Cadelas labradores Dara (preta) e Anny trabalharam no resgate das vítimas do avião da TAM e do desabamento da obra do metrô Duas das mais valorosas funcionárias do Corpo de Bombeiros de São Paulo estão prestes a deixar a corporação. As cadelas labradores Anny e Dara, que trabalharam no resgate das vítimas da queda do avião da TAM e do desabamento da obra do metrô, no ano passado, aguardam, nas próximas semanas, seu último chamado: o da aposentadoria.
O currículo das duas irmãs, doadas ao canil dos bombeiros em 1999, conta façanhas memoráveis. Anny foi a heroína do primeiro salvamento de pessoa com vida por um cão de resgate no Brasil, em um desabamento ocorrido em 2001. Quatro anos depois, Dara foi eleita "Cão Herói" em um concurso nacional - na carreira, ela encontrou 13 corpos de vítimas. Os bombeiros usam cães para salvamentos há dez anos.
O tempo de serviço necessário para aposentadoria - oito anos - é o mesmo de vida das duas, que, se fossem gente, já estariam na casa dos 60 anos.
Saudável, Anny ainda é capaz de correr e saltar e, caso seja chamada antes de o burocrático processo de aposentadoria ser deferido, ainda deve trabalhar. Como se fosse gente.
A idade, porém, não foi tão generosa com Dara, que desde o final do ano passado passou a sofrer de displasia, artrose (ambas doenças que atacam articulações) e problemas na coluna.
A doença de Dara sensibilizou o veterinário Adriano Caquetti, que tem um consultório próximo ao canil, no bairro do Ipiranga (zona sul), e oferece, semanalmente, sessões de acupuntura gratuitas à cadela.
"É triste vê-la assim", diz, emocionado, o cabo Clóvis de Souza, adestrador de Dara há seis anos. "Quando a aposentadoria sair, ela vai morar comigo." Depois de aposentados, os cães são criados pelo bombeiro adestrador ou doados.
Souza recorda que o talento de Dara esteve prestes a ser desperdiçado. "Ela não estava correspondendo ao treinamento, estava para ser doada." A guinada veio depois que os dois - Dara e Souza, que não tinha nenhuma experiência com cães - passaram a receber treinamento intensivo.
"A gente treinava de manhã, de tarde e de noite. Criamos confiança juntos", conta Souza, que tornou-se o único enfermeiro veterinário do quartel.
O canil hoje possui 12 cães -além de labrador, há cães das raças golden retrievers, pastores belga e holandês. A tarefa dos cães, porém, é ingrata: atender a todo o Estado, pois o canil é o único dos bombeiros.
A distância compromete o tempo de atendimento em ocorrências longe da capital.
Treinamento
Souza diz que, para o cão, o trenamento é como uma grande brincadeira. O treino é feito com a ajuda de uma terceira pessoa, que se esconde levando um brinquedo de estimação do cão. O cachorro, então, tem de atender ao comando do dono para encontrar a pessoa e receber o seu brinquedo de volta.
"Com o tempo, vamos complicando os cenários e tirando a pessoa da vista do cão. Ele desenvolve o olfato e acha a pessoa pelo cheiro", explica.
A maior dificuldade para fazer um treinamento adequado, diz Souza, é a falta de um local específico, amplo e cheio de entulhos, para simular situações. "Levamos os cães sempre em locais com escombros, após demolições. Mas, em pouco tempo, os terrenos são limpos e temos de procurar outro lugar."
Após o trabalho destacado das cadelas na cratera do metrô - elas apontaram os corpos das sete vítimas -, a Secretaria da Segurança Pública chegou a elaborar um projeto para ampliação do canil, que ainda não tem data para sair do papel.
Fonte: Folha Online - Foto: Luiz Carlos Murauskas (Folha Imagem)