reino Unido descartou a ideia de um tanque voador. No seu lugar, foi construído um planador suficientemente grande para carregar um tanque - o Hamilcar.
A ordem de produzir um planador grande o suficiente para carregar um tanque havia vindo do próprio primeiro-ministro britânico Winston Churchill em 1940. O incômodo planador Hamilcar tinha tamanho suficiente para carregar um tanque Tetrarch, com capacidade para dois homens, que poderia ser dirigido através das portas frontais do planador, abertas depois do pouso.
Ele foi usado nos desembarques do Dia D, mas enfrentou os mesmos problemas do T-60. O Tetrarch tinha o tamanho máximo que poderia ser ocupado no planador sem impedir sua decolagem, mas era terrivelmente mal equipado e desarmado para combater os tanques alemães.
O tanque similar construído pelos americanos, o Locust, também cabia dentro do Hamilcar e enfrentava as mesmas dificuldades.
O fim do projeto
O tanque Tetrarch, projetado pelos britânicos, era suficientemente pequeno para ser transportado por um planador Hamilcar (Foto: Getty Images)
Oitenta anos após seu único voo, Winchester afirma que o A-40 era um conceito interessante, mas acabou se tornando um beco sem saída.
"Havia os esforços envolvidos na construção dessas asas para voos únicos e sua vulnerabilidade - você conseguia vê-los a quilômetros de distância e eles não conseguiriam mover-se com muita rapidez se ficassem em perigo", explica ele.
A invenção dos grandes helicópteros e transportes militares dedicados após o fim da Segunda Guerra Mundial tornou redundante a ideia dos tanques voadores.
Durante a Guerra Fria, os soviéticos criaram diversos veículos que poderiam ser lançados de paraquedas com a tripulação no seu interior. Os veículos eram carregados em paletes com paraquedas e um sistema especial de foguetes era disparado quando o palete se aproximasse do chão.
Os foguetes reduziam significativamente a velocidade de descida, permitindo que os veículos entrassem em batalha imediatamente.
Já os Estados Unidos conseguiram fornecer um pequeno tanque que era ainda mais surpreendente.
O Sheridan M551 seria carregado sobre um palete de metal com paraquedas. O paraquedas abriria ainda no interior da aeronave.
A força da abertura do paraquedas arrasta o palete, que absorveria a maior parte da força da aterrissagem, para fora do avião. Mas a tripulação precisaria descer de paraquedas até o solo separadamente, de outra aeronave.
A dramática aterrissagem do Sheridan pode ser observada neste vídeo.
O conceito do tanque com asas pode ter se espatifado no solo, mas o sonho de ver tanques descendo do ar ainda não morreu.
Fotografia da bomba perdida, que foi recuperada meses depois (Foto: Domínio Público)
No dia 17 de janeiro de 1966, um acidente militar em plena Guerra Fria colocou a vila de Palomares, na Espanha, no centro de uma crise. Durante uma operação militar, quatro bombas nucleares caíram de aviões norte-americanos no solo espanhol, espalhando radiação e preocupações globais.
Apesar da gravidade do ocorrido, não ocorreu uma explosão atômica, o que tornaria as consequências ainda mais devastadoras.
Contexto histórico
Em plena Guerra Fria, Estados Unidos e União Soviética viveram um estado de constante tensão militar. Ambas as potências mantinham armas nucleares em prontidão, preparadas para contra-ataques rápidos.
Nesse cenário, os EUA desenvolveram operações como o Chrome Dome, que consistem em voos contínuos de bombardeiros estratégicos armados com bombas nucleares em diversas regiões do mundo. O objetivo era garantir a capacidade de ataque rápido em caso de guerra, mas a prática não era isenta de riscos.
Operação Chrome Dome
A Operação Chrome Dome foi renovada no início da década de 1960. Os bombardeiros B-52 voavam diariamente em rotas pré-determinadas, muitas vezes sobre a Europa, o Atlântico Norte e o Ártico.
Equipadas com armamento nuclear, essas aeronaves eram reabastecidas em pleno voo pelos aviões-tanque KC-135. O procedimento minimizava a necessidade de pouso e reforçava a prontidão nuclear dos Estados Unidos.
O acidente
Na manhã de 17 de janeiro de 1966, um bombardeiro B-52 colidiu com um KC-135 durante o reabastecimento aéreo sobre a costa sudeste da Espanha. A investigação resultou na destruição de ambas as aeronaves, além da queda de quatro bombas termonucleares próximas à vila de Palomares.
Marinha dos EUA fizeram uma grande operação de resgate para encontrar as bombas (Foto: USNavy)
Duas delas sofreram danos ao atingir o solo, espalhando plutônio na área. Outra foi recuperada no mar após meses de buscas.
Por que não explodiu?
As bombas nucleares que caíram em Palomares não explodiram porque os dispositivos de detonação nuclear não foram acionados. As armas possuíam múltiplos mecanismos de segurança para evitar uma explosão acidental.
No entanto, o impacto causou a dispersão de material radioativo, gerando preocupações de contaminação e uma complexa operação de limpeza localizada pelos EUA.
