A história dos ‘falcões’ – os pilotos da Base Aérea de Monte Real, concelho de Leiria, em Portugal – já vai nas 50 páginas, uma por cada ano da esquadra de referência da FAP. No domingo, os ‘falcões’ reviveram momentos aos comandos dos aviões F-86, A-7P e F-16.
No dia em que o primeiro caça da Força Aérea Portuguesa ultrapassou a barreira do som, causando enorme estrondo, a população foi informada do que se passou e o piloto distinguido com um emblema. A bordo do F-86, o major Moura Pinto, o primeiro ‘falcão-mor’, sentiu a asa esquerda oscilar com a onda de choque gerada pela velocidade supersónica. Passaram-se 50 anos, a tecnologia evoluiu e os pilotos já quase não mencionam o facto, que fica registado nos instrumentos de apoio ao voo dos modernos F-16. O caça mantém a trajectória definida e uma vez em terra os pilotos não recebem um emblema a assinalar o feito. Só é notícia se o estrondo causar algum prejuízo.
A proeza de ‘esburacar’ a barreira do som marcou gerações de pilotos de caças e ainda domina as conversas entre os Falcões – a esquadra de referência da Força Aérea Portuguesa (FAP), que assinalou o cinquentenário reunindo na Base Aérea de Monte Real (BA-5) ‘falcões’ de todas as épocas (286 ganharam o emblema). Desde os pioneiros generais Lemos Ferreira e Brochado Miranda, entre outros antigos chefes de Estado-Maior da Força Aérea que combateram na guerra em África e acumularam milhares de horas de voo nos ‘históricos’ F-86, aos actuais pilotos da Esquadra 201. Incluindo os instruendos – os ‘abibes’ – que ainda não conquistaram o direito a cruzar a entrada, onde se lê: "Por esta porta passam os falcões mais ferozes do Mundo."
"Gosto de dizer que fui ‘falcão’ e que passei a barreira do som. Era um feito, não pela dificuldade mas por ser algo invulgar que até era assinalado com um emblema próprio, que ainda hoje uso", diz o general Brochado Miranda, um dos pioneiros. Apesar de ter saído da Força Aérea há 20 anos, quando cumpria o segundo mandato como chefe de Estado- -Maior, ainda revive com os actuais ‘falcões’ o prazer de voar. "Hoje, em termos operacionais, é preciso os pilotos atingirem velocidades supersónicas, mas antigamente só se fazia para conhecer bem a máquina", explica. Em Portugal mas também no Ultramar, pilotou vários aviões – "voei em tudo o que tinha asas" – mas foi aos comandos do F-86 que se sentiu um ‘falcão’ de garra.
"Para ultrapassar o mach 1.02 ou 1.03 e atingir uma velocidade supersónica, tínhamos de fazer uma picada sobre o mar, e quando o fazíamos para terra a onda de choque dava más notícias", recorda o coronel Vítor Silva, um ‘falcão’ da postura de 1966 agora na reserva, frisando que "era um mito fazer essa missão". Foi o último comandante da Esquadra 51, que operou os históricos F-86 entre 1958 e 1980, e o primeiro comandante da Esquadra 302, onde ficaram estacionados os primeiros A-7P Corsair II. Integrou o núcleo de nove pilotos que fez o treino para pilotar o novo avião nos EUA, regressando aos comandos das primeiras aeronaves. "Viemos a voar de Dallas para Monte Real, parando para reabastecer nas Bermudas e nos Açores", recorda, elogiando as "capacidades fantásticas" do A-7P enquanto avião de ataque. "Foi um mal-amado, porque tivemos alguns acidentes, mas era muito capaz para a missão que tínhamos na altura."
Foi aos comandos de um A-7P que Vítor Silva atingiu as cinco mil horas de voo, por isso sabe do que fala quando se refere ao Corsair II e aos seus pilotos: "É uma pilotagem diferente de qualquer outra, em que se é o comandante e senhor do avião. Mas com muitas responsabilidades para com os outros pilotos, porque se voa sempre em parelha ou em esquadrilha, não há voos isolados. Tem de haver disciplina, espírito de sacrifício e um treino físico muito apurado."
"Quando toca a sirene de alerta de defesa aérea, os pilotos têm de estar prontos a descolar em 15 minutos", diz o tenente-coronel Luís Serôdio, comandante da Esquadra 201 e actual ‘falcão-mor’, salientando a exigência de cada missão, que obriga "a uma atenção redobrada e a um esforço continuado: hoje, com a evolução das tácticas e do armamento, temos de estar sempre em estudo". A preparação dos pilotos de caças é agora diferente de há 50 anos, desde logo porque não havia simuladores de voo nem aviões bilugares: "O piloto colocava-se aos comandos, com o instrutor sentado na asa, levava o avião para a pista, fazia os procedimentos, e se o instrutor achasse que não tinha falhado deixava-o descolar. Sozinho. Durante o voo era acompanhado por outro avião mas tinha de aterrar sem qualquer ajuda. Dos ‘falcões’ pioneiros, que há muito guardaram os fatos de voos no armário das recordações, Luís Serôdio lembra "uma grande lição: apesar das dificuldades, do terem de ir para África, sempre cumpriram as missões para as quais tinham sido mandatados, não interessa o que custasse".
"SÃO A PRINCIPAL ESCOLA DE PILOTOS DA FORÇA AÉREA"
O exemplar desempenho, a forte liderança e o elevado rigor táctico dos ‘falcões’ foram salientados pelo general Luís Araújo, chefe de Estado-Maior da Força Aérea, na cerimónia que assinalou os 50 anos daquela esquadra sediada em Monte Real, Leiria, que considerou uma referência e a principal escola de pilotos da Força Aérea.
