Só nos 5 primeiros meses deste ano, os 3 maiores aeroportos do País interceptaram 21,3 toneladas de produtos proibidos em bagagens
As férias acabaram, é hora de fazer as malas e voltar pra casa. A costela de cavalo vai no fundo da bagagem, reservando ainda um espaço para as cinzas vulcânicas. No meio das roupas, ovos fertilizados, queijos, bacalhau e frutas. É exótico, mas não é fruto da imaginação.
Esses são apenas alguns tipos de souvenirs barrados nos portos e aeroportos brasileiros, nos últimos meses, pelos fiscais do Sistema de Vigilância Agropecuária Internacional (Vigiagro) do Ministério da Agricultura.
A lista não para aí. Recentemente, um espanhol aterrissou no Aeroporto Internacional de Brasília com o que os fiscais apelidaram de "kit neolítico". A bagagem era composta de crânio de ovelha, ossos de cavalo, penas de pombo, pedras com restos de terra, sementes e fungos.
O passageiro alegou que o material seria usado para reproduzir uma fogueira igual à dos ancestrais humanos em épocas pré-históricas.
Um chefe de cozinha também desembarcou no País com um menu invejável, mas proibido: caviar, cogumelos, fígado de ganso e alimentos sofisticados enlatados. "Percebemos que os itens foram escolhidos a dedo e que eram caros", conta o chefe da Unidade de Vigilância Agropecuária, Fábio Schwingel.
Tudo foi apreendido. O item mais bizarro que ele recolheu foi uma caixa cheia de terra e com uma cabeça de búfalo que ainda continha restos do animal. O destino confesso era uma sessão religiosa especial. O material foi incinerado.
Produto azulado. O passageiro sempre tem um rosário de explicações para a "importação" dos produtos exóticos e geralmente fica irritado com a apreensão. "O mais comum é o de que alguém da família está mal de saúde e quer provar pela última vez o sabor de determinado queijo", conta Schwingel. Qualquer que seja a desculpa, no entanto, não cola. Se não há autorização da Agricultura para cargas de origem animal ou vegetal, ela não entra no Brasil.
O procedimento dos fiscais do Vigiagro é reter o material, aplicar um produto azulado para inviabilizar o consumo e ensacá-lo na frente do passageiro. "Tem muita gente que pensa que os fiscais apreendem alguns produtos para si", explica o fiscal Edson Cavalcante. O item que é perecível deve ser queimado. Antes disso, fica congelado no aeroporto onde foi apreendido.
O passageiro só perde a carga, mas o ministério luta para que multas sejam aplicadas aos que trouxerem material proibido, a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos e na Inglaterra. O passageiro tem direito de receber um Termo de Fiscalização de Bagagem, que é um comprovante de que houve apreensão.
Só nos cinco primeiros meses deste ano, os três maiores aeroportos de passageiros do País interceptaram 21,3 toneladas de produtos proibidos em bagagens. No Aeroporto Internacional Franco Montoro, em Guarulhos (SP), foram retidas 16,7 toneladas. No Antonio Carlos Jobim, o Galeão, no Rio de Janeiro (RJ), 3,3 toneladas; e, no Juscelino Kubitschek, em Brasília, 1,3 tonelada.
Produtos inocentes. A rigidez é necessária por conta das regras de segurança sanitária do País. A avaliação é de que os produtos retidos podem comprometer a pecuária nacional - e o Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo. "As pessoas pensam que são produtos inocentes, mas nem sempre são", explica o veterinário e professor da Universidade de Brasília (UNB) Cristiano Barros de Melo.
Em 1978, por exemplo, a peste suína africana foi introduzida no Brasil por meio dos aeroportos. Restos de comida servida em aviões foram desviados e acabaram como alimento para porcos. A doença se disseminou.
Melo lembra que também não é incomum encontrar nas malas cabeças de cachorro ou patas de macacos. "Isso não faz parte da nossa cultura, mas faz de outras", comenta. Por isso, ele salienta que é importante o turista obter informações com as companhias aéreas sobre o que pode constar da bagagem. "Já apreendi ovos fertilizados disfarçados de ovos de Páscoa. O perigo real nesse caso é a entrada da gripe aviária no Brasil", afirma o fiscal Edson Cavalcante.
Copa do Mundo. O professor da UNB também teme que isso se repita. Ele é coordenador de um programa de pós-graduação em ciências animais que tem como foco mapear os procedimentos utilizados hoje no Brasil para melhorar a inspeção até 2014. "Visamos à Copa do Mundo e também às Olimpíadas", diz. O projeto começou em 2009 e se estenderá até 2012. "O trabalho visa a aumentar o êxito nas intercepções."
O engenheiro agrônomo do Ministério da Agricultura Antonio José de Araújo Moreira cuida do setor de cargas no Rio de Janeiro. Nesse caso, explica, além da carga em si, é preciso dar atenção à embalagem dos produtos importados. Isso porque, segundo ele, 80% da carga são acondicionados em caixas de madeira, material que é propício ao transporte de pragas e insetos.
Por isso, o Brasil aderiu a uma norma internacional que exige um selo de comprovação de que a madeira usada é a adequada. Quando não há o selo, o produto é examinado. "Precisamos fazer isso com rigidez e celeridade, pois a carga tem que chegar ao seu destino rapidamente", relata Moreira.