O avião utilizado
B-52 Stratofortress (Foto: Airman 1st Class William O'Brien)
O B-52 Stratofortress foi o principal bombardeiro estratégico dos Estados Unidos durante a Guerra Fria. Ele tinha capacidade para transportar armas nucleares a longas distâncias.
Sua operação em voos de longa duração, como os do Chrome Dome, destacou a importância da logística de reabastecimento aéreo, mas também expôs os riscos de missões prolongadas.
O pós-incidente
O acidente em Palomares foi comprovado em uma resposta diplomática imediata entre os Estados Unidos e a Espanha. Equipes americanas conduziram operações de descontaminação na área, coletando toneladas de solo contaminado para serem enterradas nos EUA.
Palomares ainda tem áreas cercadas cuja descontaminação não foi concluída (Foto: BBC)
O incidente alimentou debates sobre os perigos das operações nucleares, levando à suspensão do Chrome Dome em 1968. Para os moradores de Palomares, no entanto, as memórias e os impactos da radiação permaneceram até hoje.
O episódio de Palomares é um lembrete sombrio dos riscos associados à corrida nuclear. Apesar de não ter desencadeado uma tragédia global, o acidente deixou marcas profundas na história da Guerra Fria e na vida de quem testemunhou os efeitos diretos dessa disputa geopolítica.
Via Todos a Bordo/UOL, Aventuras na História e BBC Brasil
Caça F/A-18F Super Hornet dispara míssil Sidewinder AIM-9M durante exercício militar (Imagem: Mike Wilcox/Divulgação/Marinha dos EUA)
Um dos maiores riscos para um avião em situações de conflito é ser atingido por um míssil. Embora seja uma situação que costuma ocorrer apenas com aviões militares, aviões civis já foram derrubados por mísseis.
Seria possível que um avião, que voa a milhares de quilômetros por hora, fugisse de um míssil apenas acelerando para longe dele?
Aeronaves espiãs até conseguiam
A partir da década de 1960, os Estados Unidos passaram a desenvolver novos modelos de aviões para espionar outros países. Um deles, o A-12, voava a cerca de 3.560 km/h.
Na década seguinte, o A-12 deu espaço para o SR-71 Blackbird, que atingia velocidade bem próxima, e era difícil de ser detectado por radares inimigos. À época, um míssil disparado a partir do solo dificilmente conseguiria atingir a velocidade desse avião.
Um míssil disparado de outro avião a partir do ar também teria dificuldade em acertar algumas dessas aeronaves. Isso se devia ao fato de que não havia muitos aviões de caça que conseguiam se aproximar dessas aeronaves espiãs devido à sua velocidade.
Um dos mísseis mais avançados da época, o AIM-9 Sidewinder, também não tinha velocidade suficiente para atingir o Blackbird (e nem precisaria, já que ambos foram desenvolvidos pelo governo dos EUA). Ele atinge Mach 2,5, isto é, duas vezes e meia a velocidade do som, que gira em torno de 1.224 km/h no nível do mar.
Avião militar SR-71 Blackbird, que voava a mais de 3.500 km/h, em exposição no Museu Nacional do Ar e Espaço (Imagem: Dane Penland/Smithsonian Institution)
Quando necessário, o Blackbird atingia 3,2 Mach, ou seja, conseguia fugir desse míssil apenas acelerando ao máximo. Também havia a dificuldade em detectar o Blackbird nos radares, já que ele possuía tecnologia que o tornava praticamente invisível aos equipamentos.
Hoje em dia, já existem mísseis hipersônicos, que ultrapassam os 6.000 km/h, tornando praticamente impossível fugir deles. Entretanto, a tecnologia de utilizar aviões espiões caiu em desuso, com imagens sendo feitas via satélite ou drones, que apresentam um custo bem menor de operação e menos riscos.
Avião civil não consegue escapar
Para um avião civil, é tecnicamente nula a chance de fugir acelerando de um míssil. Inicialmente pelo fato de que essas aeronaves não são equipadas com radares para a detecção de possíveis ameaças.
Junto a isso, não possuem velocidade suficiente para desviar ou manobrar para enganar os mísseis. Em janeiro de 2020, um avião ucraniano foi abatido por dois mísseis iranianos.
O governo do Irã assumiu que derrubou o avião com 176 passageiros a bordo por engano. Ele havia decolado minutos antes de Teerã, capital do país.
Alguns aviões comerciais que operam em Israel possuem sistemas de defesa contra mísseis que possam ser lançados a partir do solo em baixas altitudes. Esse sistema, entretanto, é apenas uma tentativa de proteção, não sendo, necessariamente, eficientes contra alguns mísseis mais avançados.
Medidas para despistar
Mais do que acelerar e fugir de um míssil, um avião pode contar com medidas para enganar os sensores dessas ameaças. Uma delas são dispositivos conhecidos como flares, que se assemelham a fogos de artifícios.
Quando uma ameaça é detectada, o piloto pode disparar esses flares, que queimam como bolas de fogo e confundem o sistema dos mísseis inimigos. Eles atrapalham oss sistemas que seguem o calor dos motores dos aviões.
Ao se aproximarem dos flares, os mísseis acreditam que chegaram ao avião, e acabam explodindo longe do seu alvo.
