Os foguetes partirão do mesmo local onde ocorreu o acidente, em 22 de agosto de 2003. A Folha visitou anteontem a base militar e esteve na área do desastre. Marcas do acidente, um dos quatro piores da história da exploração espacial, ainda permanecem.
O piso de concreto está parcialmente destruído. Chapas e tubos metálicos estão chamuscados e corroídos pela ferrugem. O mesmo ocorre com os trilhos que levavam a chamada torre móvel de integração até o foguete. O cenário contrasta com a pintura bem-feita do meio-fio e o asfalto novo.
Não há no local nenhum memorial às vítimas ou referência ao acidente. Um monumento em homenagem aos mortos foi erguido no CTA (atual Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial), órgão da Aeronáutica em São José dos Campos (SP), onde todos trabalhavam.
Os destroços da plataforma e do VLS-1 foram periciados por técnicos russos e brasileiros e guardados até a conclusão do IPM (Inquérito Policial Militar) que apurou o caso. Depois, foram leiloados como sucata.
A investigação apontou que o incêndio foi causado pela ignição antecipada de um dos propulsores do foguete. A causa do problema, porém, não foi identificada. O caso foi arquivado em 2005, por falta de provas. Ninguém foi punido.
A perícia apontou que a estrutura do piso não foi afetada. Ela será aproveitada nas obras de reconstrução do local. Receberá uma nova camada de concreto, de cinco centímetros.
Recomeço
As obras da torre do VLS-1 e do novo Centro Espacial de Alcântara haviam sido barradas pelo TCU (Tribunal de Contas da União), que viu problemas técnicos em uma licitação e de sobrepreço em outra.
Neste ano, o tribunal liberou as obras. A nova torre, que custará cerca de R$ 35 milhões, terá aproximadamente 250 toneladas e será capaz de lançar a versão 2 do VLS, com maior capacidade de transporte de carga. A empresa Jaraguá Equipamentos já foi contratada para refazer a torre, segundo a Agência Espacial Brasileira.
Segundo o diretor do CLA, tenente-coronel Nilo Andrade, as obras deverão ser concluídas em agosto de 2010. Testes de lançamento estão previstos para 2011. Se aprovado, o foguete brasileiro poderá colocar satélites em órbita em 2012.
Desde o acidente, o centro de Alcântara realizou três lançamentos de foguetes de médio porte, para experimentos de microgravidade. Para isso, foi utilizada outra torre, a 500 metros do local do acidente.
Mensalmente, os militares lançam também, em média, 12 pequenos foguetes de plataformas móveis, para treinamento e testes dos radares e do equipamento de telemetria (transmissão de dados à distância).
Segundo o diretor do CLA, outros foguetes experimentais e de treinamento poderão ser lançados ainda este ano das bases de Alcântara e do Centro de Lançamento da Barreira do Inferno, no Rio Grande do Norte.
O CLA deverá abrigar ainda uma nova plataforma de lançamento, para o foguete ucraniano Cyclone-4, informou o diretor-geral da binacional Alcântara Cyclone Space, Roberto Amaral. A previsão é lançar o foguete em julho de 2010.
Fonte: Folha Online - Foto: Honório Moreira