No âmbito do Ministério da Defesa está em curso um ambicioso plano de modernização e ampliação da capacidade de ação das Forças Armadas. Além da construção do submarino nuclear e da aquisição de aviões de caça de combate, a compra de veículos aéreos não-tripulados (Vants) ocupa lugar de destaque nessa iniciativa.
Os aviões militares não-tripulados, desenvolvidos pelos EUA como arma de ataque, foram utilizados pela primeira vez na Guerra do Iraque. Seu antepassado mais próximo foi o U-2, tripulado, que durante a guerra fria teve papel de inteligência.
A campanha militar dos EUA contra o Iraque em 2003 foi a primeira guerra da era da informação. A tecnologia para o comando e controle das operações longe do campo de batalha ensejou o aparecimento de armamentos que possibilitaram a tomada de decisões a distância, maior controle sobre as operações bélicas e a redução dos combates armados diretos.
Os programas de defesa para pesquisa e desenvolvimento de veículos não-tripulados, não só aéreos, mas também terrestres, avançaram significativamente nos últimos 15 a 20 anos, tanto no âmbito militar quanto no civil. Na aviação civil os pilotos estão sendo substituídos por computadores. O Airbus e o Boeing 777 podem voar entre São Paulo e Nova York sem interferência humana.
Esses veículos não-tripulados de combate aéreo são a primeira evidência concreta das futuras guerras eletrônicas e robotizadas. Alguns analistas militares norte-americanos pensam que os contratos para a construção da próxima geração de caças de combate serão talvez os últimos para equipamentos tripulados de ataque. A eventual compra de caças pelo Brasil também deverá ser a última no gênero.
Se o programa de construção de veículos não-tripulados, aéreos e terrestres, for bem-sucedido, poderemos pensar em guerras sem soldados, com lançamento de mísseis de submarinos automatizados e divisões de veículos terrestres não-tripulados atacando velozmente o território inimigo. Os veículos de defesa não-tripulados trarão consequências táticas, éticas e políticas, que se tornarão mais evidentes à medida que a tecnologia se desenvolver. Em termos de estratégia militar, trata-se de uma revolução no conceito tradicional de guerra.
As perspectivas que tais avanços tecnológicos oferecem aos militares e às lideranças civis são ilimitadas, ao maximizar os resultados estratégicos, minimizar a exposição de vidas humanas, aumentar o poder militar e reduzir os custos de construção e de manutenção.
Como seria de esperar, a introdução dos Vants enfrenta resistência em várias frentes nos EUA. A eventual marginalização dos pilotos está encontrando oposição de parte da Força Aérea. Estrategistas do Ministério da Defesa defendem a ideia de que sempre haverá necessidade das forças terrestres para ocupação do território. As empresas da indústria de defesa, por temerem que seus contratos sejam seriamente afetados, também se opõem. É a inovação chocando-se com a cultura institucional.
Segundo os especialistas, esses progressos tecnológicos levarão de 15 a 20 anos para entrar em operação plena. Enquanto isso, o que fazer no curto prazo com os equipamentos existentes e como, tática e estrategicamente, melhor aproveitá-los?
A ampliação do uso militar dos Vants pelos EUA no Afeganistão e no Paquistão na tentativa de capturar Osama bin Laden e combater o Taleban e as tribos que lhe dão suporte aumentou a eficiência no combate ao terrorismo, mas gerou o chamado efeito colateral, com o crescimento do número de vítimas civis e alto custo perante a opinião pública. A utilização por Israel desses veículos no combate aos palestinos resultou na eliminação dos principais líderes do Hamas, com forte desgaste, ante a morte de mulheres e crianças.
Em termos de avanços tecnológicos de veículos não-tripulados, Israel está tão desenvolvido quanto os EUA, como se viu recentemente na apresentação de um Vant com as dimensões de um avião de transporte, ampliando as facilidades e vantagens estratégicas sobre os aparelhos de tamanho reduzido.
A primeira utilização para fins humanitários do modelo mais avançado dos Vatns dos EUA, o Predador, ocorreu recentemente no Haiti, depois do terremoto que destruiu grande parte do país.
No Brasil, a ideia é utilizar esses Vants para patrulhar os 12 mil km da fronteira da Amazônia e monitorar as zonas marítimas do pré-sal, que se estendem de Santa Catarina ao Espírito Santo. O equipamento poderá fornecer informações sobre movimentos suspeitos de crimes transfronteiriços e eventuais ações suspeitas próximas às plataformas de exploração de petróleo. Sem dúvida, a capacidade de defesa do Brasil ganhará enorme avanço estratégico.
O plano de modernização da estrutura burocrática e operacional das Forças Armadas para responder aos novos desafios estratégicos que o Brasil terá de enfrentar nos próximos anos deveria receber o apoio político e orçamentário de que necessita. A Estratégia Nacional de Defesa e a legislação sobre o plano de modernização fundamentam tais mudanças. Por sua importância para os interesses permanente do País, ambos deveriam ser vistos como projetos de Estado, e não apenas de uma administração prestes a se encerrar.
Levando em conta a extensão do território nacional e nossa crescente projeção externa, o emprego de submarino nuclear, a aquisição de caças de combate, a utilização dos Vants e, não menos importante, a aplicação da tecnologia de informação na área militar exigirão, no médio prazo, a redefinição dos delineamentos estratégicos das Forças Armadas em bases mais amplas e ambiciosas.
Para as novas gerações de oficiais superiores é esse o grande desafio.