Para mísseis guiados por radar, há outro jeito de enganar seus sistemas, utilizando os chaffs. Eles são constituídos por milhões de pequenas tiras de alumínio ou outros materiais que confundem os sistemas teleguiados.
Quando são lançadas no ar, essas tiras passam a ser identificadas como alvo pelo radar do míssil, enquanto o avião consegue fugir em segurança (ou quase).
Via Alexandre Saconi (Todos a Bordo/UOL) - Fonte: José Eduardo Mautone Barros, professor do curso de Engenharia Aeroespacial da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais)
O Tupolev Tu-16, codinome da OTAN “Badger” (Federação de Cientistas Americanos)
Em 22 de novembro de 1955, a primeira arma termonuclear da União Soviética, RDS-37, foi lançada no ar no local de testes de Semipalatinsk, a aproximadamente 150 quilômetros a oeste da cidade de Semipalatinsk, no Cazaquistão SSR (agora, Cazaquistão).
O bombardeiro, um Tupolev Tu-16A, e sua tripulação estavam sob o comando do Major Piloto de Teste Sênior Fedor Pavlovich Golovashko.
A RDS-37 era uma bomba termonuclear de implosão de radiação de dois estágios, chamada na época de "bomba de hidrogênio". (RDS significa Rossiya delaet sama - significando, na verdade, que "a Rússia faz isso sozinha". Este prefixo de três letras foi aplicado a testes atômicos desde o primeiro, RDS-1, 29 de agosto de 1949.)
Este foi o vigésimo quarto teste de armas nucleares da União Soviética, mas sua primeira bomba termonuclear verdadeira, e foi a primeira "bomba H" lançada no ar do mundo. (O primeiro lançamento aéreo de uma arma termonuclear, Redwing Cherokee, nos Estados Unidos, ocorreu seis meses depois, em 20 de maio de 1956. O teste Grapple I / Short Granite da Grã-Bretanha ocorreu em 15 de maio de 1957.)
O Major Golovashko e sua tripulação haviam feito uma tentativa anterior com o RDS-37. Dois dias antes, 19 de novembro, o carregamento da bomba começou às 6h45. Quatro guinchos foram usados para erguê-la até o compartimento de armas do bombardeiro. O processo demorou cerca de duas horas.
Nesta imagem estática de uma gravação de filme mostra a bomba RDS-37 sendo posicionada sob o bombardeiro Tupolev Tu-16A ("Badger-A")
Neste quadro de uma gravação de filme cinematográfico, a bomba RDS-37 é mostrada sendo posicionada sob o bombardeiro Tupolev Tu-16A para ser carregada no compartimento de bombas.
Às 9h30, o Tu-16 decolou do Aeroporto Zhana Semey (PLX), cerca de 8 quilômetros (5 milhas) ao sul da cidade de Semipaltinsk. Ele começou a subir a uma altitude de 12.000 metros (39.370 pés) enquanto voava em direção ao local de teste. O bombardeiro de Golovashko foi escoltado por pares de caças Mikoyan-Gurevich MiG-17 para evitar o roubo da arma de teste.
Embora a previsão do tempo fosse boa, começou inesperadamente a piorar. O Tu-16 estava acima de uma camada de nuvens com a área de teste obscurecida. Enquanto a equipe se preparava para bombardear por radar, o equipamento de radar falhou e todas as tentativas de repará-lo foram malsucedidas.
Os condutores de teste estavam muito preocupados com o desembarque do Tupolev de volta a Semipalatinsk com uma bomba nuclear totalmente armada ainda a bordo. Houve a consideração de lançar o RDS-37 sobre montanhas remotas, mas não havia certeza de ser capaz de evitar vilas ou cidades, e se a bomba detonasse apenas parcialmente, poderia haver contaminação generalizada por seu combustível radioativo.
Demorou para tomar uma decisão e o combustível do Tupolev estava acabando. Finalmente, foi decidido que o homem-bomba retornaria a Semipaltinsk com a bomba. O pouso ocorreu sem intercorrências e os técnicos removeram o RDS-37 para manutenção antes da próxima tentativa de teste.
A rotação das tripulações dos bombardeiros era normal, mas decidiu-se que a tripulação do major Golovashko fizesse o segundo voo de teste. Em 22 de novembro, o carregamento das armas começou às 4h50, com decolagem às 8h34. Novamente o Tupolev Tu-16A foi escoltado por pares de MiG-17s. Mais uma vez, o bombardeiro chegou ao local de teste a 12.000 metros, voando a 870 quilômetros por hora (541 milhas por hora).
O projetista de armas nucleares soviético Andrei Dmitrievich Sakaharov, cuja “outra ideia” - radiação-implosão - foi usada no projeto do RDS-37, estava em um local de observação a cerca de 70 quilômetros do alvo de teste. Ele observou o Tu-16 voar sobre suas cabeças e o descreveu como "um branco deslumbrante com suas asas inclinadas para trás e a fuselagem delgada estendendo-se muito para frente, parecia um predador sinistro pronto para atacar". Ele também observou que a cor branca é "frequentemente associada à morte".
