Não foram apenas momentos de desespero, mas horas que se seguiram de forma dramática, desde que o padre Adelir de Carli subiu e não demorou muito a dar o alerta de que estava sem rumo entre as nuvens.
No domingo chuvoso, os fiéis foram chegando aos poucos para a missa especial. “Eu vim pelos dois”, diz um homem. “Acho bonito” diz uma senhora.
“Não é teimosia voar com essa chuva”, pergunta a repórter ao padre.
“Não, porque eu vou subir acima dela. Então, na verdade, o que nos desgasta é a questão da montagem disso aqui, depois, dez minutos eu ultrapasso ela, e depois vou voar sempre em tempo bom”, declarou o padre Adelir de Carli.
O desaparecimento deixou a comunidade da Paróquia São Cristóvão em permanente vigília. O vôo com os balões era para divulgar as ações da Pastoral Rodoviária. Padre Adelir queria ajuda para acabar de construir um centro de atendimento ao caminhoneiro.
“Era um baita amigo que a gente tinha e não está aqui conosco agora”, lamentou o caminhoneiro Nilson Carlos Aimi.
Uma vida sem luxo – em acomodações modestas, tinha apenas um cantinho para rezar. Na casa simples também funciona a sede da pastoral.
“Ele tinha a roupa de vestir só e pronto. Saía até com sapato furado, não estava nem aí. Saía, passava um pano no sapato, só tinha um mesmo”, contou a assistente do padre Cláudia Assunção.
Foi uma semana de procura pelo ar, pelo mar e por terra. A Marinha e a Aeronáutica já encerraram o trabalho de resgate, mas os bombeiros voluntários do balneário de Penha, em Santa Catarina, vão continuar por tempo indeterminado.
No mar, o trabalho dos bombeiros voluntários tem sido buscar até onde a vista alcança algum vestígio do padre Adelir.
Em Ampere, sudoeste do Paraná, onde o padre fez o primeiro vôo com os balões em janeiro, a família vive dias de angústia à espera da volta dele.
“Essa fé que nós temos é de que nós vamos encontrá-lo. Que seja feita a vontade de Deus. Ele era um servo de deus, ele estava aqui para evangelizar, para fazer as vontades de Deus”, disse Elizabete de Carli, prima do padre Adelir.
Padre Adelir não tinha habilitação para voar. Antes de terminar o curso de pára-pente, ele foi desligado pelo instrutor.
“Dois ou três meses que ele participou do curso comigo, ele teve uma freqüência muito baixa no curso, e com essa freqüência as coisas começam a se tornar um pouco complicadas, as coisas começam a se tornar um pouco perigosas. Então, aconselhar que ele se desligasse do curso, que ele procurasse um outro tipo de esporte”, lembra o instrutor de vôo Márcio André Lichtnow.
O piloto de helicóptero Cláudio Dietter, com oito anos de experiência, tentou fazer o padre desistir.
“Uma hora antes do vôo, nós estávamos no local, como o tempo estava muito fechado, eu falei: ‘Padre, vamos esperar para ver se o tempo melhora. Eu acho que não vai melhorar’. Aconselhei ele a mudar o dia, ele achou que não”, contou o piloto de helicóptero Cláudio Dietter.
Alçado por mil balões, ele subiu a uma velocidade de quase seis metros por segundo.
“No início do vôo, às 13h, as condições de vento eram aparentemente favoráveis: ventos fracos, soprando do oceano para o continente, portanto uma situação adequada para o vôo planejado”, explicou o meteorologista Pedro Leite da Silva Dias.
No primeiro contato com terra, 17 minutos depois da decolagem, padre Adelir disse estar a 5,8 mil metros de altitude. Ele levava um variômetro, instrumento capaz de dar este tipo de informação.
“A partir do momento que ele detectou que o deslocamento do balão estava no sentido errado, em direção ao mar, teria que ter sido tomada uma decisão drástica de rompimento das cordas que seguravam os balões para poder descer”, acrescentou o meteorologista Pedro Leite da Silva Dias.
