sábado, 28 de março de 2009

Risco nas pistas de pouso do Interior do Ceará

Pista de pouso em Tianguá: aviões disputam espaço com motos

A maioria das pistas de pouso e decolagem do Interior do Ceará não tem homologação da Anac e apresentam riscos aos aviões que delas fazem uso. Segundo pilotos ouvidos pelo O POVO, estes aeródromos são utilizados por falta de opção no Estado.

Há duas semanas, o experiente piloto de linha aérea, José Demontiex de Brito Teles, 56 anos, teve uma surpresa quando tentava aterrissar no aeródromo de Camocim, que está sob administração do Governo do Estado. Por causa de uma vaca que andava calmamente na pista, o piloto foi obrigado a arremeter três vezes a aeronave para, enfim, pousar. Nos seus 34 anos de experiência na aviação, o comandante Teles, como é conhecido, fala com propriedade sobre as condições dos terminais aéreos no Interior do Ceará. Conta que esta não foi a única vez que se viu em situação de risco na hora de pousar nas pistas cearenses.

“Há dois anos, eu quase atropelei um casal que estava andando de moto em uma pista. Isso acontece quase todos os dias, porque muitos aeródromos daqui são totalmente abertos, sem cercamento e fiscalização. Então entra vaca, criança, o povo aprendendo a andar de moto, o que representa perigo tanto para a tripulação quanto aos que se encontram em solo”, constata.

Segundo o comandante Teles, que há décadas voa pelo Interior do Ceará, a grande maioria das pistas de pouso e decolagem no Estado não estão em boas condições de uso e não possuem asfalto, mas sim cascalho, grama e terra batida.

Não homologadas

Por falta de investimento em infraestrutura e segurança, muitas delas estão sem homologação de uso da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Ou seja, teoricamente, estão impróprias para pousos e decolagens. Mas na prática, elas são utilizadas diariamente com conhecimento dos próprios pilotos e empresas atuantes no setor. “Não temos opções, já que não há investimentos nestas pistas. A Infraero, por exemplo, só quer investir em grandes aeroportos onde têm mais lucratividade. É uma empresa pública com fins lucrativos”, queixa-se.

Além dos problemas de pista, o piloto aponta a falta de planejamento dos aeródromos cearenses. “Próximo ao aeroporto de Sobral, por exemplo, colocaram duas grandes antenas de transmissão, que restringiu a capacidade de pousos e decolagens. Aqui no Ceará, falta planejamento e fiscalização”, afirma.

Para o piloto de aviação executiva P.I., que preferiu não se identificar, a Anac sabe do uso de pistas não homologadas pelo Interior cearense, mas não possui efetivo para fiscalizar. Ele também confirma que a maioria das pistas do Estado não possuem autorização para pousos e decolagens.”Nestas pistas não há condições alguma de aterrissar ou decolar à noite, por exemplo, pois não têm iluminação. É muito perigoso, pois a visibilidade é ruim e pode ‘aparecer’ um animal ou criança no caminho”, explica. (Sandra Nagano)

EMAIS

- O Ceará possui 19 aeródromos (pista de pouso) homologados pela Anac, sendo seis privados e 13 públicos.

- Sete são administrados pelo Governo do Estado: Aracati, Camocim, Crateús, Iguatu, Campos Sales, Quixadá e Sobral

- O Aeroporto Internacional Pinto Martins foi transferido às mãos da Infraero, em 1974, pelo então Ministério da Aeronáutica

- O Aeroporto de Juazeiro do Norte é administrada pela Infraero, sob convênio com o Governo do Estado.

- A Infraero é uma empresa pública nacional, vinculada ao Ministério da Defesa, que administra 67 aeroportos. Somente nos cinco maiores aeroportos brasileiros em lucratividade, a empresa teve juntos um superávit de R$ 609,3 milhões.

- A principal fonte de lucratividade da Infraero são as chamadas concessões de box, via licitação comercial (vence o maior preço)

- O maior aluguel no Aeroporto Pinto Martins neste ano deverá ser de um restaurante, no valor de R$ 45 mil por mês

Fonte: O Povo Online

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