segunda-feira, 8 de março de 2010

Brasileiros se arriscam no Haiti

Soldados fazem “operação de guerra” na missão de distribuir donativos e prestar atendimento médico à população haitiana

O capitão Paulo Roberto da Silva, de Foz do Iguaçu, controla o aeroporto de Porto Príncipe

Principal força de segurança da ONU no Haiti, as tropas brasileiras passaram a arcar com outras duas responsabilidades depois do terremoto: a distribuição de comida e demais donativos e o atendimento médico. Pelo me­­nos 343 toneladas de alimentos e 51 mil litros de água já foram distribuídos para os haitianos. Levar comida em bairros muito pobres e atingidos pelo terremoto é uma tarefa perigosa. Em 2006, dois militares jordanianos da missão de Paz da ONU foram mortos em uma emboscada.

“É como uma operação de guerra. De tarde vemos se está tudo normal, se o clima está bom. Aí temos de cercar as entradas e garantir a ordem para que a distribuição ocorra sem problemas”, explica o capitão Rodrigo Ferreira do Nascimento, que co­­manda o 1.º Batalhão de Infan­­taria Motorizada, que cobre o bairro de Cité Soleil.

O Hospital de Campanha da Aeronáutica, que foi instalado três dias depois dos tremores também passou a ser fundamental num país que já tinha um sistema de saúde precário e que agora depende quase que exclusivamente do atendimento mé­­di­­co ligado à ONU. “Nos primeiros dias, os atendimentos ficaram concentrados na área ortopédica. Eram muitos traumas devido ao terremoto. Agora, os atendimentos clínicos e pediátricos têm sido os mais procurados. Já fizemos 13 partos aqui”, conta o coronel João Carlos Azeredo, comandante do Hospital de Cam­­panha da FAB.

Na esfera civil, a atuação brasileira também é destacada. A coordenadora do principal projeto de geração de renda do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) no Haiti é a brasileira Eliana Ni­­colini. O Cash for Work (dinheiro por trabalho) emprega 35 mil haitianos em serviço de limpeza e conservação urbana. “Estamos limpando a cidade, gerando renda e aumentando a autoestima deles”, diz Eliana. Segundo ela, o projeto pretende atingir 100 mil haitianos nos próximos meses.

O Brasil também está representado no Haiti por uma dezena de Organizações Não Gover­­namentais (ONGs). A maior de­­las, a Viva Rio, transformou suas instalações em um acampamento improvisado para 13 mil pessoas.

Personagens

Do Paraná para as ruas haitianas

Quando criança, o curitibano Lauro Aristides Dias Carneiro, de 32 anos, brincava de soldado nas ruas da Cidade Industrial de Curitiba (CIC). Hoje, ele lidera grupos de oito soldados nas missões de patrulhamento em bairros de Porto Príncipe, capital do Haiti.

Na prática, Carneiro é responsável pela segurança dos seus soldados e da população haitiana residente nos bairros por onde passa sua patrulha.

Nascido na maternidade Vitor Ferreira do Amaral, na Água Verde, Lauro serviu como soldado no Comando da 5ª Região Militar, no Pinheirinho, antes de ser aprovado no concurso para sargento, quando transferiu-se para o Rio de Janeiro.

Nascido no Rio Grande do Sul, o capitão Paulo Roberto da Silva tornou-se iguaçuense graças à Força Aérea Brasileira (FAB). Comandante do Destacamento de Controle Aéreo de Foz do Iguaçu há cerca de dez anos, Paulo Roberto é responsável pela porta de entrada de toda ajuda brasileira ao Haiti, seja civil ou militar. Ele é o chefe da Sessão de Controle de Operações Aéreas do aeroporto de Porto Príncipe. “Fazemos o apoio logístico e operacional de toda aeronave brasileira que pousa ou decola aqui”, diz Paulo Roberto.

Logo após o terremoto, eram cerca de 20 voos monitorados, entre pousos e decolagens. Hoje, o ritmo de trabalho está menor, mas todo o dia são pelo menos dois aviões Hércules da FAB que rumam e chegam do Brasil.

Fonte: Guilherme Voitch (Gazeta do Povo) - Foto: Marcello Casal Jr./ABr

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