“A diminuição da capacidade de tomar decisões, a capacidade de pensar, de raciocinar, um dos efeitos mais óbvios da altitude”, destacou o professor de fisiologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Antônio Cláudio Nóbrega.
“Graças a Deus estou bem de saúde, consciência tranqüila. Está muito frio aqui em cima, mas está tudo bem”, disse o padre Adelir.
“A temperatura pode chegar em altitudes de cinco mil a seis mil metros. Naturalmente, dependendo do vento, ela pode chegar a -10ºC, -20ºC”, continuou o professor de fisiologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Antônio Cláudio Nóbrega.
O padre foi alertado dos riscos que sua viagem poderia causar também a outras pessoas.
Piloto: Padre, o senhor vai informar o Departamento de Aviação Civil, o controle Curitiba, que o senhor vai voar?
Padre Adelir: Não, eu vou informar.
Piloto: Informe, porque como o senhor está com balões de borracha, o senhor não vai ser pego no radar e isso é perigoso, porque no local que o senhor vai estar voando tem tráfego de aeronaves pra pousar no Afonso Pena, em Curitiba. Então, isso é perigoso, uma aeronave pode colidir com o senhor e o senhor vai ter problemas sérios com isso, vai morrer.
A Agência Nacional de Aviação Civil afirma que o padre teve seu pedido de vôo negado.
“Eu preciso entrar em contato para que eles me ensinem a operar esse GPS aqui, para dar as coordenadas de latitude e longitude, que é a única forma que alguém por terra pode saber onde eu estou”, pediu o padre Adelir.
“Tudo isso é muito primário, tudo isso se aprende num curso, no nosso caso, de balonismo. Quando o novo piloto pretende ser balonista, ele vai ter inclusive aulas sobre GPS”, informou o vice-presidente da Confederação Brasileira de Balonismo, Leonel Brites.
Além do localizador, que não conseguia usar, padre Adelir carregava um pára-quedas de emergência, um celular operado via satélite e outro convencional.
“O celular via satélite está saindo de área e, além do mais, a bateria está enfraquecendo, está OK? A bateria do celular está enfraquecendo, do via satélite, está OK”, falou o padre Adelir.
A empresa que alugou o celular para o padre diz que a bateria deste tipo de aparelho tem autonomia para três horas e meia de conversação. A intenção do padre era permanecer voando por 20 horas.
“Mas ele sempre foi uma pessoa muito determinada e fazia aquilo que ele acreditava. Então, acredito que isso também tenha influenciado e o levou a tomar essa atitude”, acredita o bispo de Paranaguá, Dom João Alves dos Santos.
Em pouco tempo, padre Adelir começou a se afastar do seu objetivo: em vez de voar em direção a oeste, tomou o caminho do oceano.
“A partir de uns 2,5 mil, 3 mil metros de altura. Tinha ventos da ordem de 30, 40, 50 quilômetros por hora soprando do continente para o mar, e isso acabou criando o grande problema”, aponta o meteorologista Pedro Leite da Silva Dias.
Às 20h45, veio o último contato telefônico do padre. Ele caía no mar, a cerca de 40 quilômetros da costa catarinense. A temperatura da água era de 20ºC, e as ondas chegavam a sete metros de altura.
“Se o senhor pousar na água, esse frio, não vai agüentar, mas tenta se manter voando”, disse, ao padre, o capitão do Grupo de Rádio-Patrulhamento Aéreo da Polícia Militar de Santa Catarina, Nelson Coelho.
No mar, sua roupa de alumínio não teria grande utilidade.
“O calor do seu corpo aquece o alumínio que devolve o calor para você. Porém, quando você cai no mar, com esse papel-alumínio, o que vai acontecer? A roupa vai esfriar ainda mais. Então, uma possibilidade muito grande de que ele tenha tido uma hipotermia muito forte também por causa da roupa de alumínio”, explicou o vice-presidente da Confederação Brasileira de Balonismo, Leonel Brites.
“Quem acredita em mim fará as obras que eu faço. E fará ainda maiores do que estas, pois eu vou para o Pai. Palavra da salvação” - padre Adelir de Carli.
