quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Aeronáutica se recusará a mexer em relatório que recomenda a compra de caças suecos

O comando da Aeronáutica não aceitará modificar a conclusão do relatório da concorrência do programa FX-2 para excluir a classificação que colocou em primeiro lugar o caça sueco gripen ng, da saab . O ministro da Defesa, Nelson Jobim, prefere a proposta do governo da frança e tenta negociar com a FAB um texto que não seja tão taxativo. Apesar de insistir em manter o resultado de sua avaliação técnica, a Aeronáutica está disposta a acatar a opção política do governo, que pode levar à compra do francês Rafale.

Mas a FAB não quer transformar seu relatório em peça apenas consultiva. Avalia que a decisão sempre foi do presidente. Os três países concorrentes sabem disso e fizeram seus lobbies. O relatório da FAB foi concluído em outubro e não foi oficialmente entregue à Defesa.

Para analisar as propostas dos três consórcios que disputam o negócio - além dos franceses e dos suecos, os Estados Unidos também participam da concorrência -, a FAB avaliou seis quesitos. Deu maior importância para as propostas de logística, técnica e de custo operacional, cada uma com 20% de peso na avaliação final.

A Aeronáutica pressiona o governo usando argumentos financeiros, porque os caças voarão por 30 anos a partir de 2014, atravessando sete mandatos presidenciais. Entre os concorrentes, o preço mais alto seria o do Rafale. A França prometeu uma melhora significativa no preço. Ainda assim, o Rafale ficou em último lugar, atrás do F/A-18 da Boeing.

Os demais quesitos avaliados pela FAB foram a transferência de tecnologia e risco (15%), as contrapartidas comerciais (15%) e o gerenciamento do programa (10%). O governo solicitou o cancelamento desses diferentes pesos, cruciais para a pontuação final, o que abriria margem interpretativa sobre quem foi o vencedor.

Amorim: "Não é decisão exclusivamente militar"

Em Genebra, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que será política a decisão final sobre a compra dos 36 caças . Segundo o ministro, a definição será dada pelo presidente Lula e por Jobim.

- Vamos levar em conta as questões técnicas, mas a decisão final cabe ao ministro da Defesa e ao presidente da República. Não é uma decisão exclusivamente militar. É uma decisão política - afirmou o chanceler, em entrevista ao lado do ministro de Negócios da Palestina, Riad Al-Maki.

A Saab e a Dassault declararam que aguardam a notificação da FAB e a decisão final do governo. A Boeing, em nota, destacou que sua proposta não apresenta riscos em seu cronograma de entrega e na cotação de preços - uma crítica indireta, também já lançada pelos franceses, de que o Gripen NG é um protótipo e pode sofrer atrasos na entrega e acréscimos de preço.

O governo só pretende retomar o assunto a partir da próxima segunda-feira. O Congresso já começa se mobilizar.

- Não tenho dúvida de que a oposição vai explorar essa suposta contradição entre o parecer técnico e a escolha política. Mas o fato é que os três caças são adequados para o país, e a França garante a transferência de tecnologia, ponto fundamental para o Estado - disse o petista João Pedro (AM), da comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado.

Para o presidente da comissão, Eduardo Azeredo (PSDB-MG), Lula precisa decidir logo.

- O posicionamento da FAB deve ter o maior peso. O governo já fez o estrago com sua precipitação política. O que não se pode mais é postergar a decisão. A compra precisa ser feita.

Fonte: Leila Suwwan (O Globo)

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