sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Concorrência se acirra após declarações do governo pró-Rafale

Boeing envia assessores para defender o seu avião; sueca Saab revê condições

Comandante Juniti Saito adere a brincadeira de Lula, de que vai acabar recebendo aviões "de graça", e diz que a disputa melhora as ofertas

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

Quanto mais o governo reforça publicamente sua preferência pelos aviões Rafale, da francesa Dassault, para renovar a frota da FAB, mais as outras competidoras, a sueca Saab e a americana Boeing, aumentam a pressão para não serem excluídas antes que se encerre o processo de análise técnica.

Nesta terça, por exemplo, desembarcam em São Paulo enviados especiais da Boeing para defender o seu avião, o F-18 Super Hornet. batendo na tecla de que seu produto não é só um dos melhores, se não o melhor, e atende ao requisito de transferência de tecnologia.

O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, até aderiu à brincadeira do presidente Lula, de que vai acabar recebendo os aviões "de graça": "É possível. Os EUA disseram que vão transferir tudo, e a Suécia, que vai rever condições."

O novo parâmetro usado pelo governo brasileiro para tentar obter maiores vantagens no negócio, que pode chegar a 4 bilhões, foi dado pelo presidente francês Nicolas Sarkozy: ele garantiu a Lula que a Dassault irá vender os aviões ao Brasil pelo mesmo preço que cobra da própria Aeronáutica francesa.

Já a pressão da Boeing é focada no compromisso da aprovação que o governo dos EUA deu para a transferência do pacote do F-18. "É uma decisão definitiva", disse um assessor americano, afastando uma possível revisão pelo Congresso.

A sueca Saab, que entra na disputa com o Grippen NG, também decidiu se mover. Seu principal trunfo é o preço, mas seu produto enfrenta duas resistências: só ter uma turbina e ser ainda um projeto virtual.

O prazo final para a coleta de dados e revisão de propostas passou do dia 18 para o dia 21, quando a Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate espera abrir a fase final de redação do relatório com novidades das três empresas.

A expectativa é que todas façam novas concessões nas áreas de preços, de condições, de abertura de tecnologia e de "offset" (sistema de compensações no avião ou outras áreas).

As etapas seguintes são: avaliação do Alto Comando da Aeronáutica, envio para o Ministério de Defesa, convocação do Conselho de Defesa Nacional e a decisão do presidente. Em tese, Lula pode jogar o trabalho na gaveta e usar sua prerrogativa de decidir politicamente o que é melhor para o país.

Um fator decisivo pró-Rafale é a "aliança estratégica" entre Brasil e França, que inclui não só o maior pacote de compras militares, mas também aliança política em foros multilaterais.

Fonte: jornal Folha de S.Paulo

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