O sargento mergulhador da Marinha do Brasil, Antônio Quirino, já estava largando o serviço na Base Naval de Val-de-Cans, em Belém, quando recebeu um telefonema. O chamado para ajudar no resgate de uma aeronave que teria caído dentro da área de manobras da base naval, na Baía do Guajará, chegou a ser posto em dúvida. Porém, logo que chegou à orla, o sargento teve a confirmação que precisava. “Quando eu cheguei aqui já ouvi o grito: ‘Socorro! Socorro!’. Quando olhei, já vi a cauda da aeronave”.
A aeronave citada pelo sargento é um bimotor modelo King Air, que caiu na noite da última quarta-feira, a cerca de 5,5 quilômetros da cabeceira de uma das pistas do Aeroporto Internacional de Val-de-Cans. Vindo do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, o bimotor trazia dois passageiros, além do piloto e copiloto, que sobreviveram ao acidente após serem resgatados por militares da Marinha que estavam trabalhando em navios próximos ao local da queda.
Ajudados por um grupo de aproximadamente 20 pessoas, o médico Antônio Leal, o enfermeiro Mário Neto o piloto e copiloto da aeronave, Cássio Silva e Alberto de Oliveira, saíram do local caminhando, após nadar enfrentando a grande correnteza da baía.
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu 192) foi chamado, mas segundo informou a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma), as vítimas, que seriam profissionais da empresa Unimed, recusaram o procedimento de rotina.
“Quem estava mais machucado era o piloto, que estava com um corte no nariz e se queixando de dores no corpo. Os outros estavam bastante cansados porque a correnteza era muito grande”, lembrou Quirino. “A aeronave passou muito próximo dos navios e quem estava de serviço na hora, viu tudo”.
Os mesmos navios que ajudaram no salvamento dos passageiros ainda se encontravam no local na manhã de ontem. Era possível ver duas boias amarelas que demarcavam a posição do avião que, pela altura da maré, não podia ser visto. “As boias estão amarradas no leme superior da aeronave (parte traseira)”, informou o mergulhador do Navio Patrulha Naval do Norte, Abel Rodrigues, responsável por amarrar os equipamentos logo no início da manhã.
Já por volta de 11h, um bote com dois mergulhadores transitava pelo local. De acordo com o comandante do Comando de Patrulha Naval do Norte, Mário Simões, os mergulhadores tentavam amarrar o avião para que não fosse levado pela correnteza para debaixo dos navios. “A aeronave está se movendo com as marés e está muito próxima da bacia de manobras, oferecendo risco para esses navios”, disse. “Vamos tentar amarrar a aeronave com um cabo para ver se, com o movimento das marés, ela não vem para mais próximo da terra”. Mas foi a correnteza que atrapalhou a tentativa de amarrar o bimotor durante a manhã.
Investigação
Responsáveis pela investigação das possíveis causas do acidente, integrantes do Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa) se reuniram pela manhã na Base Naval de Val-de-Cans e ouviram os mergulhadores que participaram do resgate dos sobreviventes. De acordo com o major Renato Rodrigues, as investigações não têm nenhuma relação judicial com as causas do acidente, e sim o objetivo de prevenir que novos casos aconteçam. “O momento é muito ‘cru’. Estamos coletando informações para saber o que teria acontecido. Qualquer informação sobre a causa é especulação”, informou. “Vamos verificar se houve pane na aeronave, se foi erro do piloto, se foi erro de fabricação da aeronave... Com isso temos condições de prevenir que acidentes possam acontecer”.
Avião serve à Sespa como UTI aérea
O avião bimotor que caiu na noite de ontem e submergiu na Baía de Guajará, pertence à Norte Jet Táxi Aéreo, que presta serviços de UTI Aérea para a Secretaria de Estado de Saúde (Sespa), no transporte de pacientes para outros Estados. Ilesos, os ocupantes da aeronave usaram os assentos flutuantes para nadar até a chegada do resgate, por militares da Base Naval, perto do local do acidente. O DIÁRIO não conseguiu contatar Antônio Leal, dono da empresa Norte Jet Táxi Aéreo, para saber as possíveis causas do acidente, assim como as condições da aeronave para a realização do voo.
Segundo o coordenador estadual de Urgência e Emergência da Sespa, Paulo Campos, e o secretário de Saúde, Hélio Franco, que falaram ao DIÁRIO por telefone, o avião monomotor contratado em licitação há mais de um ano para servir de UTI Aérea levou de Santarém, para tratamento fisioterápico em São Paulo, um paciente tetraplégico. No retorno a Val-de-Cans, onde a Norte Jet ocupa um hangar, ocorreu “um pouso forçado”. O indício até agora mais provável é que, sem força no motor do avião para chegar à pista, o piloto teria optado pelo pouso forçado na baía.
Segundo Hélio Franco, o paciente foi internado no Hospital Regional de Santarém depois de ficar tetraplégico em um mergulho em água rasa em rio da cidade. “Ele sofreu secção de medula”, afirmou Franco. O transporte do paciente a São Paulo, segundo o secretário, foi pedido pelo Ministério da Saúde para atender a familiares que requisitaram ao ministério ajuda de UTI aérea para o tratamento na capital paulista.
Entenda a responsabilidade
De acordo com o major do Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa), Renato Rodrigues, a responsabilidade de retirada do bimotor particular da Baía do Guajará é do proprietário da aeronave.
Segundo Mário Simões, comandante da Patrulha Naval, as operações de retirada do bimotor foram suspensas na tarde de ontem e serão retomadas na manhã hoje. A expectativa é que a apuração das causas do acidente seja facilitada com a aeronave fora da baía.
Fonte: Diário do Pará