Fonte: Fantástico (TV Globo)
No domingo chuvoso, os fiéis foram chegando aos poucos para a missa especial. “Eu vim pelos dois”, diz um homem. “Acho bonito” diz uma senhora.
“Não é teimosia voar com essa chuva”, pergunta a repórter ao padre.
“Não, porque eu vou subir acima dela. Então, na verdade, o que nos desgasta é a questão da montagem disso aqui, depois, dez minutos eu ultrapasso ela, e depois vou voar sempre em tempo bom”, declarou o padre Adelir de Carli.
O desaparecimento deixou a comunidade da Paróquia São Cristóvão em permanente vigília. O vôo com os balões era para divulgar as ações da Pastoral Rodoviária. Padre Adelir queria ajuda para acabar de construir um centro de atendimento ao caminhoneiro.
“Era um baita amigo que a gente tinha e não está aqui conosco agora”, lamentou o caminhoneiro Nilson Carlos Aimi.
Uma vida sem luxo – em acomodações modestas, tinha apenas um cantinho para rezar. Na casa simples também funciona a sede da pastoral.
“Ele tinha a roupa de vestir só e pronto. Saía até com sapato furado, não estava nem aí. Saía, passava um pano no sapato, só tinha um mesmo”, contou a assistente do padre Cláudia Assunção.
Foi uma semana de procura pelo ar, pelo mar e por terra. A Marinha e a Aeronáutica já encerraram o trabalho de resgate, mas os bombeiros voluntários do balneário de Penha, em Santa Catarina, vão continuar por tempo indeterminado.
No mar, o trabalho dos bombeiros voluntários tem sido buscar até onde a vista alcança algum vestígio do padre Adelir.
Em Ampere, sudoeste do Paraná, onde o padre fez o primeiro vôo com os balões em janeiro, a família vive dias de angústia à espera da volta dele.
“Essa fé que nós temos é de que nós vamos encontrá-lo. Que seja feita a vontade de Deus. Ele era um servo de deus, ele estava aqui para evangelizar, para fazer as vontades de Deus”, disse Elizabete de Carli, prima do padre Adelir.
Padre Adelir não tinha habilitação para voar. Antes de terminar o curso de pára-pente, ele foi desligado pelo instrutor.
“Dois ou três meses que ele participou do curso comigo, ele teve uma freqüência muito baixa no curso, e com essa freqüência as coisas começam a se tornar um pouco complicadas, as coisas começam a se tornar um pouco perigosas. Então, aconselhar que ele se desligasse do curso, que ele procurasse um outro tipo de esporte”, lembra o instrutor de vôo Márcio André Lichtnow.
O piloto de helicóptero Cláudio Dietter, com oito anos de experiência, tentou fazer o padre desistir.
“Uma hora antes do vôo, nós estávamos no local, como o tempo estava muito fechado, eu falei: ‘Padre, vamos esperar para ver se o tempo melhora. Eu acho que não vai melhorar’. Aconselhei ele a mudar o dia, ele achou que não”, contou o piloto de helicóptero Cláudio Dietter.
Alçado por mil balões, ele subiu a uma velocidade de quase seis metros por segundo.
“No início do vôo, às 13h, as condições de vento eram aparentemente favoráveis: ventos fracos, soprando do oceano para o continente, portanto uma situação adequada para o vôo planejado”, explicou o meteorologista Pedro Leite da Silva Dias.
No primeiro contato com terra, 17 minutos depois da decolagem, padre Adelir disse estar a 5,8 mil metros de altitude. Ele levava um variômetro, instrumento capaz de dar este tipo de informação.
“A partir do momento que ele detectou que o deslocamento do balão estava no sentido errado, em direção ao mar, teria que ter sido tomada uma decisão drástica de rompimento das cordas que seguravam os balões para poder descer”, acrescentou o meteorologista Pedro Leite da Silva Dias.
“A diminuição da capacidade de tomar decisões, a capacidade de pensar, de raciocinar, um dos efeitos mais óbvios da altitude”, destacou o professor de fisiologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Antônio Cláudio Nóbrega.