Fonte: Célia Froufe (O Estado de S.Paulo)
As férias acabaram, é hora de fazer as malas e voltar pra casa. A costela de cavalo vai no fundo da bagagem, reservando ainda um espaço para as cinzas vulcânicas. No meio das roupas, ovos fertilizados, queijos, bacalhau e frutas. É exótico, mas não é fruto da imaginação.
Esses são apenas alguns tipos de souvenirs barrados nos portos e aeroportos brasileiros, nos últimos meses, pelos fiscais do Sistema de Vigilância Agropecuária Internacional (Vigiagro) do Ministério da Agricultura.
A lista não para aí. Recentemente, um espanhol aterrissou no Aeroporto Internacional de Brasília com o que os fiscais apelidaram de "kit neolítico". A bagagem era composta de crânio de ovelha, ossos de cavalo, penas de pombo, pedras com restos de terra, sementes e fungos.
O passageiro alegou que o material seria usado para reproduzir uma fogueira igual à dos ancestrais humanos em épocas pré-históricas.
Um chefe de cozinha também desembarcou no País com um menu invejável, mas proibido: caviar, cogumelos, fígado de ganso e alimentos sofisticados enlatados. "Percebemos que os itens foram escolhidos a dedo e que eram caros", conta o chefe da Unidade de Vigilância Agropecuária, Fábio Schwingel.
Tudo foi apreendido. O item mais bizarro que ele recolheu foi uma caixa cheia de terra e com uma cabeça de búfalo que ainda continha restos do animal. O destino confesso era uma sessão religiosa especial. O material foi incinerado.
Produto azulado. O passageiro sempre tem um rosário de explicações para a "importação" dos produtos exóticos e geralmente fica irritado com a apreensão. "O mais comum é o de que alguém da família está mal de saúde e quer provar pela última vez o sabor de determinado queijo", conta Schwingel. Qualquer que seja a desculpa, no entanto, não cola. Se não há autorização da Agricultura para cargas de origem animal ou vegetal, ela não entra no Brasil.
O procedimento dos fiscais do Vigiagro é reter o material, aplicar um produto azulado para inviabilizar o consumo e ensacá-lo na frente do passageiro. "Tem muita gente que pensa que os fiscais apreendem alguns produtos para si", explica o fiscal Edson Cavalcante. O item que é perecível deve ser queimado. Antes disso, fica congelado no aeroporto onde foi apreendido.
O passageiro só perde a carga, mas o ministério luta para que multas sejam aplicadas aos que trouxerem material proibido, a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos e na Inglaterra. O passageiro tem direito de receber um Termo de Fiscalização de Bagagem, que é um comprovante de que houve apreensão.
Só nos cinco primeiros meses deste ano, os três maiores aeroportos de passageiros do País interceptaram 21,3 toneladas de produtos proibidos em bagagens. No Aeroporto Internacional Franco Montoro, em Guarulhos (SP), foram retidas 16,7 toneladas. No Antonio Carlos Jobim, o Galeão, no Rio de Janeiro (RJ), 3,3 toneladas; e, no Juscelino Kubitschek, em Brasília, 1,3 tonelada.
Produtos inocentes. A rigidez é necessária por conta das regras de segurança sanitária do País. A avaliação é de que os produtos retidos podem comprometer a pecuária nacional - e o Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo. "As pessoas pensam que são produtos inocentes, mas nem sempre são", explica o veterinário e professor da Universidade de Brasília (UNB) Cristiano Barros de Melo.
Em 1978, por exemplo, a peste suína africana foi introduzida no Brasil por meio dos aeroportos. Restos de comida servida em aviões foram desviados e acabaram como alimento para porcos. A doença se disseminou.
Melo lembra que também não é incomum encontrar nas malas cabeças de cachorro ou patas de macacos. "Isso não faz parte da nossa cultura, mas faz de outras", comenta. Por isso, ele salienta que é importante o turista obter informações com as companhias aéreas sobre o que pode constar da bagagem. "Já apreendi ovos fertilizados disfarçados de ovos de Páscoa. O perigo real nesse caso é a entrada da gripe aviária no Brasil", afirma o fiscal Edson Cavalcante.
Copa do Mundo. O professor da UNB também teme que isso se repita. Ele é coordenador de um programa de pós-graduação em ciências animais que tem como foco mapear os procedimentos utilizados hoje no Brasil para melhorar a inspeção até 2014. "Visamos à Copa do Mundo e também às Olimpíadas", diz. O projeto começou em 2009 e se estenderá até 2012. "O trabalho visa a aumentar o êxito nas intercepções."
O engenheiro agrônomo do Ministério da Agricultura Antonio José de Araújo Moreira cuida do setor de cargas no Rio de Janeiro. Nesse caso, explica, além da carga em si, é preciso dar atenção à embalagem dos produtos importados. Isso porque, segundo ele, 80% da carga são acondicionados em caixas de madeira, material que é propício ao transporte de pragas e insetos.
Por isso, o Brasil aderiu a uma norma internacional que exige um selo de comprovação de que a madeira usada é a adequada. Quando não há o selo, o produto é examinado. "Precisamos fazer isso com rigidez e celeridade, pois a carga tem que chegar ao seu destino rapidamente", relata Moreira.
Fonte: Célia Froufe (O Estado de S.Paulo)
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