sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Para culpados pelo "milagre" no Rio Hudson, a outra face da glória

Gansos canadenses voando perto de Pelham Bay Park, no Bronx. Gansos similares danificaram os motores de um avião da US Airways que pousou no rio Hudson, em janeiro - Foto: Rob Bennett (The New York Times)
Assim como a maioria das histórias, o já lendário pouso do voo US Airways 1549 nas águas geladas do Rio Hudson, em 15 de janeiro de 2009, também tem um herói e um vilão. Na amerissagem, classificada por especialistas como um verdadeiro milagre, o herói – Comandante Chesley B. Sullenberger III se tornou uma personalidade, tanto que no dia 1° de outubro, os fãs o aplaudiram e pediram muitos autógrafos. A imprensa realizou intensa cobertura do voo interrompido, de Nova Iorque a Charlotte. Já os culpados pelo acidente – os gansos canadenses, que causaram o apagamento dos dois motores da aeronave – não foram festejados por ninguém. A população de gansos canadenses que residem na área metropolitana de Nova Iorque é bastante difícil de ser mensurada, mas as estimativas são de 20.000 aves. O fato é que, em oito dias agitados do último verão americano, a população foi reduzida em 1.235 aves. Cerca de doze funcionários do serviço de vida selvagem e de proteção ambiental do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) capturaram as aves, com o uso de caiaques e armadilhas, para realizar a eutanásia através de gás. A ação não foi chamada de extermínio, mas nenhuma das aves sobreviveu para ver as folhas de outono caírem. Não é certo que a eutanásia deixou os céus da cidade mais seguros. O certo é que gansos e aeronaves criam uma combinação perigosa para ambos os lados. De acordo com Richard A. Dolbeer, cientista em vida selvagem e referência mundial no assunto, esta espécie de ganso tem quatro quilos e realiza voos em grandes bandos, sendo ainda abundantes - população estimada de cinco milhões de indivíduos, caracterizando-se como a espécie mais perigosa para a aviação. Originalmente, estas aves migravam sobre Nova Iorque na primavera e no outono, mas uma população residente foi introduzida na década de 30, a fim de incentivar a caça esportiva. Alguns defensores da vida selvagem ainda são céticos a respeito da eficiência das ações letais realizadas, afirmando que não houve uma pesquisa suficientemente profunda na população residente de gansos para definir quantos indivíduos deveriam ser sacrificados. “Há muito o que fazer antes de tomar medidas como esta. Não que isto não possa ser realizado, mas a lição de casa deve ser feita anteriormente”, afirma Glenn Phillips, da New York City Audubon, comunidade dedicada à preservação de aves selvagens. Ele disse, ainda, que as aves que derrubaram a aeronave de Sullenberger não eram residentes, segundo testes laboratoriais. Portanto, a redução da população residente não teria evitado o acidente. As autoridades locais foram mais otimistas, apesar de não terem sido abatidas as 2.000 aves inicialmente previstas na ação. O vice-prefeito, Edward Skyler, disse que “gansos canadenses são uma séria ameaça à aviação, seres humanos a bordo de aeronaves e no solo devem ser protegidos. Devemos realizar diversas medidas que reduzam a probabilidade de colisões com aves”. Segundo Jason Post, o porta-voz do prefeito Michael Bloomberg, “a ação letal que custou pouco menos de US$ 50,000, rateada entre a cidade e as autoridades aeroportuárias de Nova Iorque e de Nova Jérsei, não foi a única medida de controle usada este ano”. Durante a época de nidificação, foi utilizado óleo de milho para cobrir 1.739 ovos de ganso. Segundo Carol Bannerman, porta-voz do USDA, “o óleo impede que os ovos se desenvolvam”. Paralelamente às ações sazonais, outros procedimentos de afugentamento são realizados todo o ano, a fim de manter as aves longe dos sítios aeroportuários.

Funcionários do Ministério da Agricultura montam um "curral" para os gansos do Canadá, em Randalls Island Foto: New York City Department of Parks and Recreation

Os três maiores aeroportos de Nova Iorque mantêm ações de controle da vida selvagem desde a década de 70. Pirotécnicos, falcoaria e armas de fogo têm sido utilizados por equipes treinadas para dispersar e abater aves nas áreas patrimoniais dos aeroportos. “As equipes fazem rondas regulares no aeroporto com várias atribuições, sendo uma delas o registro da presença de aves”, disse John Kelly, porta-voz da autoridade aeroportuária. Ele afirmou ainda que “algumas situações exigem o uso das armas para dispersar, outras para matar as aves nos aeroportos”. “As autoridades mantêm uma política de tolerância zero para os gansos na área aeroportuária. As armas de fogo são utilizadas somente por pessoal treinado e certificado do setor de operações do aeroporto”. 

Fonte: Simon Akam (The New York Times com tradução e adaptação do Maj Av Henrique Rubens Balta de Oliveira) via Fórum SDV (Segurança de Voo)

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