Por Rubens Barbosa (Consultor de Negócios, é Presidente do Conselho de Comércio Exterior da FIESP) via O Estado de S.Paulo
Os aviões militares não-tripulados, desenvolvidos pelos EUA como arma de ataque, foram utilizados pela primeira vez na Guerra do Iraque. Seu antepassado mais próximo foi o U-2, tripulado, que durante a guerra fria teve papel de inteligência.
A campanha militar dos EUA contra o Iraque em 2003 foi a primeira guerra da era da informação. A tecnologia para o comando e controle das operações longe do campo de batalha ensejou o aparecimento de armamentos que possibilitaram a tomada de decisões a distância, maior controle sobre as operações bélicas e a redução dos combates armados diretos.
Os programas de defesa para pesquisa e desenvolvimento de veículos não-tripulados, não só aéreos, mas também terrestres, avançaram significativamente nos últimos 15 a 20 anos, tanto no âmbito militar quanto no civil. Na aviação civil os pilotos estão sendo substituídos por computadores. O Airbus e o Boeing 777 podem voar entre São Paulo e Nova York sem interferência humana.
Esses veículos não-tripulados de combate aéreo são a primeira evidência concreta das futuras guerras eletrônicas e robotizadas. Alguns analistas militares norte-americanos pensam que os contratos para a construção da próxima geração de caças de combate serão talvez os últimos para equipamentos tripulados de ataque. A eventual compra de caças pelo Brasil também deverá ser a última no gênero.
Se o programa de construção de veículos não-tripulados, aéreos e terrestres, for bem-sucedido, poderemos pensar em guerras sem soldados, com lançamento de mísseis de submarinos automatizados e divisões de veículos terrestres não-tripulados atacando velozmente o território inimigo. Os veículos de defesa não-tripulados trarão consequências táticas, éticas e políticas, que se tornarão mais evidentes à medida que a tecnologia se desenvolver. Em termos de estratégia militar, trata-se de uma revolução no conceito tradicional de guerra.
As perspectivas que tais avanços tecnológicos oferecem aos militares e às lideranças civis são ilimitadas, ao maximizar os resultados estratégicos, minimizar a exposição de vidas humanas, aumentar o poder militar e reduzir os custos de construção e de manutenção.
Como seria de esperar, a introdução dos Vants enfrenta resistência em várias frentes nos EUA. A eventual marginalização dos pilotos está encontrando oposição de parte da Força Aérea. Estrategistas do Ministério da Defesa defendem a ideia de que sempre haverá necessidade das forças terrestres para ocupação do território. As empresas da indústria de defesa, por temerem que seus contratos sejam seriamente afetados, também se opõem. É a inovação chocando-se com a cultura institucional.
Segundo os especialistas, esses progressos tecnológicos levarão de 15 a 20 anos para entrar em operação plena. Enquanto isso, o que fazer no curto prazo com os equipamentos existentes e como, tática e estrategicamente, melhor aproveitá-los?
A ampliação do uso militar dos Vants pelos EUA no Afeganistão e no Paquistão na tentativa de capturar Osama bin Laden e combater o Taleban e as tribos que lhe dão suporte aumentou a eficiência no combate ao terrorismo, mas gerou o chamado efeito colateral, com o crescimento do número de vítimas civis e alto custo perante a opinião pública. A utilização por Israel desses veículos no combate aos palestinos resultou na eliminação dos principais líderes do Hamas, com forte desgaste, ante a morte de mulheres e crianças.
Em termos de avanços tecnológicos de veículos não-tripulados, Israel está tão desenvolvido quanto os EUA, como se viu recentemente na apresentação de um Vant com as dimensões de um avião de transporte, ampliando as facilidades e vantagens estratégicas sobre os aparelhos de tamanho reduzido.
A primeira utilização para fins humanitários do modelo mais avançado dos Vatns dos EUA, o Predador, ocorreu recentemente no Haiti, depois do terremoto que destruiu grande parte do país.
No Brasil, a ideia é utilizar esses Vants para patrulhar os 12 mil km da fronteira da Amazônia e monitorar as zonas marítimas do pré-sal, que se estendem de Santa Catarina ao Espírito Santo. O equipamento poderá fornecer informações sobre movimentos suspeitos de crimes transfronteiriços e eventuais ações suspeitas próximas às plataformas de exploração de petróleo. Sem dúvida, a capacidade de defesa do Brasil ganhará enorme avanço estratégico.
O plano de modernização da estrutura burocrática e operacional das Forças Armadas para responder aos novos desafios estratégicos que o Brasil terá de enfrentar nos próximos anos deveria receber o apoio político e orçamentário de que necessita. A Estratégia Nacional de Defesa e a legislação sobre o plano de modernização fundamentam tais mudanças. Por sua importância para os interesses permanente do País, ambos deveriam ser vistos como projetos de Estado, e não apenas de uma administração prestes a se encerrar.
Levando em conta a extensão do território nacional e nossa crescente projeção externa, o emprego de submarino nuclear, a aquisição de caças de combate, a utilização dos Vants e, não menos importante, a aplicação da tecnologia de informação na área militar exigirão, no médio prazo, a redefinição dos delineamentos estratégicos das Forças Armadas em bases mais amplas e ambiciosas.
Para as novas gerações de oficiais superiores é esse o grande desafio.
Por Rubens Barbosa (Consultor de Negócios, é Presidente do Conselho de Comércio Exterior da FIESP) via O Estado de S.Paulo
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