Casal, três filhas e cunhada moram há dois meses no Tom Jobim.
Sem dinheiro para pagar as passgens de volta para o Panamá, país onde viveriam há três anos, o casal de argentinos, suas três filhas pequenas e a cunhada, aceitariam, de bom grado, uma "carona aréa" para Boa Vista, em Roraima.
Segundo a mãe Liliana Sava, assim eles ficariam próximos ao seu destino, e deixariam o saguão do aeroporto do Galeão, no Rio, onde vivem há 36 dias. O grupo conta com uma rede de solidariedade que se formou entre os funcionários, policiais e passageiros. Eles se sensibilizaram com a simpatia das três crianças.
Liliana explicou por que não aceitou a ajuda do Consulado da Argentina no Rio para regressar a Buenos Aires:
“Fomos a Buenos Aires visitar meu pai, que está muito doente. Por causa da doença do meu pai, minha mãe teve de vender tudo. Eles vivem num quarto e sala. Não há espaço para seis pessoas numa casa com uma pessoa que não reconhece ninguém. Minha mãe está muito idosa e não quero que ela tenha mais preocupações”, disse Liliana Sava, mãe das crianças.
Problemas no Panamá
Eles não receberam qualquer oferta de ajuda do consulado do Panamá no Rio. Liliana não sabe dizer por que, mas arrisca uma explicação: a família não tratou do visto de permanência no país da América Central.
“Nem sei se quero mais a cidadania. Queria ter a residência”, disse Liliana.
Ela afirma que não quer ajuda de ninguém e que só pretende obter as passagens para as seis pessoas – que custa cerca de R$ 8 mil – para voltar ao Panamá. E acredita que, se conseguisse ir até Boa Vista, em Roraima, teria mais facilidade para voltar para casa.
“Iria contatar um amigo que vive na Venezuela. Ele nos pegaria e levaria para Caracas. De lá, a passagem para chegar ao Panamá é mais barata. Lá, com R$ 2 a gente consegue comer alguma coisa na rua, aqui não. Tudo aqui é muito caro”, disse Liliana, que vem sobrevivendo com a família graças à generosidade das pessoas que trabalham no aeroporto.
Entenda o caso
A família veio de Buenos Aires para o Rio de ônibus. Uma amiga deles chegou a reservar as passagens aéreas do Brasil para o Panamá, com data de dia 6 de junho. Mas o grupo só pôde chegar ao Rio no dia 11 de junho.
"Nossa amiga não tinha comprado as passagens e, agora, não tem mais dinheiro. A crise está afetando todo mundo ", lamentou Liliana.
Correio Aéreo Nacional
Liliana contou ainda que uma outra opção partiria da prefeitura do Rio, através da Secretaria municipal de Assistência Social, que está tentando uma autorização para que a família possa viajar para o Panamá num avião do Correio Aéreo Nacional.
A prefeitura levou a família para um abrigo, mas eles acharam melhor voltar ao Tom Jobim. Segundo Liliana, o ambiente não era o mais apropriado para as três filhas.
Rede de solidariedade
O caso criou uma rede de solidariedade entre os funcionários das lojas do aeroporto. Desde que percebeu que aquelas seis pessoas estavam na área de restaurantes do Terminal 1 e que não embarcavam nunca, a cabeleireira Cláudia Cristina Machado procurou ajudá-los.
Cláudia disse que até hoje perde noites de sono pensando no desconforto das meninas Elizabeth, de 6 anos, Bianca, de 5 anos, e Joana, de 2 anos, que dormem nos bancos da lanchonete.
“Apesar de estarem vivendo aqui, as crianças são muito carinhosas, simpáticas e educadas. Todo mundo se comoveu com a história deles. Passei a conversar com a mãe e descobri que ela dava banho nas meninas no berçário e lavava a roupa delas à noite, no banheiro e as colocava para secar nos carrinhos de bagagem”, contou Cláudia.
Aos poucos, os funcionários passaram a oferecer comida aos argentinos. Quando souberam que as bagagens da família estavam presas no maleiro, fizeram uma “vaquinha” para liberar o armário.
Festa de aniversário na aeroporto
Até festinha de aniversário já teve no aeroporto, na última segunda-feira (13), quando a menina Bianca completou 5 anos. A manicure Ivonete Pereira contou que os funcionários trouxeram balões de gás, brinquedos e bolo para a menina.
Sensibilizado com a situação da família argentina, o PM José Walber Francisco dos Santos, desde que soube da situação, está fazendo de tudo para ajudá-los.
“Não temos como abrigar seis pessoas de uma vez. Mas juntamos toda a família, compramos frutas e fraldas para as crianças. Agora, estou preocupada porque as meninas estão começando a ficar resfriadas. Essa situação é toda muito triste”, disse a irmã do PM Walber, a dona de casa Dínis Fath Maria dos Santos.
Fonte: Alba Valéria Mendonça (G1)