Vasculhava descompromissadamente alguns arquivos antigos quando encontrei alguns textos infelizmente encalhados. Não por culpa minha, mas vitimas de uma sucessão de desencontros e um par de erros. Uma atividade coletiva, de cunho acadêmico e – teoricamente – engajada em recontar uma história moribunda, tendo em vista, a escassez de personagens vivos e aptos a contá-la tal qual se fizera no passado.
De certo, o fato de uma pequena cidade do extremo oeste da Bahia ter sido palco da construção de um Aeroporto de porte internacional – culpa dos americanos e da PAN AM – e ter feito parte indiretamente de uma sucessão de eventos relacionados a II Guerra Mundial.
A partir de hoje, uma série de textos feitos em meio a pesquisas, descobertas e entrevistas com o intuito de desvendar parte dos mistérios envoltos e praticamente restritos às décadas de 1940 e 1950 e abarcar nas pessoas envolvidas no projeto o faro do jornalista investigativo histórico.
Cabe salientar que a série não se propõe a ser o espelho da verdade, uma vez que é impossível remontar fidedignamente os dias em que Barreiras viveu seu apogeu, seja do ponto de vista histórico, social, cultural e/ou econômico, e parte dos textos do projeto acabaram se perdendo em meio as “barreiras” que se sucederam aos olhos dos futuros comunicólogos.
**Avanço das tropas **
Dois dias a menos para o Rio. O artigo da Revista Time data de 02 de setembro de 1940. A obra da Pan American chegava ao fim no Aeroporto de Barreiras e a constatação à época era um alento pela diminuição na escala Miami-Rio, que até então durava cinco longos dias. Barreiras era um inóspito lugar no interior do Brasil, rodeado de verde "amazônico" e que dispunha de privilegiada disposição para o tráfego aéreo. A aviação comercial se tornava realidade para o município, muito embora, as condições para o tráfego de veículos terrestres praticamente inexistiam.
Apesar de vaga, a descrição era um resumo do que se via nestas terras há 68 anos atrás. Sob o prisma estrangeiro. O olhar daqueles que tornaram realidade o aeroporto e indiretamente colocaram Barreiras na rota do progresso. Todavia, a pedra fundamental para a construção do aeroporto se deu três anos antes, em 1937. Percebe-se, que a guerra só seria fato dois anos depois. Getúlio Vargas imprimia no país um regime ditatorial, chamado Estado Novo, e até que se prove o contrário, Geraldo Rocha aumentava seus negócios tanto dentro, quanto fora do país.
Entretanto, as provas cabais da ligação entre os dois nos levam a 1950, cinco anos após o fim do conflito. Getúlio estava em campanha para reeleição. As imagens não mentem, havia uma relação de amizade e reciprocidade política entre eles. Mas desde quando? A essa altura o aeroporto mantinha um fluxo de vôos nacionais e internacionais. Barreiras e Rio entrelaçavam-se as suas maneiras e predisposições. Os interesses já eram outros. E os americanos já estavam longe.
Será que Geraldo teve conhecimento da guerra diplomática pela qual o Brasil passou durante o conflito, e que levaram Vargas a firmar acordo com os EUA? E por mais que ninguém toque no assunto, o que seria do país se Hitler tivesse atacado nossa costa? O governo de Getúlio á época era ditatorial e conduzido por grande número de militares. Estes pendiam para o lado do manda-chuva do exército alemão. Getúlio continuava em cima do muro. Aguardando? Mas o quê? Um ataque do pentágono e a inclusão forçosa de bases aliadas no país?
Seis meses antes da entrada dos EUA na guerra, as bases e rotas aéreas já eram uma realidade dentro do território brasileiro. Isso em 1941. Dentre estas, encontrava-se Barreiras e seu aeroporto. O que antes se resumiu a reuniões, telefonemas, telegramas e muitas conversas diplomáticas, faz parte da história e se configura como um enorme quebra-cabeça.
Aliás, a afirmativa ideal para começar um relato como esse seria: não estamos mais em guerra, a guerra acabou. Apesar da contração negativa explicitada na sentença e das sete décadas que separam este daquele dias. A propósito, e por falar em sentença, a única que me vem a mente nesta manhã ensolarada no Oeste baiano, é a necessidade de correr contra o tempo. O mesmo que se esvai na proporção que o quebra-cabeça se torna mais difícil e atraente. O botão da bomba H, nesse caso, está em conciliar as tarefas que não condizem com os propósitos desta empreitada.
Um amigo e ex-cabo do exército brasileiro não hesita em afirmar que Adolf Hitler foi um grande líder. Arrisco-me em dizer que o austríaco de bigode e cabelo lambido pra direita foi, também, um grande estrategista. Getúlio também foi a depender do raio de visão e das implicações que suas decisões tiveram para o país. E agora, é preciso, mais do que nunca, que a visão estratégica e o poder de aliança dessas duas emblemáticas figuras de nossa história nos sirvam de exemplo.
É chegada a hora de fazer com que nossas tropas avancem. E mais, que todas quatro divisões de infantaria jornalística presentes nesse jogo, não só: joguem o mesmo jogo, mas também, se valiam das mesmas regras. É como roga o velho clichê: pulso forte. A hora das importantes decisões é agora. Hitler e Getúlio tiveram as suas e ajudaram a escrever um dos capítulos mais sangrentos da história da humanidade. Que sejamos sábios nas nossas, afinal, a missão é recontar a história valendo-se de todas as peças possíveis desse sedutor quebra-cabeça. Que as tropas avancem.
Continua (veja os links abaixo)
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Fonte: Blog Impressões Maquiavélicas, de Anton Roos