O "predador sinistro" de Sakharov
Depois de ser libertado do Tupolev do Major Golovashko, o RDS-37 foi retardado por pára-quedas para permitir que o homem-bomba fugisse. Ele detonou a 1.550 metros (5.085 pés) acima do solo. A tripulação descreveu ter visto um flash branco-azulado que durou de 10 a 12 segundos. A onda de choque da detonação, espalhando-se na velocidade do som, atingiu o bombardeiro 3 minutos, 44 segundos após a queda. O Tu-16 experimentou acelerações de 2,5 Gs e foi elevado a uma altitude maior. Não foi danificado.
Após 5 a 7 minutos da detonação, uma nuvem em forma de cogumelo distinta atingiu uma altura de 13 a 14 quilômetros (8 a 8,7 milhas) e seu diâmetro era de 25 a 30 quilômetros (15,5 a 18,6 milhas).
O RDS-37 detonou com um rendimento relatado variando entre 1,6 e 1,9 megatons (dependendo da fonte). A bomba tinha um rendimento projetado de 3 megatons, mas foi intencionalmente reduzido para este teste.
A bomba detonou sob uma camada de inversão de temperatura que refletiu uma grande proporção da força explosiva de volta ao solo. Uma pequena cidade a cerca de 75 quilômetros (47 milhas) de distância sofreu uma destruição significativa. Uma criança pequena foi morta quando um prédio desabou. Em outro local, um soldado em uma observação foi morto quando a trincheira desabou com o choque. Quase 50 outras pessoas ficaram feridas. As janelas quebraram a até 200 quilômetros (124 milhas) de distância.
Vários vídeos deste teste estão disponíveis no YouTube.
O 596 ou Projeto 596, (Miss Qiu) é o codinome do primeiro teste nuclear da República Popular da China, detonado em 16 de outubro de 1964, sendo o motivo de festa do exército daquela nação, como também pegou de surpresa os Estados Unidos e a União Soviética.
Era um dispositivo de fissão por implosão de urânio-235 feito de urânio para armas (U-235) enriquecido em uma usina de difusão gasosa em Lanzhou.
A bomba atômica fazia parte do programa "Duas Bombas, Um Satélite" da China. Ela tinha um rendimento de 22 quilotons, comparável à primeira bomba nuclear RDS-1 da União Soviética em 1949 e à bomba americana Fat Man lançada em Nagasaki, Japão em 1945.
Com o teste, a China se tornou a quinta potência nuclear no mundo e a primeira nação asiática a possuir capacidade nuclear. Este foi o primeiro de 45 testes nucleares bem-sucedidos que a China conduziu entre 1964 e 1996, todos ocorridos no local de teste Lop Nur.
Maquete da bomba. Observe a semelhança geral no formato com Fat Man e RDS-1
A China começou a estudar e desenvolver armas nucleares a partir da década de 1950 sendo por causa da crença do presidente da China que sem uma arma nuclear a China não seria levada a sério como potência nuclear por outras e também estaria a mercê de chantagem nuclear por parte de outras nações principalmente pelos Estados Unidos.
A União Soviética estava ajudando a China lhes dando geradores de processamento de urânio, cíclotrons até que as suas relações foram rompidas nas décadas de 50-60 porém a China continuou o seu programa e se esforçou ainda mais com o teste francês Gerboise Bleue de 60 quilotons.
A China usou urânio pois era mais fácil enriquecê-lo do que produzir plutônio. O plutônio possui rendimento menor porém sem uma fonte de nêutrons originária da fissão é impossível produzi-lo. Três anos depois a China detonou a sua primeira bomba termonuclear.
Especificações
Horário: 07h00 GMT de 16 de outubro de 1964
Local do ttste: Lop Nur, 40° 48′ 45″ N, 89° 47′ 24″ L, cerca de 70 km a noroeste do lago seco Lop Nor
Bomba atômica projetada pelo físico norte-americano Oppenheimer foi utilizada pela primeira vez como arma de guerra no Japão, selando o fim da Segunda Guerra Mundial.
Químico e físico teórico J. Robert Oppenheimer é considerado o "pai da bomba atômica"
Projetada pelo físico norte-americano J Robert Oppenhemer, a bomba atômica de Hiroshima explodiu há 77 anos, em 6 de agosto de 1945, no Japão. “Um dia ensolarado virou um inferno”, disse o historiador Mario Marcello Neto, doutor em história pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e autor da tese O brilho de mil sóis: história, memória e esquecimento sobre a bomba atômica nos Estados Unidos e no Japão, em entrevista à National Geographic.
Naquela manhã de verão, sirenes soavam alertando para ataques aéreos na cidade de Hiroshima, no Japão, enquanto caças B-29 norte-americanos cortavam o espaço aéreo do país. Até então, Hiroshima já tinha sofrido mais de 30 ataques durante a Segunda Guerra Mundial. No entanto, ninguém no país estava preparado para o que viria a seguir.
Antiga fotografia do avião B-29 Superfortress, batizado como Enola Gay (Foto: Divulgação/Departamento de Defesa dos Estados Unidos)
Às 8h15, com “o brilho de mil sóis”, uma bomba atômica foi detonada pela primeira vez em ato de guerra, causando um estrago nunca antes visto. “O projétil explodiu no ar, a aproximadamente 600 metros do solo”, pontua Marcello Netto. “Era carregado pelo Enola Gay, um bombardeiro B-29 pilotado pelo coronel Paul Tibbets, que sobrevoava Hiroshima a cerca de 9,5 km de altura quando soltou a bomba."
