domingo, 11 de agosto de 2024

Acidente em Vinhedo: o que explica queda de avião em espiral?


Uma principais hipóteses para a causa do acidente com o avião de médio porte que caiu nesta sexta-feira (9), em Vinhedo, no interior paulista, é a formação de gelo nas asas da aeronave, que teria provocado uma "queda em espiral", segundo um especialista em segurança aérea ouvido pelo UOL.

Entre os 61 ocupantes do avião estavam 57 passageiros e quatro tripulantes, informou a Voepass, responsável pelo voo. Todos morreram na queda.

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Hipótese da queda ter sido causada pela formação de gelo nas asas da aeronave ATR 72, da Voepass Linhas Aéreas, é "plausível". A análise é de Raul Marinho, piloto e presidente do BGAST (Grupo Brasileiro de Segurança da Aviação Geral).

"Existiam características de formação de gelo naquele momento em que o avião estava passando. Então, [a hipótese] é coerente. Olhando, à primeira vista, é bastante provável, inclusive", disse Raul Marinho, em entrevista ao UOL.

Condição atmosférica em que a água fica abaixo de 0ºC pode gerar a formação de gelo sobre a aeronave. "Porque, quando o líquido se choca com a asa, forma-se uma camada de gelo nela", explica Marinho.

Já o acúmulo de camadas de gelo sobre a aeronave pode mudar a curvatura das asas, "que é justamente o que possibilita a sustentação da aeronave", segue o piloto. "Se muda demais essa curvatura, a aeronave perde a sustentação e, nesses casos, "é como se ele deixasse de ser um avião e passasse a ser uma como uma pedra, que foi o que vimos hoje".

"Então, o que explica a queda do avião em espiral é justamente isso, a aeronave perde a sustentação e para de voar. Tanto é que ele não tinha nenhuma velocidade horizontal, só vertical. Por isso, ele ficou rodando no próprio eixo, até chegar no chão. Quando entra em um 'parafuso chato' [quando o avião cai sem nenhuma ou quase nenhuma velocidade horizontal], é praticamente impossível de sair", explicou Raul Marinho.

Vista aérea dos destroços de um avião que caiu com 61 pessoas a bordo em Vinhedo,
no estado de São Paulo (Imagem: Miguel Schincariol/AFP)

O que é o estol?


A "perda súbita de sustentação da aeronave" é chamada de estol, explica Marinho.

Para se sustentar, a asa do avião tem uma aerodinâmica que diferencia a velocidade do vento. Em poucas palavras, a asa tem uma curvatura na parte de cima, enquanto a de baixo é praticamente reta. Isso faz com que o ar que passa por cima da asa tenha uma velocidade maior do que o que está abaixo dela. Essa diferença de velocidade também gera uma diferença de pressão, que produz uma força para empurrar a asa para cima. Esse "empurrão" é o que gera a sustentação necessária para a aeronave decolar e se manter em voo.

Há várias outras situações em que um avião pode entrar em estol. Uma delas é ultrapassar o limite máximo de inclinação, impedindo que o ar circule sobre a parte de cima da asa. Assim, o ar tem contato somente na parte da frente e o arrasto exige uma força bem maior do que se a placa estivesse na posição horizontal. Além disso, a própria redução da velocidade de um avião também pode ser uma causa, já que o ar que passa pela asa não é suficiente para a sustentação.

Todo o avião comercial é preparado para enfrentar a situação, afirma Marinho, quando questionado se as aeronaves não deveriam estar preparadas para evitar a formação de gelo em suas asas.

"Esse é um tipo de problema muito comum, até trivial, eu diria. Então, todo o avião de transporte de passageiros tem esse tipo de mecanismo para lidar com formação de gelo, inclusive o ATR 72", disse Raul Marinho, piloto e presidente do BGAST.

Uma falha no mecanismo da aeronave da Voepass é "uma possibilidade", diz o piloto. "Mas também pode ter sido falha da tripulação, ou ocorrido outra coisa que a gente nem imagina", ressalta. E conclui: "Existem casos de acidentes aéreos que, na hora que você vai investigar, se encontra um fator totalmente fora da curva, que ninguém imaginou que seria aquilo, mas era. Então, só a investigação pode confirmar [a causa da queda]".

Via UOL

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