sábado, 17 de agosto de 2024

O que um piloto de avião deve fazer ao se deparar com um OVNI no espaço aéreo brasileiro? Entenda

Apenas no ano de 2023, mais de 30 casos foram relatados por pilotos à FAB, segundo documentos revelados pelo Arquivo Nacional.

Ovni avistado em São Sebastião (SP) em 1956 (Foto: Arquivo Nacional)
A presença de Objetos Voadores Não Identificados (OVNIs) já foi relatada diversas vezes por profissionais que atuam no espaço aéreo brasileiro. Os dados são compilados pela Força Aérea Brasileira (FAB). Somente em 2023, cerca de 30 notificações foram realizadas.

Recentemente, o Arquivo Nacional divulgou novos relatos feitos por pilotos brasileiros aos Centros Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindactas) a respeito de avistamento de OVNIs. Embora os casos sejam catalogados, a FAB “não realiza estudos e análises acerca do tema”, diz comunicado da instituição.

Mas, afinal, qual é o procedimento que deve ser adotado por profissionais que atuam em aeronaves? A CNN conversou com especialistas e entidades do setor aéreo. Saiba abaixo quais são os procedimentos que devem ser adotados.

Regras estabelecidas pela FAB


De acordo com a FAB, cabe ao Comando de Operações Aeroespaciais (COMAE) ser o responsável por reportar ao Arquivo Nacional, qualquer avistamento de OVINIs. A partir disso, “o Comando da Aeronáutica recebe, registra, cataloga e encaminha as ocorrências para aquele órgão, onde serão disponibilizadas para consulta” diz a instituição.

A regra é estabelecida pela Portaria do Comando da Aeronáutica nº 551/GC3, de 9 de agosto de 2010, que trata sobre o envio dos relatos de fenômenos aéreos. Os relatos são feitos em formulário próprio por usuários dos serviços de controle de tráfego aéreo e encaminhados ao Centro de Documentação e Histórico da Aeronáutica (CENDOC), que notifica o Arquivo Nacional.

Procedimentos padrão


O especialista em segurança de voo, Maurício Pontes, afirma que não há procedimentos padrão da aviação civil para lidar com objetos voadores não identificados.

“Existe um sistema de reportes mandatórios sobre possíveis ameaças ao tráfego aéreo, como pássaros, balões, etc.”, diz Pontes, que é porta-voz da Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves (AOPA Brasil).

Ele explica que não existe previsão de comunicação. Se um aviador julgar algo que chame sua atenção a ponto de comunicar a um órgão de controle, ele descreverá.

“Isso se aplica a qualquer coisa, como um acidente que presencie em voo, por exemplo. Não existe nada relacionado especificamente para fenômenos não identificados”, completa Pontes.

Para Enio Beal Júnior, que atua como piloto há quase 40 anos, essa comunicação é feita pelas mesmas razões daquelas usadas para interceptação de aeronaves “convencionais”.

“Sempre que houver uma aeronave ou objeto que o piloto considere próximo ou em trajetória que possa se tornar conflitante, ele deve questionar os órgãos de controle”, revela Beal.

Os pilotos não são treinados para lidar com esse tipo de situação. O piloto explica que atuando por mais de 20 anos na FAB, nunca soube de um procedimento específico.

“Fui piloto de Caça, tendo voado por 11 anos nessa aviação que tem registros de tentativas de interceptação de OVNI. Não havia nenhum treinamento específico para esses objetos”, pontua Beal.

O piloto diz que o avistamento de OVNIs, por si só, não representa problemas de segurança aos pilotos. Ele comenta a possibilidade de forma cômica, revelando que nunca viu tais objetos.

“Nunca vi, em quase 40 anos de profissão (…) O pior que poderia ocorrer é o piloto se distrair. Ou então se um “marciano kamikaze” resolvesse jogar sua nave para cima de algum avião, o que, até onde sei, nunca ocorreu”, analisa Enio.

Para o porta-voz da AOPA Brasil, os treinamentos dos pilotos devem focar outras questões.

“Há coisas muito mais importantes para ocupar a grade de treinamento extenso na aviação”, complementa Pontes.

Registro de ocorrências


Eles explicam que não existe nenhuma documentação específica para relatar um encontro com um OVNI, não havendo um “padrão” adotado por pilotos, e que toda documentação depende do fenômeno encontrado.

“Em princípio não há como discriminar um protocolo para um evento tão raro”, disse Pontes.

Para o ex-piloto da FAB, o principal desafio ao relatar a presença de um OVNI é descrever com clareza a posição, velocidade, direção de movimento etc. Por se tratar de objetos não-convencionais, seria mais difícil do que se tratando de um avião, por exemplo.

“No caso de aviões, uma interceptação permite que se diga até a matrícula, pois o caçador se posiciona embaixo da aeronave interceptada. Pode dizer também rota, altitude, velocidade etc, coisas impossíveis no caso de OVNI”, disse o piloto que, atualmente, atende voos executivos.

Em nota, a FAB informa que “todos os documentos, vídeos, fotografias, relatos, entre outros, disponíveis, no âmbito do Comando da Aeronáutica, sobre fenômenos aéreos não identificados, no período de 1952 a 2023, já foram transferidos para o Arquivo Nacional, onde são de domínio público”.

Assunto não merece aprofundamento, diz especialista


Para o especialista Mauricio Pontes, o fato da FAB não promover estudos sobre o assunto, não torna o assunto mais importante, não havendo necessidade de maiores evoluções.

”A questão é: precisamos deste aprofundamento? Normalmente esses fenômenos são avaliados quando realmente parecem ter alguma legitimidade”, diz Pontes.

Para o ex-piloto da FAB, na reserva desde 2013, não há nenhuma estigma ou tabu entre os profissionais do setor.

“Parece-me que é mais uma aura de mistério que criam em torno do assunto, do que qualquer outra coisa. Não existe, nem mesmo no meio militar, qualquer proibição de se falar sobre o tema”, relata Enio.

Via Beto Souzada (CNN)

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