A tripulação do Enola Gay
O acontecimento foi um dos momentos mais marcantes da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que dividiu as nações do mundo em dois grandes grupos. “Havia os Aliados, cujos principais membros eram os Estados Unidos, Inglaterra, França e, posteriormente, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Do outro lado estava o chamado Eixo, composto pela Alemanha de Hitler, a Itália de Mussolini e o Japão”, explica o historiador.
1. O que levou ao bombardeio de Hiroshima?
Quando as bombas tocaram o solo japonês, o país se encontrava em uma grave crise por causa do conflito. “Estava sem o apoio de seus dois principais aliados, sem dinheiro e enfrentando sozinho a potência que mais cresceu durante a guerra: os Estados Unidos”, diz Marcello Neto.
Naquela altura, as cidades japonesas sofriam com uma intensa onda de fome, enquanto ainda recebiam bombardeios esporádicos, mas recorrentes. “Para contra-atacar, o Japão começou a adotar medidas drásticas de combate, como o uso de pilotos kamikazes, que faziam missões suicidas e jogavam os aviões em seus alvos como forma de ataque”, explica Marcello Neto. Mesmo assim, o país do Eixo estava longe de se render.
Emblemática fotografia tirada após a explosão da bomba atômica Little Boy em Hiroshima, no Japão (Foto: Domínio Público via Wikimedia Commons)
Dentro do "fascismo japonês", havia estudos que reforçavam a superioridade do Japão em relação às nações ocidentais, e seguiam motivando sua permanência no conflito. No livro Inferno: O mundo em guerra 1939-1945, o historiador britânico Max Hastings afirma que os japoneses acreditavam que a defesa vigorosa de suas ilhas ainda poderia evitar uma rendição em uma derrota absoluta.
“Essa crença seguia existindo mesmo depois do desembarque dos norte-americanos na ilha de Okinawa, em 1944, e das bombas incendiárias lançadas em Tóquio, no início de março de 1945, que mataram mais de 100 mil pessoas em menos de seis horas”, diz Marcello Neto.
2. Como se decidiu lanças a bomba atômica no Japão
A ideia inicial do então presidente dos Estados Unidos, Franklin D. Roosevelt, era usar a arma atômica como um artefato de barganha em uma negociação diplomática entre os dois países. Entretanto, depois da morte de Roosevelt, em abril de 1945, assumiu o vice-presidente Henry Truman, que tinha uma visão diferente em relação ao uso da arma.
Em seu livro, Hastings escreve que a bomba nuclear passou a ser vista como uma alternativa aos prejuízos que ocorreriam em invasões terrestres ao Japão. “Estava claro para os Aliados que a derrota do Japão era inevitável, por razões tanto militares quanto econômicas, e que, portanto, o uso de armas atômicas seria desnecessário", diz o livro. "Mas, a perspectiva de ser obrigado a manter a luta contra bolsões de resistência fanática em toda a Ásia durante meses, talvez anos, era assustadora."
Foi por isso que, em 16 de julho daquele mesmo ano, a cidade de Alamogordo, no Novo México, tornou-se palco do primeiro teste com a bomba atômica criada por cientistas norte-americanos. Entre eles, Robert Oppenheimer, um dos principais envolvidos em seu desenvolvimento.
Explosão da primeira bomba atômica, nomeada de Teste Trinity, no deserto Jornada Del Muerto, no Novo México, em 16 de julho de 1945 (Foto: Universal History Archive/Getty Images)
O teste ocorreu no meio do deserto e ganhou o nome de Experiência Trinity. “A potência da explosão foi avaliada em aproximadamente 20 mil toneladas de TNT e coroou o esforço científico e industrial que havia absorvido dois bilhões de dólares, em cerca de cinco anos”, relata Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, doutor pela Universidade Sorbonne, de Paris, e membro titular do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em seu artigo "Hiroshima e Nagazaki: Razões Para Experimentar a Nova Arma".
No mesmo dia, explica Marcello Neto, Truman se reunia com os principais chefes de governo dos países aliados na chamada Conferência de Potsdam, quando foi informado do sucesso do experimento. “Durante a conferência, a URSS manifestou seu interesse em invadir o Japão por terra a fim de pressionar o país por uma rendição”, diz. Nessa ocasião, os Estados Unidos revelou a existência de sua arma atômica e a possibilidade de uso, contextualiza o historiador.
Em seguida, o Japão recebe um ultimato, segundo conta Hastings em seu livro. “A Declaração de Potsdam dos Aliados Ocidentais, divulgada em 26 de julho, ameaçava o Japão com ‘pronta e total destruição’ se ele não se rendesse de imediato.” A proposta, no entanto, foi negada.
Um teste de bomba atômica subaquática no Atol de Bikini em 1946 (Foto: Marinha dos EUA)
Para Hastings, um dos motivos da rejeição foi que, para os japoneses, a declaração apenas “prenunciava mais do mesmo: ataques com bombas incendiárias e, cedo ou tarde, uma invasão”, enquanto que “para os líderes dos Aliados, que sabiam que a primeira bomba atômica acabara de ser testada com êxito a frase era cheia de significado.”
