Diante dos desafios para a realização das duas empreitadas - a identificação dos corpos e a análise pericial -, o País montou uma força-tarefa monumental em Pernambuco. Entre a capital, Recife, e Fernando de Noronha, há 329 papiloscopistas, 105 médicos legistas, 167 peritos e oito policiais federais especializados em identificação de corpos. A equipe é reforçada por sete técnicos franceses com expertise em identificação de corpos encontrados após grandes catástrofes - eles participaram da perícia das vítimas do tsunami, ocorrido no sudoeste asiático em 2004. O trabalho tem sido feito 24 horas por dia.
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Em processos de identificação de corpos, o primeiro recurso usado é a análise das digitais. Porém, nos casos em que o cadáver fica submerso dias a fio, pode não ser possível porque há o risco de a pele se soltar das mãos, inviabilizando o procedimento.
Se isso ocorrer, parte-se para a etapa seguinte, que consiste na checagem de sinais externos e da arcada dentária. "Normalmente, apenas quando nenhuma dessas técnicas funciona é que se lança mão do exame do DNA", explica o médico legista Daniel Muñoz, professor da Universidade de São Paulo. Há dois tipos de exame: o nuclear e o mitocondrial.
O primeiro avalia o conteúdo genético do núcleo da célula. O segundo, o DNA presente nas mitocôndrias, estruturas da célula. O problema é que, em corpos que permaneceram na água por longos períodos, os genes podem ter sido degradados - por exemplo, caso a água tenha se infiltrado e rompido as células ósseas, o DNA se perdeu. Nas circunstâncias em que ele está muito prejudicado, os técnicos realizam o exame de DNA mitocondrial, que tende a ficar mais preservado.
Difícil prever quanto tempo demora um reconhecimento. Isso depende muito do estado dos corpos. "Se for possível por meio das digitais, é rápido", explica Muñoz. Mas, se o processo tiver de ser refinado com a utilização de outros métodos, pode levar semanas.
Ao mesmo tempo que o levantamento para descobrir a identidade é conduzido, os peritos tentam extrair dos corpos indícios do que pode ter ocorrido. "As condições dos cadáveres esclarecerão muita coisa", diz Luiz de Almeida Demenato, diretor da área de medicina aeroespacial da Associação Brasileira de Trânsito. "Uma queda em alta velocidade, por exemplo, pode causar ruptura de órgãos internos", explica o médico legista Marcos de Almeida, da Universidade Federal de São Paulo.
Há outros indicativos. "Se houve descompressão rápida, o tímpano estará rompido", diz Ronaldo Jenkins, especialista em segurança aérea e diretor do Sindicato Nacional de Empresas Aeroviárias. O tipo de fratura revela a dinâmica de movimento da aeronave. "Se forem laterais, mostram que o avião jogou de um lado para o outro", explica Jenkins. Todas as informações serão usadas por especialistas da Marinha e da Aeronáutica. "Vamos tentar reconstituir a história do acidente a partir das pistas encontradas nos corpos e nas peças", afirma o médico legista Eduardo Camerini, tenente-coronel da Aeronáutica, indicado para coordenar essas investigações.
Fonte: Cilene Pereira, Greice Rodrigues e Mônica Tarantino (IstoÉ)
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