Especialistas divergem, mas alguns estudos apontam para o aumento no risco de alguns tipos de cânceres (Imagem: dima_sidelnikov/Getty Images/iStockphoto) |
Quase o tempo todo se ouve que, em terra, é preciso cuidado com a exposição à radiação solar, especialmente entre 10h e 16h, certo? Com menos frequência, mas provavelmente, você também já deve ter sido orientado sobre realizar exames que emitem radiação (como raio-X e tomografia) somente com real necessidade.
Mas e quanto a fazer viagens de avião longas e com muita frequência? O que muita gente não faz ideia é que nesse tipo de deslocamento o organismo humano igualmente fica suscetível aos riscos da radiação, no caso a ionizante. Ela pode causar danos de curto a longo prazo, desde catarata a diferentes tipos de câncer.
A diferença é que, no avião, a absorção dessa radiação ocorre pela aproximação dele com o espaço. Quanto mais perto e por tempo prolongado, maiores são os níveis recebidos. Passageiros estão sujeitos, mas para pilotos e tripulantes pode ser mais expressivo. Eles só perdem para astronautas fora da atmosfera da Terra.
Quanto de radiação um voo oferece?
A taxa de radiação ionizante na altitude típica de voo das atuais aeronaves comerciais (35 mil pés) é de cerca de 0,003 milisieverts por hora. Normalmente, passageiros são expostos entre 0,001-0,003 mSv e 0,004-0,005 mSv de radiação cósmica por hora durante voos de curta e longa duração, respectivamente.
Um milisievert ou mSv é uma unidade de medida de radiação que pode ser usada para estimar o risco de câncer. "Durante o ano um ser humano pode acumular até 3 mSv de radiação. Acima de 100 mSv em 5 anos ou mais de 50msv em 1 ano, o risco de leucemia aumenta de forma perceptível", diz Vivian Milani, radiologista da Fidi (Fundação Instituto de Pesquisa e Estudo de Diagnóstico por Imagem).
Segundo a médica, citando um estudo, a radiação cósmica não seria responsável por aumentar a incidência de cânceres. De acordo com esse argumento, para haver risco, a pessoa teria que bater um super-recorde de voo. "Em resumo, estima-se que uma pessoa, andando normalmente na superfície da terra, acaba absorvendo 3 mSv, podendo variar de 1-5 mSv", acrescenta Milani.
Polêmico, assunto divide opiniões
Daniel Gimenes, oncologista do Centro Paulista de Oncologia e do Grupo Oncoclínicas (SP) pensa diferente. Para ele, uma exposição muito longa à radiação cósmica pode, sim, aumentar o risco de câncer. "Foi observado em estudo de 2015 um aumento do risco de melanoma e, em outro estudo, de 2018, em comissários com mais de 20 anos de trabalho (80% mulheres), o dobro de risco para câncer de mama."
Em 2017, uma pesquisa da Universidade do Colorado (EUA), alertou que a exposição à radiação em voo equivaleria a se fazer um exame de raio-X do tórax e que viagens muito frequentes, ainda mais sobre os polos e durante tempestades solares, criam uma "chuva de partículas" com alta energia capaz de alterar o DNA e predispor surgimento de câncer e malformações, sobretudo em embriões/fetos.
"Um voo de 7 horas corresponde a 20% da dose de um raio-X de tórax, o que é muito baixo, não é motivo de preocupação. Mas a radiação ionizante deve ser sempre tratada com seriedade pelo seu efeito cumulativo. Em terra, por ano, somos expostos à radiação de até 30 raios-X de tórax", informa José Rocha Filho, coordenador médico dos serviços de radiologia da Regional Bahia Rede D'Or.
Existe algum modo de se proteger?
Como há muito debate sobre o tema e estudos que volta e meia são revisados, até porque o universo e o clima do planeta estão em constante transformação (o buraco na camada de ozônio, por exemplo, aumenta a incidência de radiação), não há muito o que se possa fazer, por ora.
Não existe uma recomendação formal de nenhuma entidade científica respeitável para que as pessoas voem menos.
"Mas ter essa exposição na altura em que as aeronaves praticam as viagens realmente é um problema", diz o oncologista Gimenes, sugerindo ainda eventuais mudanças na fuselagem dos aviões e estratégias para proteger, sobretudo, pilotos e comissários, que são expostos de forma longa e permanente à radiação.
Para a radiologista Vivian Milani, diminuir o nível de exposição em terra já é um começo. "É importante realizar exames que emitem radiação (raio-X, mamografia e tomografia computadorizada) somente com indicação médica, lembrando que muitos procedimentos podem ser feitos com colete de chumbo para proteger as partes do corpo que não serão avaliadas", complementa.
Mesmo voos noturnos são submetidos a esse tipo de radiação, informa José Rocha Filho. Para ele, enquanto nada pode ser feito, o mais importante é lembrar o que as viagens de avião nos possibilitam: "Deslocamentos rápidos, encontros com entes queridos distantes e conhecer lugares novos e diferentes", conclui.
Via Marcelo Testoni (Viva Bem/UOL)
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