Como resposta para a negativa, o ataque à bomba se tornou prioridade. “Isto fez com que os Estados Unidos imediatamente iniciassem o processo de análise de cidades e locais onde a bomba atômica deveria ser lançada”, relata o artigo científico de Neto.
3. Por que Hiroshima virou alvo da bomba atômica?
Hiroshima não foi a única cidade escolhida para ser alvo. “Os Estados Unidos tinham alguns critérios bastante específicos. O primeiro é que nenhum dos locais a serem bombardeados poderia ser invadido por terra pelos soviéticos, até o mês de setembro”, diz Marcello Neto.
O segundo critério era que as cidades tinham que ser bastante amplas, ou seja, deveriam ter um diâmetro grande para se ver a dimensão que a radiação poderia chegar. Por fim, também pesou na escolha o fato de as cidades escolhidas carregarem uma importância significativa para o Japão, tanto do ponto de vista estratégico militar quanto do cultural, de modo que o ataque influenciasse a rendição do país.
A tese de Marcello Neto afirma que a lista de cidades-alvo japonesas tinha, inicialmente, cinco nomes:
Kokura: escolhida “por se tratar do local onde quase toda a munição japonesa era fabricada”;
Yokohama: “cidade onde se produzia boa parte dos derivados de aço japoneses, suas aeronaves e, principalmente, onde estavam as refinarias de petróleo do país”;
Niigata: “cidade portuária e produtora de aço e petróleo refinado, e local de diversas indústrias”;
Kyoto: “um dos maiores centros comerciais japoneses e uma das cidades mais populosas”;
Hiroshima: cidade portuária “com importantes instalações militares”.
Para Richard Rhodes, historiador norte-americano e ganhador do Prêmio Pulitzer pelo livro "The Making of the Atomic Bomb" (A Criação da Bomba Atômica, em tradução livre), cujo trabalho guiou o artigo de Neto, Kyoto foi desconsiderada por se tratar de uma cidade histórica, tendo sido por séculos a capital japonesa. Se uma bomba caísse sobre Kyoto, provavelmente a elite japonesa jamais teria aceitado a derrota. “Veriam a ação como uma desfeita, e o efeito buscado pelo uso da bomba, que era a rendição, seria perdido”, diz Marcello Neto.
Nagasaki foi incluída na lista para substituir Kyoto. Tratava-se de uma cidade portuária e fabril, cercada por montanhas que permitiriam maior concentração da radiação e melhor avaliação de seus estragos por parte dos Estados Unidos.
Ordem de ataque para o bombardeio de Hiroshima publicada em 5 de agosto de 1945
Com os alvos aprovados, as tropas norte-americanas estavam prontas para a missão de bombardeio a qualquer momento.
Segundo Marcello Neto, neste momento entra em jogo o fator de decisão mais importante para a escolha de Hiroshima como alvo: o clima. Era preciso um dia de tempo aberto. “Se houvesse vento, a radiação se espalharia além do esperado. Se chovesse, a radiação também seguiria outro fluxo e poderia atrapalhar o lançamento da bomba", explica o historiador. "O tempo aberto também era importante para a coleta de dados, como fotos da explosão, importantes para o fim científico que a missão tinha."
Em 6 de agosto de 1945, a cidade de Hiroshima era a única, entre todas as outras consideradas para o bombardeio, que apresentava um cenário meteorológico adequado.
4. O que aconteceu com Hiroshima depois da bomba?
Hiroshima devastada pela bomba (Foto: Getty Images)
De acordo com o livro A Segunda Guerra Mundial, do escritor e historiador britânico Antony Beevor, milhares de pessoas morreram em Hiroshima com a explosão da bomba, chegando a 200 mil nos dias seguintes, devido às consequências da radiação. “Cerca de 100 mil pessoas morreram instantaneamente, e milhares de outras perderam a vida mais tarde, de queimaduras, choque ou envenenadas pela radiação”, escreve Beevor.
“As pessoas ainda estavam tentando entender o que havia acontecido. Sabiam que não tinha sido um bombardeio normal, mas não tinham noção da radiação e do real estrago”, diz Marcello Neto sobre o que se seguiu após a explosão. “Nem as autoridades japonesas estavam inteiradas, tanto que as ordens para Hiroshima eram para a cidade se reerguer e se preparar para novos ataques.”
Enquanto isso, os jornais dos Estados Unidos enalteciam a missão. O The New York Times, por exemplo, trouxe o anúncio da Casa Branca e do Departamento de Guerra dos Estados Unidos, no dia 6 de agosto, informando que uma bomba atômica, com poder de milhares de toneladas de TNT, tinha sido lançada no Japão.
Em 9 de agosto, uma segunda arma nuclear foi lançada contra o Japão, dessa vez na cidade de Nagasaki.
A ação teve também uma importância política, além de ser um ato de guerra: “Isso porque, no intervalo de lançamento entre uma bomba e outra, a URSS tinha invadido o Japão por terra, o que ligou o alerta para os americanos”, explica Marcello Neto. “Havia um medo de que os soviéticos conseguissem uma rendição japonesa efetiva antes e que isso fizesse com que o país virasse uma nação comunista."