“Graças a Deus estou bem de saúde, consciência tranqüila. Está muito frio aqui em cima, mas está tudo bem”, disse o padre Adelir.
“A temperatura pode chegar em altitudes de cinco mil a seis mil metros. Naturalmente, dependendo do vento, ela pode chegar a -10ºC, -20ºC”, continuou o professor de fisiologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Antônio Cláudio Nóbrega.
O padre foi alertado dos riscos que sua viagem poderia causar também a outras pessoas.
Piloto: Padre, o senhor vai informar o Departamento de Aviação Civil, o controle Curitiba, que o senhor vai voar?
Padre Adelir: Não, eu vou informar.
Piloto: Informe, porque como o senhor está com balões de borracha, o senhor não vai ser pego no radar e isso é perigoso, porque no local que o senhor vai estar voando tem tráfego de aeronaves pra pousar no Afonso Pena, em Curitiba. Então, isso é perigoso, uma aeronave pode colidir com o senhor e o senhor vai ter problemas sérios com isso, vai morrer.
A Agência Nacional de Aviação Civil afirma que o padre teve seu pedido de vôo negado.
“Eu preciso entrar em contato para que eles me ensinem a operar esse GPS aqui, para dar as coordenadas de latitude e longitude, que é a única forma que alguém por terra pode saber onde eu estou”, pediu o padre Adelir.
“Tudo isso é muito primário, tudo isso se aprende num curso, no nosso caso, de balonismo. Quando o novo piloto pretende ser balonista, ele vai ter inclusive aulas sobre GPS”, informou o vice-presidente da Confederação Brasileira de Balonismo, Leonel Brites.
Além do localizador, que não conseguia usar, padre Adelir carregava um pára-quedas de emergência, um celular operado via satélite e outro convencional.
“O celular via satélite está saindo de área e, além do mais, a bateria está enfraquecendo, está OK? A bateria do celular está enfraquecendo, do via satélite, está OK”, falou o padre Adelir.
A empresa que alugou o celular para o padre diz que a bateria deste tipo de aparelho tem autonomia para três horas e meia de conversação. A intenção do padre era permanecer voando por 20 horas.
“Mas ele sempre foi uma pessoa muito determinada e fazia aquilo que ele acreditava. Então, acredito que isso também tenha influenciado e o levou a tomar essa atitude”, acredita o bispo de Paranaguá, Dom João Alves dos Santos.
Em pouco tempo, padre Adelir começou a se afastar do seu objetivo: em vez de voar em direção a oeste, tomou o caminho do oceano.
“A partir de uns 2,5 mil, 3 mil metros de altura. Tinha ventos da ordem de 30, 40, 50 quilômetros por hora soprando do continente para o mar, e isso acabou criando o grande problema”, aponta o meteorologista Pedro Leite da Silva Dias.
Às 20h45, veio o último contato telefônico do padre. Ele caía no mar, a cerca de 40 quilômetros da costa catarinense. A temperatura da água era de 20ºC, e as ondas chegavam a sete metros de altura.
“Se o senhor pousar na água, esse frio, não vai agüentar, mas tenta se manter voando”, disse, ao padre, o capitão do Grupo de Rádio-Patrulhamento Aéreo da Polícia Militar de Santa Catarina, Nelson Coelho.
No mar, sua roupa de alumínio não teria grande utilidade.
“O calor do seu corpo aquece o alumínio que devolve o calor para você. Porém, quando você cai no mar, com esse papel-alumínio, o que vai acontecer? A roupa vai esfriar ainda mais. Então, uma possibilidade muito grande de que ele tenha tido uma hipotermia muito forte também por causa da roupa de alumínio”, explicou o vice-presidente da Confederação Brasileira de Balonismo, Leonel Brites.
“Quem acredita em mim fará as obras que eu faço. E fará ainda maiores do que estas, pois eu vou para o Pai. Palavra da salvação” - padre Adelir de Carli.
Fonte: Fantástico (TV Globo)
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