Fonte: Correio da Manhã (Portugal)
No dia em que o primeiro caça da Força Aérea Portuguesa ultrapassou a barreira do som, causando enorme estrondo, a população foi informada do que se passou e o piloto distinguido com um emblema. A bordo do F-86, o major Moura Pinto, o primeiro ‘falcão-mor’, sentiu a asa esquerda oscilar com a onda de choque gerada pela velocidade supersónica. Passaram-se 50 anos, a tecnologia evoluiu e os pilotos já quase não mencionam o facto, que fica registado nos instrumentos de apoio ao voo dos modernos F-16. O caça mantém a trajectória definida e uma vez em terra os pilotos não recebem um emblema a assinalar o feito. Só é notícia se o estrondo causar algum prejuízo.
A proeza de ‘esburacar’ a barreira do som marcou gerações de pilotos de caças e ainda domina as conversas entre os Falcões – a esquadra de referência da Força Aérea Portuguesa (FAP), que assinalou o cinquentenário reunindo na Base Aérea de Monte Real (BA-5) ‘falcões’ de todas as épocas (286 ganharam o emblema). Desde os pioneiros generais Lemos Ferreira e Brochado Miranda, entre outros antigos chefes de Estado-Maior da Força Aérea que combateram na guerra em África e acumularam milhares de horas de voo nos ‘históricos’ F-86, aos actuais pilotos da Esquadra 201. Incluindo os instruendos – os ‘abibes’ – que ainda não conquistaram o direito a cruzar a entrada, onde se lê: "Por esta porta passam os falcões mais ferozes do Mundo."
"Gosto de dizer que fui ‘falcão’ e que passei a barreira do som. Era um feito, não pela dificuldade mas por ser algo invulgar que até era assinalado com um emblema próprio, que ainda hoje uso", diz o general Brochado Miranda, um dos pioneiros. Apesar de ter saído da Força Aérea há 20 anos, quando cumpria o segundo mandato como chefe de Estado- -Maior, ainda revive com os actuais ‘falcões’ o prazer de voar. "Hoje, em termos operacionais, é preciso os pilotos atingirem velocidades supersónicas, mas antigamente só se fazia para conhecer bem a máquina", explica. Em Portugal mas também no Ultramar, pilotou vários aviões – "voei em tudo o que tinha asas" – mas foi aos comandos do F-86 que se sentiu um ‘falcão’ de garra.
"Para ultrapassar o mach 1.02 ou 1.03 e atingir uma velocidade supersónica, tínhamos de fazer uma picada sobre o mar, e quando o fazíamos para terra a onda de choque dava más notícias", recorda o coronel Vítor Silva, um ‘falcão’ da postura de 1966 agora na reserva, frisando que "era um mito fazer essa missão". Foi o último comandante da Esquadra 51, que operou os históricos F-86 entre 1958 e 1980, e o primeiro comandante da Esquadra 302, onde ficaram estacionados os primeiros A-7P Corsair II. Integrou o núcleo de nove pilotos que fez o treino para pilotar o novo avião nos EUA, regressando aos comandos das primeiras aeronaves. "Viemos a voar de Dallas para Monte Real, parando para reabastecer nas Bermudas e nos Açores", recorda, elogiando as "capacidades fantásticas" do A-7P enquanto avião de ataque. "Foi um mal-amado, porque tivemos alguns acidentes, mas era muito capaz para a missão que tínhamos na altura."
Foi aos comandos de um A-7P que Vítor Silva atingiu as cinco mil horas de voo, por isso sabe do que fala quando se refere ao Corsair II e aos seus pilotos: "É uma pilotagem diferente de qualquer outra, em que se é o comandante e senhor do avião. Mas com muitas responsabilidades para com os outros pilotos, porque se voa sempre em parelha ou em esquadrilha, não há voos isolados. Tem de haver disciplina, espírito de sacrifício e um treino físico muito apurado."
"Quando toca a sirene de alerta de defesa aérea, os pilotos têm de estar prontos a descolar em 15 minutos", diz o tenente-coronel Luís Serôdio, comandante da Esquadra 201 e actual ‘falcão-mor’, salientando a exigência de cada missão, que obriga "a uma atenção redobrada e a um esforço continuado: hoje, com a evolução das tácticas e do armamento, temos de estar sempre em estudo". A preparação dos pilotos de caças é agora diferente de há 50 anos, desde logo porque não havia simuladores de voo nem aviões bilugares: "O piloto colocava-se aos comandos, com o instrutor sentado na asa, levava o avião para a pista, fazia os procedimentos, e se o instrutor achasse que não tinha falhado deixava-o descolar. Sozinho. Durante o voo era acompanhado por outro avião mas tinha de aterrar sem qualquer ajuda. Dos ‘falcões’ pioneiros, que há muito guardaram os fatos de voos no armário das recordações, Luís Serôdio lembra "uma grande lição: apesar das dificuldades, do terem de ir para África, sempre cumpriram as missões para as quais tinham sido mandatados, não interessa o que custasse".
"SÃO A PRINCIPAL ESCOLA DE PILOTOS DA FORÇA AÉREA"
O exemplar desempenho, a forte liderança e o elevado rigor táctico dos ‘falcões’ foram salientados pelo general Luís Araújo, chefe de Estado-Maior da Força Aérea, na cerimónia que assinalou os 50 anos daquela esquadra sediada em Monte Real, Leiria, que considerou uma referência e a principal escola de pilotos da Força Aérea.
Fonte: Correio da Manhã (Portugal)
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