Bombardeios de Hiroshima e Nagasaki e o fim da guerra
A bomba atômica de Hiroshima – que ficou conhecida como Little Boy – e a de Nagasaki – chamada de Fat Man – marcaram o verdadeiro encerramento do maior conflito do século 20, defende Mario Marcello Neto.
Isso porque, após a assinatura da rendição da Alemanha, a principal força do Eixo, e o fim da guerra no continente europeu, em 8 de maio de 1945, o conflito continuou na Ásia. “Nesse momento, o Japão havia feito um expansionismo extremo nas regiões chinesas e ainda travava conflitos constantes com a marinha norte-americana e as tropas inglesas-indianas na Birmânia (Mianmar)”, conta Marcello Neto.
Um dia após o bombardeio de Nagasaki, o Japão finalmente aceita negociar sua rendição. “Os japoneses perceberam três coisas: essas bombas não foram acontecimentos únicos e os Estados Unidos poderiam usá-las quantas vezes quisessem", diz Marcello Neto. "Entenderam também que Tóquio estava em perigo real de destruição total; e, por fim, viram que não havia mais formas de ganhar a guerra."
O anúncio da derrota para o povo japonês foi feito no dia 15 de agosto pelo imperador Hirohito. “Ao meio-dia, as estações de rádio japonesas transmitiram a mensagem gravada do imperador, conclamando as suas forças a se render porque a situação bélica havia evoluído 'não necessariamente em vantagem do Japão'. Oficiais e soldados ouviram aquilo com lágrimas na face", escreveu Antony Beevor. Em 2 de setembro de 1945, o último país do Eixo assinou sua rendição formal, marcando o fim definitivo da Segunda Guerra.
O então ministro do Exterior japonês Mamoru Shigemitsu assina a rendição japonesa a bordo do navio americano USS Missouri (Foto: Getty Images)
Depois disso, tropas americanas ocuparam o Japão até 1952. “É um exemplo de como as nações ganhadoras impõem o que acontece com as que perdem. Até hoje, o Japão traz alguns traços dessa ocupação, como a Constituição japonesa, escrita em 1947 principalmente por funcionários civis norte-americanos trabalhando a favor da presença Aliada e ainda em vigência”, relata Marcello Neto. “O sistema educacional do Japão e a proibição de o país formar um exército militar também são heranças disso.”
Dia de Hiroshima: como está a cidade
O sol se põe sobre uma vista de Hiroshima (Foto: Hiroki Kobayashi)
Mais de 70 anos depois do bombardeio, Hiroshima não mede esforços para que o evento que dizimou a cidade seja lembrado, segundo o governo da cidade. Quase diretamente abaixo do hipocentro da explosão da bomba atômica existe hoje uma estrutura conhecida como Cúpula da Bomba Atômica de Hiroshima. É a primeira coisa que se vê ao visitar o Parque Memorial da Paz, dedicado à tragédia.
À esquerda: Uma estátua queimada de Buda testemunha silenciosamente o calor escaldante da bomba atômica. À direita: Uma estátua de Buda foi derretida quando a bomba atômica foi lançada em Hiroshima na Segunda Guerra Mundial (Fotos: Hiroki Kobayashi)
Segundo a Unesco, o símbolo não é apenas um lembrete poderoso da força mais destrutiva já criada pela humanidade, mas “também expressa a esperança de paz mundial e a eliminação definitiva de todas as armas nucleares”. O local, preservado no mesmo estado que ficou imediatamente após o bombardeio, foi adicionado à Lista de Patrimônios Mundiais da Unesco em 1996.
Cemitério na encosta abriga as vítimas do ataque da bomba atômica de Hiroshima (Foto: Hiroki Kobayashi)
Via National Geographic, BBC e Aventuras na História
Esta teoria da conspiração diz que Hitler tinha um OVNI anti-gravidade secreto - e os EUA o roubaram
Acompanhe este mergulho profundo na lenda selvagem de “Die Glocke”.
Os cientistas nazistas, ansiosos para inventar uma arma que pudesse repelir o avanço dos exércitos Aliados, criaram um OVNI que viaja no tempo para vencer a Segunda Guerra Mundial? Quase certamente não. No entanto, a lenda de “Die Glocke” (“O Sino”) persiste em círculos de conspiração e OVNIs.
Um novo vídeo do historiador militar Mark Felton, incluído abaixo, explora o dispositivo em forma de sino que a organização paramilitar Schutzstaffel (SS) de Adolf Hitler supostamente desenvolveu. No entanto, escritores de ficção científica e embusteiros podem ter realmente inventado a máquina, usando a reputação do pós-guerra de cientistas nazistas de serem capazes de quase qualquer façanha tecnológica.
Mesmo que os nazistas tenham perdido a Segunda Guerra Mundial , eles emergiram da guerra com uma reputação quase mítica de armas de alta tecnologia. Os tanques nazistas costumavam ser tecnicamente superiores aos tanques aliados; a Luftwaffe voou em jatos de combate antes dos Aliados; e a série V (for Vengeance) de armas terroristas, incluindo o míssil de cruzeiro V-1 e o míssil balístico V-2, feito para armas aterrorizantes, embora estrategicamente questionáveis.
