Os pães, chickens e pastas que os passageiros deixam nas bandejas dos aviões geram toneladas de comida desperdiçada por ano. As perdas com isso são avaliadas em US$ 4 bilhões (R$ 20,82 bilhões) pela Iata (Associação Internacional de Transportes Aéreos), a partir de dados das companhias aéreas.
"Neste ano, o mercado de comida nos voos é estimado em US$ 20 bilhões. As companhias aéreas relatam que 20% de seu lixo é formado por comida e bebidas intocadas ou parcialmente consumidas. Isso significa que efetivamente estamos queimando US$ 4 bilhões de valor em alimentos em estado perfeito", lamenta Jon Godson, diretor-assistente de Sustentabilidade da Iata.
Godson aponta que as empresas aéreas buscam formas de reduzir o desperdício, como dar mais opções de cardápio para os passageiros, mas que questões regulatórias impedem que as sobras, assim como outros tipos de lixo gerados a bordo, tenham destinação melhor.
Por voo, cada passageiro deixa para trás em média 1,43 kg de lixo.
Os governos de muitos países consideram os restos de comida dos aviões como potencial ameaça biológica: alimentos de origem fresca, como carne, leite e frutas, podem levar doenças, vírus e bactérias de um território a outro.
Assim, a empresa aérea pode ser processada se ficar comprovado que ela agiu de modo negligente e colaborou para a transmissão de uma nova moléstia, mesmo que ela atinja apenas animais, como a gripe suína.
Para se proteger de processos, as empresas aéreas muitas vezes enviam o lixo gerado a bordo para ser incinerado —incluindo alimentos dispensados pelos viajantes.
Godson diz que as regras de manejo do lixo aeroviário impede não só a doação de comida, mas a reciclagem dos copos, plásticos e outros utensílios usados a bordo. No Reino Unido, por exemplo, há uma regulação que impede a entrada e a reciclagem de embalagens que tenham tido contato com carne ou leite.
"Em uma auditoria em Heathrow, perguntei a uma autoridade de saúde se poderíamos reciclar os copos de papel secos, e a resposta foi 'só sobre o meu cadáver", conta Godson. "Se uma embalagem for tratada com calor, como ela iria passar uma doença a um porco? Temos uma regulação irrealista", critica.
Godson diz que os governos deveriam ter mais controle sobre o contrabando de carne escondida nas bagagens. Segundo ele, estudos apontam que cerca de mil toneladas do produto são despachadas de modo irregular por ano, no meio de bagagens, só dos aeroportos de Genebra e Zurique.
A Iata aponta também que as diferenças de regras entre os países dificultam a reciclagem das embalagens usadas a bordo. Algumas empresas estão adotando copos de papel que têm revestimento interno de plástico. Em alguns lugares, eles podem ser reciclados. Já em outros, são vetados por serem de uso único.
"Podemos trocar o plástico por cerâmica ou vidro, mas eles são mais pesados. Isso significa que o avião carregará mais peso, consumirá mais combustível e ao final emitirá mais CO2, o que não é bom para o ambiente", comenta Olga Miltcheva, diretora-assistente de Engajamento na Iata.
Via Rafael Balago (Folha de S.Paulo)
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