Os adversários consideraram as conquistas dos cientistas e engenheiros nazistas tão avançadas, de fato, que o Exército dos EUA enviou equipes de reconhecimento à Alemanha nos estágios finais da guerra para proteger cientistas e tecnologia militar antes que outras potências, particularmente a União Soviética, pudessem capturar eles. O esforço, conhecido como Projeto Paperclip, garantiu mísseis V-2 e figuras importantes como Wernher von Braun, o infame engenheiro aeroespacial Wernher von Braun que inventou o V-2 e mais tarde projetou o foguete Saturn V para o programa Apollo da NASA .
De acordo com a lenda, Die Glocke foi supostamente uma dessas “wunderwaffe” (“arma milagrosa” alemã).
Rumores sobre o dispositivo apareceram pela primeira vez como ficção científica nazista no livro Morning of the Magicians, de 1960. Die Glocke também apareceu no livro de 2000 de Igor Witkowski "Prawda o Wunderwaffe" ("The Truth About the Wonder Weapon") —e logo depois, Nick Cook's "The Hunt for Zero Point" —como um “Engenhoca brilhante e giratória” que possivelmente tinha “algum tipo de efeito antigravitacional”, ou mesmo era uma “máquina do tempo” que fazia parte de um “programa de antigravidade SS” para o disco voador “Repulsine”.
Cook chegou a cogitar a possibilidade de que o notório coronel da SS Hans Kammler negociasse o Die Glocke com os militares americanos em troca de sua liberdade. (Kammler desapareceu nos últimos dias da Segunda Guerra Mundial e nunca mais foi visto.) Enquanto os Aliados mandaram de volta para casa um tesouro de super-armas alemãs durante o Projeto Paperclip, incluindo jatos e mísseis, não há registro de qualquer versão de Die Glocke sendo capturada .
Na foto ao lado, um modelo que descreve o suposto objeto acidentado no "Incidente de Kecksburg" (Foto via Navy2004).
Ainda assim, alguns teóricos da conspiração de OVNIs acreditam que as forças dos EUA capturaram cientistas nazistas - e até o próprio Kammler - e os colocaram para trabalhar no desenvolvimento da tecnologia antigravidade de Die Glocke.
Segundo a lenda, isso culminou no chamado Incidente de Kecksburg , quando um OVNI em forma de sino supostamente caiu fora de Kecksburg, Pensilvânia, em dezembro de 1965.
Alguma coisa disso confere? É extremamente improvável. Para começar, há uma lacuna óbvia na teoria: se os EUA realmente tinham acesso à tecnologia antigravidade, então onde estão os aviões antigravitacionais?
Além disso, muitos dos oficiais SS supostamente envolvidos no “programa secreto de OVNIs” não estavam em posição de realmente executá-lo, e a NASA atribui o Incidente de Kecksburg à reentrada de uma sonda Vênus soviética fracassada, Cosmos 96.
Novo míssil poderá ser o primeiro armamento hipersônico do F-35 (Imagem: Lockheed Martin via Naval News)
A Lockheed Martin e a CoAspire apresentaram uma nova arma hipersônica nesta semana durante a feira Sea Air Space 2024. Trata-se do Mako, um novo míssil capaz de atingir cinco vezes a velocidade do som e que já foi testado no caça stealth F-35 Lightning II.
Rick Loy, gerente sênior de programa na divisão de mísseis da Lockheed, falou ao portal Naval News que essa é a primeira vez que a empresa apresenta o míssil publicamente, desde que iniciou seu desenvolvimento há sete anos. O nome do armamento é inspirado no tubarão mako, considerada a espécie mais rápida do animal.
“Para a Marinha dos Estados Unidos, este é um sistema multimissão, altamente capaz, com alta capacidade de sobrevivência e acessível, então você manterá muitos alvos em risco com um sistema de armas que está pronto agora”, afirmou o funcionário da Lockheed.
Durante a exposição, a Lockheed apresentou imagens geradas por computador de um caça F-35A – versão de pouso convencional do jato stealth – carregando seis mísseis Mako, sendo quatro debaixo das asas e mais dois nas baias internas. Se sair do papel, o Mako será o primeiro míssil hipersônico a equipar o principal avião furtivo dos Estados Unidos.
Loy disse que a Lockheed já fez testes de encaixe de modelos do míssil hipersônico com o F-35, afirmando que os ensaios foram realizados eletronicamente e fisicamente no jato stealth. Além do F-35, o Mako poderá ser “compatível com qualquer aeronave que tenha alças de 30 polegadas”, como o cabide pesado BRU-32, como os caças F-22 Raptor, F/A-18 Super Hornet e F-16 Fighting Falcon, o bombardeiro B-52 Stratofortress e o jato de patrulha P-8 Poseidon.
O armamento ainda está em desenvolvimento e, até o momento, não há qualquer contrato das Forças Armadas dos EUA para compra dos mísseis hipersônicos Mako. Loy também deu poucos detalhes sobre o armamento, limitando-se a dizer que terá velocidade de pelo menos Mach 5 e que será guiado por “múltiplos métodos de orientação” e “pacotes eletrônicos.”